Presidente APE diz que João Ubaldo Ribeiro é autor de uma obra "muito diversa e rica"
Porto Canal / Agências
Lisboa, 19 jul (Lusa) -- João Ubaldo Ribeiro, que hoje morreu no Rio de Janeiro, aos 73 anos, é "um escritor inconfundível", autor de uma obra "muito diversa e rica", afirmou à Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes.
Ubaldo Ribeiro é "um escritor inconfundível; a obra que nos deixa, muito diversa e rica, passa a ser, a par das memórias pessoais de quantos o conheceram, a sua residência no futuro".
"Fomos amigos, recordo-o nos anos de Lisboa e na vasta gama dos encontros pelo mundo, da Bahia, a casa de Itaparica e o convívio de Jorge Amado, a Frankfurt, Paris, Braga ou Rio de Janeiro", recordou José Manuel Mendes.
"São os romances, as crónicas, os ensaios que, ao lado do homem João Ubaldo, mais me dizem neste instante, 'O Sorriso do Lagarto', 'Viva o Povo Brasileiro', 'Diário do Farol', 'A Casa dos Budas Ditosos', 'O Sargento Getúlio', alguns dos quais preciosos na sua singularidade, tão plena de personagens fortes e construção da linguagem, ora comprazendo-se no dizer popular, ora buscando os lugares inovadores que cruzavam, cruzam, cultura, poder contestatário, notações sociais e subjetivas, um humor não raro contagiante", afirmou.
José Manuel Mendes, que apresentou, em Portugal, várias obras do escritor brasileiro, realçou que Ubaldo Ribeiro "ganhou prémios de relevo", entre os quais o alemão Anna Seghers e o Camões.
O autor brasileiro "fez e estimou amigos, bebeu a vida nas boas e amargas fontes, não apenas as que protegem, bem perto dos locais da origem bahiana, os viandantes, saindo de bocas premonitórias e vãs".
"Não digo adeus a João Ubaldo. Sei que há muitos lugares comuns para a folia, a suave tristeza, a partilha da revolta e da esperança, a contraditoriedade. Mesmo que o momento vista as cores de um luto branco e intenso", rematou José Manuel Mendes.
Em Portugal estão editadas as obras "A Casa dos Budas Ditosos", "Viva o Povo Brasileiro", "Sargento Getúlio", "O Albatroz Azul", "Miséria e Grandeza do Amor de Benedita", "O Feitiço da Ilha Pavão" e "O Sorriso do Lagarto".
João Ubaldo Ribeiro foi o oitavo escritor brasileiro a ser distinguido com o Prémio Camões, que recebeu em 2008.
O escritor viveu em Lisboa em 1981, com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian e, ao longo da sua carreira, recebeu vários prémios e teve algumas obras adaptadas para televisão.
Iniciou a sua vida profissional como jornalista no Jornal da Bahia, em 1957, e no ano seguinte editou revistas e jornais culturais, tendo dado os primeiros passos na literatura com a participação na antologia Panorama do Conto Bahiano, organizada por Nelson de Araújo e Vasconcelos Maia, com "Lugar e Circunstância".
Em Portugal, colaborou com o antigo semanário "O Jornal" e com publicações que então faziam parte do grupo Projornal, como o Jornal de Letras Artes e Ideias (JL) e o antigo semanário Se7e.
Recebeu por duas vezes o Prémio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro: em 1972, de Melhor Autor, por "Sargento Getúlio", e, em 1984, de Melhor Romance, por "Viva o povo brasileiro".
João Ubaldo Ribeiro nasceu na ilha de Itaparica, no estado da Bahia, a 23 de janeiro de 1941.
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