Tribunal paquistanês indulta homem que matou a própria mulher
Porto Canal / Agências
Islamabad, 23 mai (Lusa) - Um tribunal paquistanês indultou um homem condenado à pena de morte por ter assassinado a sua mulher há dois anos, mas que entretanto recebeu o perdão da família da vítima, noticiou hoje a EFE.
O assassínio de Ghazala Javed, cantora paquistanesa, e do seu pai às mãos do agora indultado provocou indignação no Paquistão, já que a jovem artista se tinha convertido num símbolo da resistência das mulheres e da comunidade paschtun, que representa cerca de 16% da população total do país.
De acordo com a imprensa local, os advogados do homicida apresentaram na quinta-feira, no Alto Tribunal de Peshawar, no noroeste do país, documentos que provam que a mãe e irmãos da cantora assassinada chegaram a um acordo na base da lei islâmica do 'diyat'.
Segundo esta tradição, conhecida também como 'dinheiro de sangue', um criminoso pode ser indultado após ser condenado se a família da vítima chegar a um acordo para o perdoar, normalmente em troca de dinheiro.
A Comissão dos Direitos Humanos do Paquistão (HRCP) condenou recentemente esta prática, já que favorece a continuação dos chamados crimes de honra, que no ano passado custaram a vida a cerca de 900 mulheres paquistanesas, de acordo com dados oficiais.
A cantora de 24 anos foi baleada mortalmente junto ao seu pai por uns desconhecidos em junho de 2012, quando saía de um salão de beleza de Peshawar, e a Polícia suspeitou imediatamente do marido da cantora.
De acordo com os meios locais, o marido tentou forçar Ghazala Javed a deixar os palcos após o casamento, já que a atividade pública de uma mulher casada é contra a moral vigente em grande parte do Paquistão.
Perante esta tentativa, Ghazala Javed anunciou a intenção de se divorciar.
Um juiz do distrito de Swat, de onde Javed era natural, ditou a sentença de morte após se provar que o acusado tinha sido o autor dos disparos, que também feriram a irmã da artista.
Anteriormente, a cantora já tinha fugido de Swat para Peshawar por causa das ameaças dos islamitas radicais.
Antes da sua morte, Ghazala Javed tornou-se num fenómeno de popularidade através de várias aparições na televisão e da edição de uma dezena de álbuns na língua pashto, da sua etnia.
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