Angola registou 22 mortos e 41 feridos devido a minas no ano passado

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Porto Canal com Lusa

Luanda, 04 mar 2021 (Lusa) -- Angola registou 22 mortes e 41 feridos, devido a 30 acidentes com engenhos explosivos não detonados, no ano passado, de acordo com dados da Comissão Executiva de Desminagem.

A informação foi hoje apresentada pelo chefe-adjunto da Direção de Engenharia do Exército e chefe da Sala Operativa da Comissão Executiva de Desminagem, brigadeiro António Jorge, durante a reunião de coordenação do Setor de Ação contra Minas da Comissão Nacional Intersectorial de Desminagem e Assistência Humanitária (CNIDAH).

No processo de desminagem angolano intervêm operadores humanitários, representados pelas organizações não-governamentais Ajuda Popular da Noruega, The Hallo Trust, Mine Advisory Group e APOPO, públicos, integrados pela brigada da Casa de Segurança do Presidente da República, Forças Armadas Angolanas, Polícia de Guarda Fronteira e o Instituto Nacional de Desminagem (INAD), e 12 comerciais, quase inoperantes nos últimos tempos por falta de solicitação.

O relatório indica que, em 2020, foram desminados 14.164.890 metros quadrados de área, 400.783 quilómetros de estradas e 211.400 quilómetros de traçado de linha de transporte de energia elétrica de alta tensão, tendo sido detetadas, removidas e destruídas 551 minas antipessoal e 63 antitanque, 10.886 engenhos explosivos não detonados. Foram ainda recolhidos 451.416 metais.

No ano passado, foram sensibilizadas sobre o risco de minas 98.131 pessoas, na sua maioria crianças, as principais vítimas dos acidentes.

De acordo com o relatório, os acidentes foram registados em 12 das 18 províncias do país, liderando a lista o Zaire, com seis acidentes.

Para este ano, a Comissão Executiva de Desminagem perspetiva o recrutamento de militares desmobilizados da especialidade de engenharia militar de minas nas suas brigadas de desminagem.

Estes irão realizar a verificação e desminagem de vias rodoviárias, caminhos-de-ferro e projetos de telecomunicações, de traçados de linhas de transporte de energia elétrica de alta tensão e condutas de água e de áreas para a construção de infraestruturas de funcionamento das autarquias locais, bem como das áreas confirmadas e suspeitas de minas, no quadro da Convenção de Otawa.

Segundo o brigadeiro António Jorge, os principais desafios passam por desminar a linha de energia elétrica de alta tensão Huambo-Lubango, 60 quilómetros do troço rodoviário Cacongola-Muxinda, na província da Lunda Norte, a linha de alta tensão da subestação de Belém-Bailundo, desminar áreas para a construção de aproveitamentos hidroelétricos dos VUKA I, II, II, na Lunda Norte, e a desminagem no distrito urbano do Sequele e localidade do Membeca, província do Bengo.

Em 2020, a comissão contou com um financiamento de 136 milhões de kwanzas (178.235 euros) do Estado angolano, mas necessita neste momento de 23 mil milhões de kwanzas (30,5 milhões de euros) para a concretização dos projetos em curso, quer privados e principalmente do Governo.

António Jorge referiu que o apoio de doadores internacionais está a cada ano que passa mais escasso, estando a ser criada uma estratégia de autofinanciamento através da cobrança de comparticipações por parte de todos os projetos existentes e em execução no país.

De acordo com o responsável, a comissão tem cobrado entre cinco a 160 kwanzas (0,006 a 0,21 euros) o metro quadrado nas suas de ações desminagem, valor ínfimo se comparado com o preço cobrado internacionalmente, entre um a dois dólares (0,83 a 1,6 euros), como estabelece o Centro Internacional de Desminagem Humanitária de Genebra.

"O que nos tem valido na realização destas empreitadas tem sido a comparticipação de certas empreiteiras, que têm possibilidades financeiras e nos têm doado meios logísticos, combustíveis e lubrificantes" desde que foram formadas as 58 brigadas, disse.

A desminagem do projeto Okavango/Zambeze, zona turística no Cuando Cubango, ainda não teve início, avançou António Jorge, por falta de apoio logístico e técnico.

"Temos as nossas brigadas prontas para iniciar o serviço, mas por falta de apoio logístico e técnico estamos à espera que se tomem decisões superiores, no sentido de, juntamente com a The Hallo Trust, conseguir desminar a nossa parte, que é a rede de caminho da zona turística e os parques temáticas, a volta de 202 mil hectares", indicou.

Nos últimos três anos, a comissão deixou livres de minas 43,7 milhões de metros quadrados, tendo detetado, removido e destruído 1.707 minas antipessoal, 233 antitanque, 116.206 engenhos explosivos de vários tipos não detonados.

De 2018 a 2020, a Comissão Executiva de Desminagem registou em 15 províncias, com maior incidência para o Huambo e Bié, com 14 cada, 92 acidentes com explosivos não detonados, dos quais resultaram a morte de 59 pessoas e o ferimento de 164 outras.

Vastas áreas do território angolano continuam contaminadas por engenhos explosivos resultado de três fases distintas do conflito armado, de 1961 a 2002.

 

NME // JH

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