Festival Porto/Post/Doc reflete sobre "A Cidade do Depois" em ciclo e no Fórum do Real
Porto Canal com Lusa
(CORREÇÃO NO ÚLTIMO PARÁGRAFO) Porto, 18 nov 2020 (Lusa) - O festival de cinema Porto/Post/Doc, a decorrer entre sábado e 29 de novembro, reflete sobre uma "ideia de polis um pouco assombrada", sob o lema "A Cidade do Depois", num ciclo específico e no Fórum do Real.
A secção, que adota o nome "A Cidade do Depois", exibe um total de 10 filmes, de realizadores como Pedro Costa, Chris Marker, Hou Hsiao-Hsien e Ben Rivers, entre outros, apresenta uma exposição de fotografia e alia-se ao Fórum do Real, com três debates transmitidos de forma gratuita na Internet.
"O tema surgiu desta ideia de pensarmos a cidade, hoje, sobretudo uma cidade muito despolitizada, [com] a ideia de polis um pouco assombrada. Queríamos uma espécie de tirania da intimidade, que não deixa as pessoas ocuparem os lugares de espaço público como poderiam ocupar", explica à agência Lusa a programadora Alexandra João Martins.
O título foi 'emprestado' de um livro sobre o cinema do realizador húngaro Béla Tarr, "O Tempo do Depois", de Jacques Rancière, para um ciclo de reflexão sobre essa "espécie de terra prometida", em que a cidade se transformou no século XX, com as pessoas a saírem do campo "para encontrar emprego e melhores condições de vida", para pensar depois "em como se chega ao ponto atual", em que essas premissas não são cumpridas ou são deturpadas.
Há filmes de "abordagem mais poética", por um lado, e outros trabalhos mais politizados, olhando para "o desemprego, com a Los Angeles dos anos 1970 e 1980 e a Lisboa dos anos 2000", num "programa bastante diversificado".
Olhando para "as transformações" ao longo do século XX, começa-se num "destaque por si só", uma versão restaurada, estreada em 2018, de "Paris Qui Dort" (1924), um filme de ficção científica de René Clair, sobre um raio que 'congela' as pessoas na capital francesa.
Será exibido no dia 25, numa sessão dupla com "La Jetée", obra de 1962 de Chris Marker, feita quase na totalidade com imagens estáticas que refletem sobre um futuro pós-nuclear.
"Juventude em Marcha", obra de 2006 de Pedro Costa, que Alexandra João Martins descreve como "absolutamente central no cinema contemporâneo português", encerra o ciclo, no dia 27, pelas 19:00, duas horas depois da exibição de "A Invenção do Amor", dirigido por António Campos, em 1965.
Filme "muito pouco visto", é, em si mesmo, um 'objeto' "político sem ser político", embora apresente um lado mais poético. A sua meia hora de duração ilustra um poema do cabo-verdiano Daniel Filipe, a história de um casal perseguido, por ter ousado inventar o amor.
"A invenção do amor", que António Campos disse ter rodado com uma equipa de amigos de Leiria, data dos anos da ditadura. É assim entendido como um filme político, surrealista e metafórico sobre a repressão do Estado Novo, à semelhança do poema. Daniel Filipe (1925-1964), antifascista, opositor ao regime, foi perseguido e torturado pela PIDE.
"The Exiles" (1961), de Kent Mackenzie, é um dos dois filmes norte-americanos do ciclo, ao lado de "Killer of Sheep", obra de 1978 de Charles Burnett. A longa-metragem "Millenium Mambo" (2001), de Hou Hsiao-Hsien (Taiwan), será exibida dia 26, pelas 17:00.
O canadiano "Revêuses des Villes", estreado em 2018 e realizado por Joseph Hillel, sobre quatro arquitetas mulheres, é apresentado em estreia nacional no dia 24, pelas 16:00, no Passos Manuel, num ciclo que contempla também "Two Years At Sea" (2011), obra do britânico Ben Rivers, sobre um homem isolado na floresta.
"A Cidade do Depois" inclui ainda a exposição de fotografia de Martin Parr, que ficará na galeria The Cave, após ter passado pelos Encontros da Imagem de Braga. O fotógrafo britânico, um "dos maiores" entre os nomes contemporâneos, traz "outra consistência" ao ciclo, defendeu a programadora.
O fotógrafo traz aqui "uma observação mais serena e muito menos cáustica" em relação a outras mostras do seu trabalho, habitualmente críticas da "globalização massificadora do consumismo".
Ligado ao conceito deste programa está também o Fórum do Real, habitual espaço para palestras e debates do festival, este ano com três sessões 'online' e gratuitas, exibidas através das redes sociais, que permitirá chegar "a uma audiência muito mais alargada", além de ficarem imediatamente disponíveis para serem vistas após a própria sessão ao vivo.
As três sessões, uma em cada um dos dias 25, 26 e 27, sempre às 11:00, junta nomes de várias áreas de estudo, de arquitetos a cineastas, sociólogos e historiadores, com destaque para a programadora Maria João Madeira, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos e o realizador Billy Woodberry, cujo filme "Bless Their Little Hearts", de 1983, é exibido no dia 23, pelas 16:00.
A sétima edição do Porto/Post/Doc decorre a partir de sábado, durante pouco mais de uma semana, até 29 de novembro, em várias salas do Porto, com 69 filmes ao todo. Tem um passe 'online' que dá acesso a 58 dos filmes incluídos na programação. (NOVA VERSÃO, COM CORREÇÃO DO ÚLTIMO PARÁGRAFO, DEPOIS DE A ORGANIZAÇÃO DO FESTIVAL TER RETIFICADO O NÚMERO TOTAL DE FILMES DO PROGRAMA, INICIALMENTE ANUNCIADO, DE 109 PARA 69)
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