Covid-19: Pandemia dificulta atenção médica de Lisboa a portugueses fora da capital venezuelana

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Porto Canal com Lusa

Caracas, 7 nov 2020 (Lusa) -- A pandemia do coronavírus tem dificultado a atenção médica promovida pelo Governo português a emigrantes do Estado venezuelano de Miranda, principalmente de Los Teques (30 quilómetros a sul de Caracas), em particular a distribuição de medicamentos.

O alerta foi dado pelo médico neurocirurgião José Gomes, coordenador local da Rede Médica de Assistência a Portugueses, criada pelo Governo de Lisboa.

"A ajuda vinha diretamente pela TAP (em voos). Os medicamentos chegavam com frequência, mas devido à pandemia o aeroporto foi encerrado", disse o médico à Agência Lusa.

Apesar disso, os portugueses "estão sempre a ligar e a perguntar quando virão os medicamentos e eu respondo que não tenho, que estamos esperando que o aeroporto reabra", explicou.

No entanto, em várias oportunidades, José Gomes, tenta recolher junto do Consulado ou da Embaixada alguns medicamentos disponíveis, que tenta "distribuir à maior quantidade de pessoas" possível.

"Há pessoas que precisam de três ou quatro coisas e apenas chega uma embalagem", frisou.

Segundo José Gomes, a pandemia afetou a população venezuelana, "mas de uma maneira bastante grave os nossos compatriotas", porque são maioritariamente "pessoas da terceira idade, que estão sozinhas porque os filhos emigraram".

"São pessoas idosas com doenças de base, hipertensão e diabetes, num país onde há escassez de medicamentos e os remédios têm um preço elevado. Estão mal controlados, tanto da tensão como do açúcar, e isso é um caldo de cultivo para o coronavírus", disse.

Gomes lamenta o défice de assistência local e sublinha que os hospitais estão abarrotados e os portugueses não contam com recursos económicos para atenção médica privada, com muitos deles a dependerem da ajuda económica de familiares que estão no estrangeiro.

"Aqui (em Los Teques) há comerciantes e profissionais, mas o grosso dos portugueses estão na agricultura, são daquelas primeiras imigrações que chegaram", explicou.

Segundo este médico a maioria local dos portugueses tem mais de 70 e 80 anos, vivem sós e "são os quem tem mais carências, em todos os aspetos, não apenas (relacionados com) da covid-19, mas com outras patologias".

"Aqui na Venezuela os portugueses têm fama de que estão bem economicamente. Isso não é assim. Há muita gente portugueses, sobretudo anciãos, com muita, muita necessidade", desabafou.

Quanto à situação futura, diz que o frio do Inverno contribuirá para aumentar o número de casos de pessoas infetadas com o novo coronavírus.

"Com toda a responsabilidade tenho que dizer que à parte disso temos uma crise sanitária no país, e a situação se agravará mais", frisou.

José Gomes elogiou a forma como Portugal tem lidado com a pandemia e insistiu que de momento "a solução é ficar em casa, tomar precauções e usar máscara".

Na Venezuela estão confirmados 93.921 casos de pacientes com a covid-19. Estão ainda confirmadas 819 mortes associadas ao novo coronavírus e 88.701 pessoas recuperaram da doença.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

FPG // PJA

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