Médicos acusam governo de transformar esteticistas/pedicuras em profissões médicas
Porto Canal / Agências
Lisboa, 29 abr (Lusa) -- O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos acusa o Ministério da Saúde de querer transformar "a profissão de esteticista/pedicura (podologia)" numa profissão que abrange competências médicas.
A acusação consta de um comunicado deste organismo, a propósito de uma proposta de lei que se encontra em discussão na Assembleia da República e que estabelece o regime de acesso e de exercício da profissão de podologista.
A proposta "transforma na prática a profissão de esteticista/pedicura (podologia) numa profissão de elevada diferenciação e extensão, abrangendo competências de medicina, cirurgia e anestesiologia", acusa a Ordem.
"E tudo isto com um curso teórico de apenas três anos", alerta o Conselho Regional do Norte, referindo que a proposta prevê que os podologistas passem "a desempenhar, com total autonomia técnica e científica (prevenção, diagnóstico e terapêutica), múltiplas funções de profissões que têm, todas elas, períodos de formação bem mais extensos e exigentes".
"Os médicos especialistas, entre os quais se incluem aqueles que tratam doenças dos membros inferiores, são profissionais que cumpriram uma formação pré e pós-graduada de 11 a 13 anos e cujas competências estão ampla e consistentemente definidas do ponto de vista técnico e científico", insiste.
A Ordem indica que, apesar dos podologistas serem equiparados às profissões paramédicas, "simultaneamente é-lhes conferida uma autonomia ilimitada que não existe em nenhum das restantes profissões paramédicas, tornando o alcance do diploma verdadeiramente incompreensível".
"Nesta matéria, a regulamentação da atividade de podologia só poderia ser feita por analogia com as restantes profissões paramédicas e jamais por analogia à profissão de médico", considera este organismo.
Para a Ordem, esta é "mais uma tentativa de diluir competências na área da saúde com intenções meramente economicistas, sem respeito por critérios técnico-científicos e que pode, a curto prazo, contribuir para uma deterioração acelerada da assistência prestada aos doentes".
"O Ministério da Saúde e os deputados da Assembleia da República têm o dever de clarificar esta matéria" e "de exercer o seu direito de intervenção no sentido de reformular a proposta de lei".
Também o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) manifesta a sua "perplexidade e preocupação perante o conteúdo" da proposta de lei.
No site do SIM lê-se que a proposta "visa, muito corretamente aliás, regulamentar o exercício de uma profissão da área da saúde que deve ter toda a dignidade como a terão todas as outras".
"Mas pretender transferir para técnicos superiores de saúde competências técnico-científicas próprias de médicos (e também de enfermagem), conferindo-lhes uma autonomia que não tem equivalente nas restantes profissões paramédicas, é um desrespeito para com estas duas classes profissionais e uma irresponsabilidade para com os doentes", lê-se no comunicado.
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