Preços da carne e dos ovos podem subir com crise na Ucrânia
Porto Canal / Agências
Lisboa, 31 mar (Lusa) - A crise política não afetou as exportações da Ucrânia, principal fornecedor de milho a Portugal, mas agravou os custos logísticos, o que pode refletir-se nos preços da alimentação animal e encarecer a carne e os ovos.
Na perspetiva do especialista em mercado de cereais, Paulo Costa e Sousa, "esta crise política não afetou em nada as exportações", mas se o conflito piorar será "dramático".
"Se a crise se agravar e houver um conflito, obviamente que para nós é dramático, mas até agora as exportações continuaram a subir: em dezembro, as exportações da Ucrânia superaram os três milhões de toneladas, o que é um recorde absoluto", sublinhou, lembrando que Portugal depende fortemente da Ucrânia em termos da importação de milho (80 a 85% do total).
Embora o ritmo de exportação não tenha abrandado, "a logística interna complicou-se um pouco", encarecendo o produto.
"Para que o milho chegue aos portos precisa de sair do centro da Ucrânia. Estamos a falar de distâncias consideráveis e de logísticas consideráveis", explicou, estimando que os preços tenham subido entre 10 a 15% desde janeiro.
Este efeito vai fazer-se sentir nas indústrias transformadoras, que farão incidir o impacto da subida das matérias-primas no seu produto final, e será sentido pelo consumidor na compra de produtos como a carne ou os ovos que poderão ficar mais caros.
Paulo Costa e Sousa ressalvou, no entanto, que "o padrão de compra português permite ter um 'colchão' porque, normalmente, o mercado português faz compras em diferido e, por isso, o milho que está a receber agora foi comprado há oito ou dez meses".
Tal não quer dizer que o produtor "não tente passar ao mercado essa mais-valia de ter comprado bem", o que o mesmo responsável considera ser "perfeitamente legítimo", porque "se deve posicionar a preços de mercado".
Questionado sobre a possibilidade de Portugal alcançar a auto suficiência no que respeita ao milho, cuja produção tem vindo a aumentar, o especialista da Louis Dreyfus Commodities considera que tal objetivo é "difícil", senão impossível: "nós importamos um milhão e meio de toneladas e produzimos, nos anos bons, 400 mil (...) Teríamos de produzir sensivelmente três vezes mais".
Quanto ao trigo, maioritariamente fornecido por França e usado na panificação, seria ainda "mais difícil" produzir em grandes quantidades, por falta de "aptidão" agrícola.
"Em termos de cereais, a aposta no milho parece-me mais lógica do que a do trigo", sublinhou Paulo Costa e Sousa.
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