Bugiadas e Mouriscadas recriam tradição centenária em Sobrado, Valongo

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Porto Canal com Lusa

Valongo, Porto, 22 jun 2019 (Lusa) - Tradição que os organizadores admitem recuar ao século XI, as Bugiadas e Mouriscadas de Sobrado (Valongo) reúnem na segunda-feira quase 800 figurantes cujo esforço físico nas 15 horas da encenação os leva a perderem cerca de cinco quilogramas.

Um teatro vivo, as Bugiadas e Mouriscadas recriam a luta entre bugios (cristãos) e mourisqueiros (infiéis) pela posse da imagem de São João Batista, numa réplica da luta do bem contra o mal, cedo irrompendo pelas ruas de Sobrado, no distrito do Porto, altura em que uma parte do país descansa da noitada de São João.

Entre as 08:00 e as 23:00, cerca de 800 figurantes, divididos em duas fações, desenvolvem encenações contínuas que decorrem em diferentes partes da vila, obrigando-os, em média, a percorrer cerca de 16 quilómetros numa "paixão" que faz com que percam "cerca de cinco quilos" com o esforço físico, disseram à Lusa os reis designados para 2019.

"É um sacrifício enorme que temos de fazer" sustenta António César Ferreira (velho rei dos bugios), logo corrigido por Ricardo Alves (rei dos mouros), argumentando tratar-se sim de "uma paixão", em que a "missão" é "não ficar mal perante tanta gente", sendo que uma parte de quem assiste "ou foi bugio e/ou mourisco ou quer ser" e "nada pode falhar".

Sem nada escrito que confirme as suspeitas de que a lenda remonta ao século XI, como intuem os organizadores, ou que sirva de guião para a representação que ano após ano "duplica" os cerca de sete mil habitantes de Sobrado no dia de São João, a tradição vive à custa dos costumes que os mais velhos passam aos mais novos.

"Certo é que se trata de uma lenda surgida da presença dos mouros na região e da sua atividade mineira", atirou António César Ferreira de uma festa tão antiga e envolvente, também, ao nível da solidariedade que faz com que os pinheiros que representam os castelos cristão e mouro sejam oferecidos.

Segundo Ricardo Alves, os pinheiros, "a árvore específica para a cerimónia, são pedidos aos donos das cavadas ou montes do Sobrado", sendo que para tal são precisos anualmente "50 pinheiros adultos".

Ao nível individual, a exigência é "ainda maior", contando o velho rei dos bugios que a preparação "começa meses antes com idas ao ginásio e a correr pelos montes", pois, enfatizou, a sua missão obriga-o a "usar uma máscara e roupas quentes e, se estiver um dia de calor, é muito exigente".

"No dia das bugiadas, os mais ativos podem perder até cinco quilos", acrescentou Ricardo Alves.

Manda a tradição que "só pode ser rei dos bugios quem tiver mais de 40 anos e 30 anos de experiência" enquanto para se ser rei mouro as peculiaridades obrigam, desde logo, a que seja solteiro.

"Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 a rotatividade dos reis era mais frequente porque havia menos pessoas, mas agora a cada sete anos um bugio ou um mourisco sabe que será o eleito", contou António César Ferreira.

Ser rei mourisqueiro, segundo Ricardo Alves, obriga a que passe primeiro seis anos a prestar provas no meio dos restantes mouriscos: dois anos no meio, mais dois no 'rabo' e outros tantos de guia desse exército nas representações anuais, mas só enquanto se mantiver solteiro.

"Como a escolha é feita com sete anos de antecedência, há mouriscos que dizem às namoradas que só casam após terem sido reis", relatou António César Ferreira, frisando que os bugios "podem ser de ambos os sexos, dos seis aos 80 anos, ainda que a capacidade física seja determinante e aconselhe que a entrada aconteça apenas na adolescência".

Da representação que atravessa a vila e termina em frente à igreja do Sobrado já noite alta fazem parte outras cenas relacionadas com as vivências quotidianas como a Sementeira da Praça, a Cobrança dos Direitos, a Sapateirada e a Prisão do Velho, finalizadas pela intervenção da Serpe libertadora do velho rei dos Bugios e repositora da ordem natural das coisas até ao ano seguinte, refere um texto publicado no 'site' da Câmara de Valongo.

Igualmente tradição é o acompanhamento musical da Banda do Campo, responsável pela dança do bugio.

A festa do Sobrado tem em curso a candidatura a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO.

JFO // MSP

Lusa/fim

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