Artista João Onofre diz que "há pontos de encontro" entre obras antigas e recentes

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 15 fev (Lusa) - O artista João Onofre, que inaugura hoje, na Culturgest, em Lisboa, a primeira antológica da sua obra, disse à agência Lusa que, na preparação da exposição, descobriu "pontos de encontro" entre obras mais antigas e as recentes.

A exposição intitula-se "Once in a Lifetime [Repeat]", cobre um período de 1998 a 2019, e ficará patente até 19 de maio, nas galerias da Culturgest, onde o curador da mostra, Delfim Sardo, apresentou hoje as obras numa visita guiada aos jornalistas.

Contactado pela Lusa depois da visita à exposição, o artista disse que a antológica "é um momento importante para qualquer artista, porque é um momento de balanço, neste caso de duas décadas".

"É curioso, para mim, ver que há pontos de encontro entre peças muito antigas minhas, do final dos anos 1990, e as do início dos anos 2000 e as de hoje, de 2018 e 2019", apontou à Lusa.

As ideias que se mantêm são de "circularidade e eterno retorno, presentes em muitos dos trabalhos, ou a preocupação com a duração, com o fracasso, enquanto constituinte da condição humana".

"Foi interessante ver os diversos media que se desdobram nestas preocupações conceptuais", comentou sobre as obras que tem vindo a criar, nomeadamente em vídeo, fotografia, escultura, objetos, peças sonoras e performance.

"Avaliar o nosso trabalho às vezes não é assim tão fácil", ressalvou Onofre, nascido em 1976, em Lisboa, onde vive e trabalha.

João Onofre estudou pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, fez um mestrado em Belas Artes no Goldsmiths College, em Londres, e estudou Arte Contemporânea no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.

A exposição é atravessada por preocupações inerentes ao seu percurso: a memória do conceptualismo, o fascínio pela música, bem como as grandes temáticas da arte desde o romantismo - a morte, a tragédia, o investimento pessoal, a juventude, o desempenho e o erro, como apontou o curador Delfim Sardo durante a visita.

Uma das peças da exposição foi criada especialmente por João Onofre para esta antológica na Culturgest: trata-se do vídeo de uma performance que dura mais de duas horas e meia, e, nele, são mostrados um grupo de músicos, um coro de 'gospel' e um grupo de jogadores de raguebi, que tentam, sem sucesso, cantar a frase da canção "I want to know what love is", do grupo Foreigner, por serem continuamente atirados ao chão por algum dos outros jogadores.

Sobre esta peça, comentou: "Creio que nos trabalhos do início dos anos 2000 a ironia estava mais presente do que naqueles mais recentes. Isso tem-se refinado, e já não é uma ironia cínica pós modernista".

"As preocupações que acompanham as minhas obras são tratadas com mais humor. O humor tem uma capacidade maior de criar divergências positivas na receção do espetador. Interpela mais o espetador do que a ironia", disse à Lusa.

A obra de João Onofre é muitas vezes pontuada pela ironia, uma forma de expressão "mais seca do que o humor".

"O humor é mais complexo e consegue ter uma capacidade metafórica mais interessante", considerou o artista.

Nas salas da exposição na Culturgest, há vários vídeos criados por Onofre que remetem para a tensão das relações humanas, como aquele em que é mostrado um fragmento de um filme com Alain Delon e Monica Vitti, de Michelangelo Antonioni, "O Eclipse", onde continuamente entrelaçam as mãos, ou o vídeo que mostra o músico Norberto Lobo a tocar uma das suas composições perto de uma falésia, debaixo de um grande guarda-sol, abanado pelo vento.

Progressivamente, são mostrados desenhos, como alguns das séries "Degradation" e "Running Dry", onde surgem as ligações entre a cultura popular e erudita, a peça sonora com partes de gravações de Carlos Paredes, nas quais se ouve a respiração do músico, vários vídeos com performances no atelier do artista, nomeadamente o da levitação, ou da ação destrutiva de um abutre ali solto.

O trabalho deste artista português tem vindo a ser apresentado em diferentes museus e galerias internacionais, nomeadamente no MoMA Contemporary Art Center, em Nova Iorque (2002), no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, em Lisboa (2003), no Palais de Tokyo, em Paris (2011), e no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa (2017).

A inauguração realiza-se hoje, às 22:00, e inclui uma performance, às 22:30, com entrada gratuita, e no sábado, às 12:00, o artista realiza uma visita guiada à exposição.

AG // MAG

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