Aldeias fiéis do centro de Moçambique prometem apoio à Renamo mesmo sem Dhlakama
Porto Canal com Lusa
Dombe, Moçambique, 14, jan (Lusa) - As zonas rurais do centro de Moçambique permanecem fiéis à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) apesar da morte recente do líder histórico, Afonso Dhlakama e é visível o descontentamento com o poder central em muitas zonas.
Esse é o caso de Macoca, uma aldeia de Manica fiel a Dhlakama, onde todos com quem a Lusa falou prometem o voto na Renamo nas eleições gerais deste ano, que morreu em maio na Gorongosa.
"Difícil será ter um novo líder, verdadeiramente líder como (Afonso) Dhlakama" disse à Lusa, Gonçalo Muse, um morador de Macoca, em Dombe (Sussundenga), província de Manica, centro de Moçambique, para depois acrescentar que continuará a "apoiar a Renamo independente de quem o suceder".
O camponês, de 48 anos, recorda as memorias que tem de Afonso Dhlakama, ex-lider da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), incluindo seu último contacto num comício popular em julho de 2015, numa zona próxima a aldeia.
Afonso Dhlakama morreu em maio de 2018 por complicações de diabete numa das bases da Renamo na serra da Gorongosa, em Sofala, centro de Moçambique, deixando o partido sem um sucessor formal.
"Era sempre fácil ver e identificar a cara de (Afonso) Dhlakama no boletim (de voto)" lembra Enéria Mutopa, outra moradora de Macoca, uma aldeia recôndita e onde falta quase tudo, e quase sempre com números recordes de votos em apoio a Renamo nas eleições passadas.
Na aldeia, "sentenciada" por acomodar a segunda maior base da Renamo, célebre durante a guerra civil de 16 anos devido aos sangrentos combates ali travados envolvendo guerrilheiros da Renamo e forças do governo e estrangeiras, a morte de Afonso Dhlakama, não significa "falta de apoio ao partido" nas próximas eleições.
"A perdiz [símbolo da Renamo] ainda canta aqui" disse emocionado à Lusa, Samuel Sitole, um comerciante, que espera a eleição esta semana no congresso partidário da Gorongosa de um "líder-modelo" que conduza o partido com "a mesma humildade" e responsabilidade que Afonso Dhlakama.
A Renamo deverá eleger esta semana, no 6.º Congresso que arranca a 15 de janeiro numa das bases do partido na serra da Gorongosa, o sucessor de Afonso Dhlakama, na presidência do partido, e automaticamente candidato pelo partido as eleições presidenciais de outubro.
Em novembro o conselho nacional da Renamo definiu que o sucessor de Afonso Dhlakama deve ter ocupado a função de secretário-geral, ter 15 anos de militância e ser membro idóneo e de reconhecido mérito.
Além disso, o próximo líder deve ser uma figura que combateu pela Renamo na guerra civil dos 16 anos, que opôs o braço armado do partido e as forças governamentais.
Três nomes são tidos como possíveis candidatos, embora um deles, Elias Dhlakama, não cumpra todos os requisitos exigidos para o cargo, nomeadamente não ter 15 anos de militância no partido porque fazia parte das Forças Armadas e não ter sido secretário-geral.
Os outros dois possíveis candidatos apontados como sucessores de Dhlakama são Ossufo Momade, coordenador interino da Renamo, e Manuel Bissopo, atual secretário-geral do partido, que à semelhança de outros dois já manifestaram interesse de concorrer ao cargo, mas ainda não formalizaram as candidaturas.
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