Brasil: Um país dividido à espera de um Presidente não consensual
Porto Canal com Lusa
São Paulo, 26 out (Lusa) - Milhões de brasileiros são chamados a votar no domingo na segunda volta das eleições presidenciais, um escrutínio que polarizou o país, com cada um dos candidatos com mais de 40 por cento de índices de rejeição.
Polarização política, desilusão popular com o a corrupção e o descalabro do Estado numa campanha eleitoral recheada de polémicas em que as notícias falsas foram mais comentadas do que debates e propostas são as principais marcas da eleição presidencial, afirmou à Lusa Luiz Antonio Dias, historiador e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
A campanha contrariou grande parte dos analistas que previam a eleição mais concorrida desde a redemocratização do país, em 1989, dado o envolvimento de políticos em escândalos de corrupção e os efeitos de uma grave crise económica.
Para Luiz Antonio Dias, a preferência dos eleitores a dois polos opostos, a extrema-direita representada pelo candidato Jair Bolsonaro do Partido Social Liberal (PSL) e a esquerda progressista personificada por Fernando Haddad do Partido dos Trabalhadores (PT) não foi uma surpresa, mas sim o reflexo de uma imensa frustração.
"Nesta eleição existiu um certo sentimento de desesperança. Tem-se a impressão de que tanto do lado do PT quanto do lado do Jair Bolsonaro muitos eleitores votaram em quem acreditaram ser um mal menor", disse.
"Quando você aponta o autoritarismo do [Jair] Bolsonaro, a defesa que ele faz da tortura e os ataques [do mesmo candidato] aos direitos humanos, seus eleitores quase sempre alegam que o PT destruiu o país. Portanto, votar nele seria um mal menor. No lado inverso acontece a mesma coisa. Há eleitores que optaram pelo Fernando Haddad contra o mal maior que seria a candidatura do Jair Bolsonaro", acrescentou.
Já Edson Nunes, sociólogo da PUC-SP, disse acreditar no contrário, defendendo que a política se tornou um tema presente no dia a dia dos cidadãos fortalecendo a democracia.
"Nunca a adesão à democracia, que é um índice de cultura política universalmente aceito, foi tão alta no Brasil como neste ano".
Para o académico, "a eleição está trazendo como novidade o protagonismo do povo desvinculado de partidos, das associações, ou seja, o protagonismo da massa dos trabalhadores que ficou extremamente indignada com os procedimentos políticos de obtenção do poder e os mecanismos de corrupção".
"Quem olha o resultado da primeira volta vê que o eleitor quis dois objetivos e conseguiu alcançá-los: ele quis punir a corrupção e candidatos envolvidos em esquemas de corrupção não foram eleitos. Houve também um aumento da politização e do sentimento de solidariedade coletiva para uma renovação política que de facto aconteceu", acrescentou o sociólogo.
Sobre a divisão dos brasileiros em dois campos distintos, completamente opostos, o analista responsabiliza os políticos.
"Este quadro de polaridade no Brasil foi alimentado pelo PT que precisou dele para justificar sua continuidade na cena política. Para o PT foi vital construir uma polarização. Para o Bolsonaro isto também foi vital: sem a polarização o eleitor iria buscar uma renovação ao centro", disse.
Quer o PT quer Bolsonaro quiseram a polarização para "excluir uma terceira via", defendeu Edson Nunes.
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