Promoções de bacalhau salgado seco 'esmagam' margens da indústria
Porto Canal com Lusa
Lisboa, 11 out (Lusa) -- A Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB) afirmou que a venda de grande parte de bacalhau salgado seco em promoções esmaga as margens da indústria portuguesa, que, por outro lado, tem apostado no produto pronto a cozinhar.
"É uma evidência, que talvez só passe despercebida aos consumidores, que as frequentes ações promocionais de bacalhau salgado seco são realizadas com um preço de venda ao público que não acompanha a estrutura de custos envolvida", afirmou à agência Lusa o secretário-geral da AIB, Paulo Mónica.
O responsável garantiu que a aquisição e os custos de produção "não são obviamente tidos em conta quando se realizam estas promoções" e, assim, a indústria, fica comprometida nas suas margens num setor com grande concorrência internacional e necessidade de investimentos na produção.
"Por fim, colocando o bacalhau no mercado nestas circunstâncias, [a indústria portuguesa] acaba obviamente esmagada nas suas margens e com a sua sobrevivência comprometida", disse o secretário-geral, acrescentando que outra consequência desta situação é uma "forte instabilidade" na relação com fornecedores e canais de distribuição.
"Se tivermos em conta outros fatores, como os custos de contingência, consideravelmente mais caros do que os dos nossos concorrentes, caso da energia, então percebemos o delicado contexto em que estamos envolvidos", afirmou, em declarações à Lusa.
Num seminário sobre bacalhau, no mês passado, o Conselho Norueguês das Pescas (Norge), citando estudos, informou que 67% do bacalhau salgado seco é vendido em promoção.
Respondendo a questões da Lusa, o responsável indicou ainda que a sobrevivência desta indústria se deve à sua capacidade de inovação e modernização, em particular ao desenvolvimento de novas unidades de produção que apostaram no pronto a cozinhar, ou seja, no bacalhau demolhado ultracongelado.
Este produto tem somado um "peso cada vez maior nas vendas totais de bacalhau em Portugal e revelou-se decisivo também para as exportações da indústria portuguesa", que, por outro lado, tem perdido quota de mercado para as importações de bacalhau salgado seco, recordou a AIB.
"A conjugação destas duas situações levou naturalmente à concentração da indústria, sobrevivendo os produtores que conseguiram resistir e adaptar-se", concluiu o secretário-geral.
Este ano é tido como o da "evolução dentro desta nova categoria de produto que é o bacalhau demolhado ultracongelado".
"Assistimos a um momento histórico de transição do consumo, do bacalhau salgado seco para o bacalhau demolhado ultracongelado, graças à forma como a indústria portuguesa antecipou a necessidade deste produto, inclusive no canal Horeca (cafés e restaurantes)", comentou Paulo Mónica.
"Ao mesmo tempo, manter-se-á o cenário de esmagamento das margens no bacalhau salgado seco e a forte concorrência internacional pela aquisição de matéria-prima. A indústria portuguesa terá que bater-se cada vez mais com os outros países consumidores de bacalhau, que valorizam cada vez mais este peixe, em detrimento de outras espécies", antecipou ainda à Lusa.
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