Especialista defende formação específica em luto para resposta a catástrofes

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 16 jul (Lusa) -- O luto nas comunidades atingidas por catástrofes deve ser trabalhado por técnicos com formação específica, que permitam individualizar os cuidados terapêuticos às populações, o que ainda nem sempre acontece, alertou um especialista da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

"Infelizmente em Portugal ainda temos muito pouca atenção a estes fenómenos do luto. Achamos que toda a gente passa por perdas e toda a gente se irá, de uma forma ou de outra, reabilitar, digamos assim, no seu processo de vida futura. E só acontece alguma atenção a estes processos de luto quando leva mais do que uma pessoa", disse à Lusa Eduardo Carqueja.

O psicólogo, especialista em luto, salientou a importância de em casos como o incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande a 17 de junho (com 64 mortos e mais de 200 feridos) haver organização e uma "avaliação e monitorização" das comunidades afetadas pela tragédia.

O também presidente da direção regional do Norte da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) avisou que o país "carece de técnicos especializados na abordagem do luto".

"Não chega ser só psicólogo se eu não tiver formação específica em intervenção em luto, não chega ser só psiquiatra se eu não tiver formação em luto", frisou.

O especialista admitiu que a Direção Geral de Saúde apresente em breve "linhas orientadoras" para intervenções nesta área, "porque senão podem ser mais prejudiciais na abordagem do que beneficiar a pessoa que está em luto".

Nesse sentido, a OPP tem em curso um plano para colocar 1.000 psicólogos, formados para intervenção em catástrofe, à disposição das entidades de Proteção Civil.

Recuando a março de 2001, à queda do tabuleiro da Ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os-Rios, que arrastou para a morte 59 pessoas, a maioria de Castelo de Paiva, o psicólogo explicou ser preciso continuar a trabalhar com familiares das vítimas, incidindo na forma de "contar a história" e na maneira de "encontrar um significado para a perda".

O temporal que assolou a Madeira em fevereiro de 2010, provocando 43 mortos, seis desaparecidos, 250 feridos e 600 desalojados, ou os incêndios de 2016 na ilha, em que morreram três pessoas e foram destruídas 37 habitações, contribuíram para que os psicólogos insulares tenham mais experiência na resposta a estes fenómenos do que no continente, por aliarem o conhecimento teórico à prática, reconheceu Eduardo Carqueja.

Neste caso, notou, o trabalho desenvolvido em meio escolar e em grupos terapêuticos deve passar por "não deixar dramatizar em excesso" os acontecimentos e procurar fazer entender que determinados fenómenos decorrem da natureza e que não podem ser controlados pelas pessoas.

O que fazer então em relação ao incêndio que, em junho, deflagrou em Pedrógão Grande?

"Tudo isto que agora está a acontecer ainda vivemos em momentos de muita intensidade, que seguramente vai precisar de dois, três anos de acompanhamento", estimou o dirigente da OPP, sublinhando que "as pessoas têm de ser abordadas no seu local", por se tratar de uma população idosa, com dificuldades de mobilidade.

No seu entender, não basta dizer apenas que se pode recorrer a um centro de saúde e será preciso avaliar quem tem ânimo e se consegue deslocar, no pressuposto de que "tem de ser um serviço coordenado e organizado para se ir junto das pessoas".

"É importante também percebermos que vai ser a primeira vez que estas pessoas vão viver uma noite de Natal seguramente sem muitas pessoas importantes. Como é que elas vão ser ajudadas a ultrapassar isto? Elas estão a ser preparadas para isto?", questionou Eduardo Carqueja.

O psicólogo vincou que nos processos de luto as primeiras datas marcantes sem a presença de pessoas próximas são momentos "de grande sofrimento, de grande impacto emocional".

"No fundo é a primeira vez que eu vou viver o Natal, por exemplo, sem a presença da minha mãe ou sem a presença do meu filho, coisa que nunca aconteceu, então é natural que emocionalmente eu esteja mais afetado", disse.

Perante esta reação individual de ajustamento à realidade, Eduardo Carqueja antecipou que, provavelmente, no próximo período natalício, Pedrógão Grande estará cheio de pessoas que querem prestar o seu apoio, mas o seguinte "pode ser o primeiro Natal efetivo [em] que as pessoas vão sentir a ausência e o vazio".

LYFS // ROC

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