Reflorestação da região Centro pode começar "imediatamente" com espécies diferentes

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Porto Canal com Lusa

Redação, 16 jul (Lusa) -- O processo de reflorestação da região Centro pode começar "imediatamente" se a ideia for reconverter a floresta para outro tipo de espécies, disse à Lusa um perito da Comissão Técnica Independente de análise aos incêndios de junho.

"Se a ideia é manter os eucaliptos ou os pinheiros, então devemos esperar algum tempo para ver quais são as árvores que morrem e quais as que sobrevivem, porque é preferível utilizar aquilo que já lá está e que consegue sobreviver do que estar a começar tudo de novo", explicou Joaquim Sande Silva, professor da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) e um dos 12 peritos que integram a Comissão Técnica Independente de análise aos incêndios da região Centro que deflagraram a 17 de junho em Pedrógão Grande (distrito de Leiria) e Góis (Coimbra).

De acordo com o especialista, a reconversão da floresta implica "trabalhos onerosos" para substituir as espécies dominantes, que são sobretudo o eucalipto e o pinheiro.

"Em relação ao pinheiro, é fácil, porque quando o fogo passa os pinheiros morrem, portanto é cortar os salvados e proceder a trabalhos, eventualmente, de mobilização e de instalação de outras espécies", indicou.

Relativamente ao eucalipto e a outras exóticas invasoras como as acácias, o processo é "mais complicado", porque uma boa parte dos eucaliptos consegue sobreviver ao fogo.

Por isso, "não chega cortar, é necessário outro tipo de trabalhos que passam pela desvitalização das toiças -- a parte que fica junto ao solo após o corte --, portanto, é necessário matar árvore, eventualmente, recorrendo a produtos químicos, a produtos fitocidas, ou a maquinaria pesada".

Para o diretor do núcleo de investigação de incêndios florestais da Universidade de Coimbra, Luciano Lourenço, o projeto de arborização para a área ardida na região Centro tem que atender às condições edafoclimáticas (características definidas por fatores como o clima, o relevo, o tipo de solo ou a radiação e que se referem à influência dos solos nos seres vivos, em particular os organismos do reino vegetal).

Em função disso, há que ver quais são as espécies mais adequadas, de forma a criar mecanismos que permitam a defesa das populações e da floresta em caso de incêndio.

"Isso obriga a que, porventura, alguns proprietários não possam plantar nas suas áreas para defenderem a floresta que é dos outros", referiu Luciano Lourenço, sublinhando que é necessário ouvir os proprietários para saber se estão interessados num "projeto global que abarque toda a área queimada e, eventualmente, alguma da área envolvente" para definir unidades que sejam geridas em termos florestais.

Na perspetiva do investigador da Universidade de Coimbra, "é possível avançar já em termos de planeamento e de ordenamento florestal" nas zonas atingidas em junho, mas para a plantação "convém deixar passar o verão e iniciar os trabalhos após as primeiras chuvas".

Já a associação ambientalista Zero disse à Lusa que primeiro têm de existir "medidas de estabilização pós-incêndio que permitam, quando vierem as primeiras chuvas, evitar que o solo seja arrastado e que haja derrocadas e erosão".

"Quanto mais solo se perder mais dificuldade vamos ter na plantação de árvores no local", advogou o dirigente associativo Paulo Lucas, explicando que é necessário criar barreiras à erosão -- por exemplo, colocar nas ribeiras estruturas que permitam segurar o arrastamento de terras que vai ocorrer com as primeiras chuvas, uma vez que "o solo está despido, não tem qualquer vegetação".

Após o trabalho de estabilização do solo, é necessário definir que tipo de floresta se vai constituir e que modelo de gestão se vai adotar.

Para a associação Zero, a solução ideal é a plantação de "uma floresta diversificada", que crie descontinuidade na paisagem, com "diferentes funções ambientais", e que haja uma gestão florestal coletiva, com apoios públicos para garantir que os proprietários sejam remunerados por estarem a fazer uma floresta com fins ambientais.

"É possível evitar este tipo de fogos com estas dimensões", considerou Paulo Lucas, referindo-se aos incêndios em Pedrógão Grande e em Góis.

Questionados sobre a perda de fertilidade dos solos, os três especialistas indicaram que a terra não deixa de ser plantável, precisando que em termos agrícolas os terrenos podem depauperar, mas em termos florestais têm maior resistência.

Há um mês, o incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, provocou 64 mortos e mais de 200 feridos. Em conjunto com o fogo de Góis, no distrito de Coimbra, consumiu mais de 53.000 hectares.

SYSM // ROC

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