Órgãos históricos da Sé do Porto voltam a soar em abril após restauro de dois anos

| Norte
Porto Canal com Lusa

Porto, 18 mar (Lusa) - Os órgãos históricos da Sé do Porto, datados do século XVIII, mas com alterações nos séculos seguintes, estão a ser alvo de operações de conservação e restauro que culminam em abril após cerca de dois anos de intervenção.

Em causa estão dois órgãos de tubos que convivem frente a frente num templo classificado como Monumento Nacional, sendo um designado como "órgão do evangelho", à esquerda para quem está de frente para o altar, e outro como "órgão da epístola".

O mestre organeiro Dinarte Machado, responsável pelos trabalhos, descreveu à agência Lusa dois órgãos diferentes, cada qual com o seu bilhete de identidade, sendo que o instrumento da esquerda se identifica mais com o século XVIII e o outro com a primeira metade do século XIX.

"A harmonização está a ter em conta essas duas identidades. Mas apesar de as respeitar, é preciso perceber que eles vão tocar juntos. E para que toquem juntos é preciso fazer uma harmonização que dá ao órgão da epístola um som mais grave, complementando o que o órgão do evangelho não tem", descreveu Dinarte Machado, organeiro há mais de três décadas.

O convite ao mestre que restaurou quase uma centena de órgãos do acervo histórico português, incluindo dezenas nos arquipélagos dos Açores e Madeira, os seis órgãos do conjunto histórico do Palácio Nacional de Mafra, e participou no restauro de instrumentos do Palácio Real de Madrid e da igreja de São Francisco, em Lorca, Espanha, surgiu por parte do Cabido da Sé do Porto, num processo autorizado pela Direção Regional de Cultura do Norte e acompanhado pelo cónego Ferreira dos Santos.

Dinarte Machado contou à Lusa que o trabalho da sua equipa surge depois de duas outras grandes intervenções, uma levada a cabo no século XIX por um organeiro da zona do Porto que assinava com o nome "Santos" e outra feita nos anos 1970 pela empresa holandesa Flentrop.

"O Santos fez uma intervenção no órgão da epístola e aumentou o número de registos graves de base. Foi muito inteligente da parte dele. Não desmistifica em nada o conjunto", apontou Dinarte Machado que já sobre a operação levada a cabo pela empresa holandesa é menos otimista, considerando que a Flentrop "terá tentado manter as caraterísticas dos órgãos mas aplicou materiais que hoje não são concebíveis".

"O trabalho dessa firma foi importante por pôr os instrumentos a tocar. Nos anos 1970 encontraram o órgão do evangelho totalmente degradado. Do ponto de vista de filosofia de conservação e restauro não foi uma catástrofe mas foi muito próximo", analisou.

O mestre organeiro, que foi condecorado pelo Presidente da República e ganhou o prémio internacional Europa Nostra em 2010, teve agora a missão de recuperar a qualidade do vento, corrigindo a posição dos foles, peças que descreve como "os pulmões dos órgãos".

"Se calhar há quem ache que qualquer um pode fazer isto desde que saiba apertar um parafuso. Não é bem assim", alertou, acrescentando que conseguiu substituir os "materiais menos nobres" encontrados pelas corrediças originais e históricas que "por acaso estavam conscientemente guardadas".

Soma-se a correção de aspetos mecânicos e, do lado da epístola, a retirada de um forro de madeira de pinho considerado "prejudicial em termos acústicos".

Paralelamente à intervenção deste mestre organeiro está a ser feita uma operação nas caixas - os armários - numa lógica de continuidade e cooperação entre artes que Dinarte Machado aplaude.

"Quando entramos numa igreja e olhamos para a caixa de órgão, esta pode não ter nada lá dentro mas ele já começa a soar. A imagem transmite aquilo que já estamos a ouvir pelo que nunca essa imagem pode ser entregue a alguém que não ouve", apontou.

Preocupado com o futuro do património organeiro do país, Dinarte Machado realça que "é preciso pensar que o restauro dos instrumentos é importante, mas o primeiro mandamento para a manutenção de um órgão é que seja utilizado", embora advirta para o "respeito pela peça".

"É importante que as pessoas tenham consciência e digam 'eu aprendi notas de música, sei tocar, sou dotado, mas a minha especialidade não é organista num órgão histórico'. Um polícia para isso é ridículo. Isto tem de estar na consciência das pessoas. A defesa do nosso património é a defesa da nossa própria identidade", afirmou.

Quanto ao Porto, Dinarte Machado recomenda "a uma cidade que cada vez mais se expõe aos turistas" que preserve aquilo que é o seu património e a sua identidade, sem esquecer os seus órgãos de tubos.

A ideia do mestre organeiro, que recentemente foi convidado para académico correspondente da Academia Nacional de Bela Artes, é que o Porto crie um roteiro sobre os órgãos de tubos da cidade, a par de uma programação com concertos, envolvendo mecenas e o comércio local.

PYT // TDI

Lusa/Fim

+ notícias: Norte

Condutor foge após despiste aparatoso em Famalicão

Um veículo ligeiro despistou-se na madrugada desta quinta-feira na Avenida S. Silvestre, na freguesia de Requião, no município de Vila Nova de Famalicão, comunicou os Bombeiros Voluntários daquela região do distrito de Braga.

Inaugurado há dois meses, elevador da passagem superior na Aguda já avariou

A passagem superior da Aguda, em Vila Nova de Gaia, sobre a Linha do Norte, inaugurada há dois meses, está inacessível, na zona poente, a pessoas de mobilidade reduzida por avaria do elevador, constatou esta quinta-feira a Lusa no local.

Norte em aviso amarelo por queda de neve

Oito distritos do continente estão na sexta-feira e no sábado com aviso amarelo por possível queda de neve, alerta o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que prevê períodos de chuva para todo o país.