Raiz di Polon, há 25 anos uma porta aberta para a dança em Cabo Verde

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Porto Canal com Lusa

Praia, 13 nov (Lusa) - 'Belita' tinha um ano quando nasceu a companhia cabo-verdiana Raiz di Polon. Hoje, com 26 anos, é uma das bailarinas, tudo porque decidiu entrar pela porta que diariamente se abre para a dança no centro histórico da Praia.

Os 26 anos de Verónica Lopes, 'Belita' confundem-se com o quarto de século da companhia de dança contemporânea mais internacional de Cabo Verde, a Raiz di Polon, que se assinala na segunda-feira.

Fundado em 1991 por Mano Preto e Zezinho Semedo, a companhia mantém o núcleo criador de cinco bailarinos a que se foram juntando outros mais novos como a 'Belita'.

Instalado na rua Pedonal, no centro histórico da Praia [Plateau], o grupo cumpre um calendário rigoroso de ensaios matinais pelas 08:00 e fecha sempre o dia com um ensaio/aula, aberto a quem quiser dançar.

Foi nestas aulas, que não raras vezes a sala se torna pequena e a dança acaba por extravasar para a rua, que 'Belita' se encontrou com o Raiz di Polon.

"Um dia estava na Rua Pedonal, estavam a dançar na rua, vi, gostei, interessei-me e vim", disse à agência Lusa.

Depois de um intervalo de alguns anos para completar os estudos, há três meses regressou e não esconde o entusiasmo de todos os dias ir aos ensaios num espaço, onde, mais que bailarinos, há amigos.

Com 43 anos, Carlos "Kaká" Oliveira dança na Raiz di Polon há 17, fazendo parte de praticamente todo o percurso da companhia que conta uma dezena de espetáculos originais, já se apresentou em mais de 50 países e viu o seu trabalho reconhecido com vários prémios.

Com estilo contemporâneo e uma matriz cultural marcadamente cabo-verdiana, Kaká assinala no percurso destes 25 anos a "evolução notável" das coreografias, sem "deixar para traz a identidade".

Num país como Cabo Verde, onde as coisas são "muito difíceis" e dependem na maioria das vezes "da vontade e determinação" dos membros do grupo, o bailarino aponta como fórmula para o sucesso "insistir e trabalhar".

Mano Preto, fundador, coreógrafo e bailarino, não esconde as dificuldades de conseguir manter a companhia durante tanto tempo, mas prefere sublinhar os aspetos positivos de um projeto, que tem na sua origem a "mão portuguesa" de Clara Andermatt e Paulo Ribeiro.

"Quase tudo foram pontos altos. As saídas, os prémios, os aplausos no final, quando está tudo cansado, depois de 16 espetáculos seguidos, às vezes no frio, no calor. Todos os 50 e tal países que já fizemos, na maior parte em salas cheias, boas críticas. Acho que não podemos pedir mais", disse à agência Lusa.

A companhia, que segunda-feira assinala o 25º aniversário com a apresentação do espetáculo "A Serpente" no Centro Cultural Português da Praia, tem, segundo Mano Preto, uma linguagem que define como "dança contemporânea com matriz cabo-verdiana".

"Não é só dança, incorpora várias formas de expressão artística, artes plásticas, literatura. É isso que dá essa linguagem", salientou, dizendo que os cabo-verdianos espalhados pelo mundo também trazem influência e universalidade.

E, quando cumpre 25 anos de existência, a companhia vive dias de incerteza, aguardando pela definição das políticas públicas para a dança do novo Executivo saído das legislativas de março.

"Só sabendo isso claramente podemos definir qual a estratégia da Raiz di Polon. Se não houver formas de viver da dança aqui temos que emigrar outra vez", disse, apontando como hipótese o regresso às atuações internacionais.

Para breve, está prevista a estreia de um novo espetáculo. Chama-se "Coração de Lavas", de José Luís Tavares e de Duarte Melo, e é sobre Chã das Caldeiras, zona destruída pela lava durante a erupção do vulcão do Fogo em novembro de 2014.

Entre os projetos que ficaram pelo caminho, Mano Preto indicou as aulas com crianças, que foram substituídas por aulas abertas para adultos todos os dias ao final da tarde.

"Transformamos isto numa danceteria, vêm turistas, vem pessoas amigas e pedem-nos para ensinar. Dizem amanhã tenho um baile e quero aprender a dançar o funaná e nós ensinamos. Acho que isso vai ter um impacto muito grande a nível social", acredita.

Para o produtor executivo, o norte-americano, Jeff Hessney, falta "fazer tudo" ao Raiz di Polon, considerando que a razão de existir de um agrupamento artístico é o constante desafio de fazer algo que diz alguma coisa às pessoas do grupo e ao público.

Jeff Hessney perspetivou os próximos 25 anos do grupo, dizendo que provavelmente serão "com mais dores nas juntas", mas destacou a renovação trazida pelos novos elementos.

CFF/RYPE // PJA

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