Metrobus à lupa: O novo sistema de mobilidade com currículo europeu em vias de aterrar no Porto

O Porto dá as boas-vindas a um novo sistema de mobilidade no final deste verão. Em vias de chegar à Invicta, o metrobus já revolucionou várias cidades europeias. Os exemplos de Nantes, Aalborg e Pau acalentam a esperança de uma melhor resposta nos transportes públicos portuenses.

 

A revolução em curso na cidade, em matéria de mobilidade, com a construção das linhas Rosa e Rubi e a iminente chegada desta solução anfíbia entre autocarro e metro pode afigurar-se como um trunfo para o ressurgimento da Boavista como hub da cidade.

“Quando eu tinha 20 anos, a Boavista era uma das grandes centralidades da cidade do Porto. Ao longo dos últimos 30 anos, tem-se assistido a uma lenta decadência relativamente a essa centralidade”, começa por recordar Pedro Baganha, vereador do urbanismo da Câmara Municipal do Porto.

O turismo e a requalificação urbana em curso na baixa da cidade puseram fim aos anos dourados da zona ocidental da Invicta. Do ponto de vista do vereador, “urge contrariar a hiperconcentração de atividade económica no centro da cidade” e reanimar a Boavista, que vê agora nova vida com uma revolução na mobilidade.

Antídoto contra o uso de viatura própria?

De acordo com os portuenses, “já se nota, e não é de agora, uma grande dificuldade nos acessos, mesmo no interior da cidade”, por culpa do uso da viatura própria. “Se houvesse mais transportes públicos, muita gente que vem de transporte próprio, passava a vir de autocarro”, reconhecem, identificando a aposta na mobilidade como um trunfo capaz de solucionar o problema do trânsito.

É sob este mote que o metrobus chega à Invicta. “Vimos acrescentar um novo modo que complementa os sistemas que já temos implementados na cidade, como o autocarro tradicional e o metro ligeiro, e que vem ocupar um espaço de serviço de qualidade, de frequência e de pontualidade”, explica Joana Barros, arquiteta responsável pelo projeto de metrobus.

O novo sistema surge então como um antídoto ao uso da viatura própria, que promete aliviar o trânsito na cidade com a retirada de cerca de 3500 carros das estradas diariamente, servindo uma zona deficitária em termos de oferta de transportes comunitários.“Estamos a cumprir uma vocação que a Avenida [da Boavista] sempre teve, de grande distribuidor de trânsito e de fluxos de pessoas ao longo do seu trajeto”, esclarece Pedro Baganha. “Se tivéssemos a construir uma linha de metro tradicional demoraríamos muitíssimo mais tempo do que aquele que vamos levar para ter este sistema a funcionar, portanto diria que é uma poupança de investimento, que promove a rapidez na sua implementação e a flexibilidade que o próprio sistema acarreta”, acrescenta.

A dor de cabeça das obras

Contudo, a empreitada tem causado grandes constrangimentos para os moradores e comerciantes. O ruído das máquinas, o aumento do fluxo de trânsito e os constantes condicionamentos à circulação têm assombrado os dias de quem mora “às portas” da obra.

“O transtorno é muito grande, mas não estou a ver outra forma de se fazerem as coisas”, confessa uma moradora ao Porto Canal. Se por um lado, os últimos tempos têm sido complicados, por outro, os portuenses reconhecem que a zona sairá valorizada a longo-prazo. “São mais valias que temos de aceitar, há um período em que temos de aguentar tudo, espero que não seja durante muito tempo”, refletem com a consciência de que “não se consegue fazer ou terminar uma obra sem que se proceda a isto tudo que está a acontecer aqui, em termos de constrangimentos”.

No que ao período de construção diz respeito, é impossível falar em transtornos sem mencionar os constrangimentos causados aos comerciantes. “Nós reconhecemos que a atividade comercial, o pequeno comércio, o que tem porta aberta para a rua, está a ser muito sacrificado”, admite o vereador portuense.

“Estamos à espera que nos tirem a cadeia daqui da frente para ver se conseguimos ver os clientes a passar na rua”, confessa ao Porto Canal Ernesto Ruivo, proprietário do café “Forno da Boavista”. “Os clientes são como o gado, onde houver pasto é onde vão comer e, portanto, abandonaram o local, foram comer a outro lado e agora para voltarem, custa um bocadinho”, explica.

“Aqui as obras estão a andar muito bem, na nossa zona não temos razão de queixa, em termos de faturação é que já temos, porque não se fatura o mesmo”, revela Mário Rocha, proprietário do restaurante “Casa Isa”, situado na mítica avenida portuense.

Mas a restauração não é o único setor a sair prejudicado. Maria João Marques, proprietária da Escola de Música Valentim de Carvalho, admite ter receio de perder alunos no futuro, “não sei o que isto vai trazer à escola, a dificuldade dos pais deixarem aqui os alunos pode ser um obstáculo, porque esta escola vai dos três aos 90 anos e há crianças que não vêm sozinhas e não sei como vai ser”.

Questionada pelo Porto Canal, a Metro do Porto garante manter “total disponibilidade para falar com a população e minimizar todos os impactos que possam acontecer”.

Final do verão no horizonte para arranque do sistema

Os trabalhos que tanto têm impactado a vida dos portuenses deverão estar concluídos no final deste verão, altura em que passará a ser feita diariamente, entre as 06h00 e a 01h00, a ligação entre a Rotunda da Boavista e a Praça do Império.

Apesar da entrada em circulação do novo sistema estar para breve, os dez veículos encomendados pela Metro do Porto só devem chegar à cidade no final do ano. Até lá, o serviço será assegurado pela frota da STCP, que detém em exclusivo a operação do metrobus.

O novo transporte promete ligar a Casa da Música à Praça do Império em 12 minutos e, mais tarde, também à Rotunda da Anémona, em 17 minutos.

A segunda fase do projeto, que estenderá a linha até à Rotunda da Anémona, partindo da estação de Pinheiro Manso em direção a Matosinhos, ao longo de cinco novas paragens - Antunes Guimarães, Garcia de Orta, Nevogilde, Castelo do Queijo e Praça Cidade do Salvador - deverá estar concluída até ao final deste ano.

O percurso completo vai ser feito em vias exclusivas, ao longo de 75% do troço. Na Avenida Marechal Gomes da Costa a exclusividade de trânsito deixa de existir e o metrobus passa a circular numa via partilhada com os carros, de forma a “num primeiro momento, não penalizar tão fortemente o trânsito rodoviário e fazer uma experiência de convivência entre os dois modos que acreditamos que irá funciona”, justifica a arquiteta da empresa de transportes.

Recorde-se que em 2008, a expansão da Metro do Porto previa a implementação de um traçado semelhante que nunca chegou a ser implementado. 16 anos depois, a ligação chega finalmente à Invicta, com a ambição de “revolucionar a ida e a vinda de muita gente para a praia e para conhecerem mais aqui a Rotunda e a cidade do Porto em si”.

A empreitada financiada por fundos europeus representa um investimento de 76 milhões de euros que, para além das obras na via, assegura ainda a construção das estações, dos sistemas de segurança, a compra dos novos veículos a hidrogénio, bem como da central de produção de hidrogénio, que vai estar sediada na estação de recolha da STCP da Areosa, reativada para o efeito.

Depois da aprendizagem com os parentes europeus, o metrobus está prestes a chegar ao último destino, que foi sempre local de partida, de olhos postos numa melhor resposta dos transportes públicos portuenses.

Porto Canal |
 

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