Legislativas 2015

“Espelho meu, espelho meu, haver alguém mais belo do que eu?”

Sandrina Antunes - 14-09-2015 13:48:21

Depois de tanta crítica, desabafo e opinião a respeito do primeiro debate que colocou, frente a frente, o Dr. António Costa e o Dr. Passos Coelho, haverá ainda algo por dizer?

Talvez uma ideia. Uma apenas: recolocar o debate no seu devido lugar e analisar este debate na perceptiva do eleitorado. Dito de outra forma, e contrariamente ao que foi veiculado pela grande maioria dos comentadores “astutos”, o Dr. António Costa “não venceu” o debate, tal como o Dr. Passos Coelho não esteve “lá perto”, porque simplesmente não houve debate.

Na verdade, quem “perdeu” o debate não foi nenhuma destas figuras políticas em suposto confronto de ideias claras – eu disse claras? -, numa sucessão de argumentos – eu disse argumentos? – mas sim o eleitorado português. Esse foi seguramente “o perdedor” da noite, que num ato simples e mecânico, terá desligado a televisão no intervalo ou terá optado pela novela da noite, que essa sim tem o propósito assumido de entreter o povo, mantendo-o alienado da dureza da vida.

Em dissonância total com aquilo que o eleitorado português procura, assistimos a um monólogo de surdos, cada um voltado para si, falando para dentro, cada um ao seu estilo, é certo, mas procurando convencer-se a si próprio de que é “o” melhor. Enquanto que o Dr. Passos Coelho optou pela apatia total – próprio de quem já está mais morte do que vivo, ou seja, impotente perante a adversidade -, o Dr. António Costa optou por uma atitude frenética e descontrolada, debitando frases feitas, pré-programadas, numa sequência de respostas fora de contexto.

Como se ainda não bastassem os ataques mútuos descontrolados com remissões constantes ao “passado”, tropeçando, vezes sem fim, na figura incontornável de José Sócrates; assistimos a uma trapalhada de ideias desarticuladas, devidamente encapotadas com termos técnicos ainda mais obscuros – tais como plafonamento vertical e horizontal – que terão empurrado, definitivamente, os portugueses para a alienação das novelas.

Posto isto, perguntar-me-ão: e não será isto “fazer política”? E eu respondo “não”. Fazer política pressupõe duas coisas simples, porém difíceis: primeiro, saber ouvir, procurando identificar as expectativas reais do eleitorado; segundo, saber responder, indo ao encontro dessas mesmas expectativas com propostas claras e perceptíveis ao comum dos mortais. Colocar o eleitorado no centro das atenções é fazer política. Contudo “ser-se político” requer preparação, o que não terá sido o caso destes senhores neste debate frouxo e opaco.

 

Sandrina Antunes
Diretora do Curso de Ciência Política
Universidade do Minho

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