Legislativas 2015

“A vertigem das sondagens e o poder oculto dos indecisos”

Sandrina Antunes - 28-09-2015 13:14:19

O recurso à técnica da sondagem de opinião é prática comum na ciência política, contudo, o seu recurso deverá ser comedido e devidamente contextualizado sob pena de se transformar num instrumento de análise falacioso, senão mesmo perigoso, pelo facto de expressar uma realidade que poderá não existir, condicionando deste modo o sentido de voto de forma artificial.

Já em 1972, num texto curto, porém marcante, o sociólogo francês Pierre Bourdieu dissertava sobre os perigos da utilização das sondagens questionando o princípio que esteva na origem deste instrumento de análise, isto é, a ideia de que toda a gente tem opinião e de que todas as opiniões se equivalem. Apesar dos defeitos que lhes possamos apontar – que passam irremediavelmente pelo debate da existência ou inexistência de uma opinião pública; pelo questionamento dos critérios utilizados na definição da amostragem ou mesmo pela simpatia ideológica das empresas de sondagem – a medição da opinião pública poderá constituir, ainda assim, um exercício útil desde que utilizado com parcimónia e com rigor.

Dito de outra forma, a sondagem de opinião poderá constituir um instrumento útil de análise desde que não haja uma excessiva “valorização política” do sentido de voto expresso numa única sondagem de opinião. De igual modo, a sondagem poderá constituir um poderoso guia de orientação estratégico para os próprios candidatos políticos, se os dados forem analisados na sua totalidade, isto é, sem proceder à exclusão parcial de opiniões expressas.

Senão vejamos, entre os dias 21 e 25 de Setembro, as sondagens de opinião têm apontado para um empate técnico entre a coligação PSD/CDS e o PS, contudo algumas sondagens apontaram para uma vantagem clara da Coligação Portugal à Frente. Não obstante resultados dissonantes – o que já é estranho em si mesmo, pois a realidade analisada no mesmo período temporal é supostamente a mesma - a verdade é que há um elemento unificador, contudo preocupante, que se destaca em todas as sondagens: o peso significativo e crescente dos indecisos no decorrer da campanha eleitoral (na ordem dos 18% a 25%).

Perante estes resultados, pergunto: a quem se destinam estas sondagens? Ao eleitorado indeciso que agora sim, estará devidamente elucidado versus condicionado a votar num determinado partido? Ou aos partidos políticos em competição, nomeadamente ao PS e à coligação PSD/CDS, chamando atenção para a sua total incompetência e irresponsabilidade política, ao confinar mais de 20% do eleitorado a uma nova categoria de “excluídos da vida política” - os ditos indecisos - que, em sinal de protesto, irão engrossar as fileiras dos partidos de extrema esquerda e direita? Há algo de suficientemente caricato ou de profundamente triste em tudo isto quando relembramos os slogans eleitoralistas do PS e do PSD/CDS, a dita alternativa de confiança ou a coligação que levará Portugal mais à frente.

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