Legislativas 2015

"Os abstencionistas"

Fernando Tavares - 24-09-2015 17:25:35

As eleições lançam sempre este debate, apesar de desta vez ninguém estar por agora muito virado para aí, tenho a certeza que, se não for antes, na noite eleitoral é garantido. É assim aquele assunto em que ninguém quer mexer, ninguém contraria ninguém. Uns varrem para debaixo do tapete, outros lembram a importância do grito deles, nem que seja apenas nesse momento e outros ainda, mais sofisticados, juntam os brancos, nulos para dizer que a maioria do povo não votou.

Dito de outro modo, o abstencionista é que é esclarecido. O abstencionista ficou em casa, foi à praia, comer uma francesinha e depois sentou-se em frente ao televisor para ver o resultado. Mas, num elevadíssimo acto de modéstia, o abstencionista acha que sim e coisa e tal e que essa cambada rouba porque alguém os elege. Mais, a ausência de voto dele deveria valer tanto como um voto expresso. Em assuntos políticos, sobretudo nestes, o abstencionista só tem direitos, nunca deveres, porque isso implica uma violação dos direitos, liberdades e garantias. A mesma Constituição que ele jura nada valer.

O abstencionista reclama democracia e a Democracia, como deve ser, abarca todas as sensibilidades e opiniões, todos os credos e confissões; acontece que o abstencionista acha a Democracia uma “democracia”, o que não quer dizer que abdique dos seus fundamentos. Em assuntos políticos, sobretudo nestes, e quero falar apenas destes, o abstencionista só tem direitos, nunca deveres, porque isso é uma negação da tolerância e implica uma violação dos direitos, liberdades e garantias. A mesma Constituição que ele quase jura nada valer, olhando a que foi votada pelos tais eleitos.

O abstencionista não vai a jogo, porque não concorda com as regras, não as quer cumprir e considera que vivemos numa ditadura porque o partido dos abstencionistas não tem tempo de antena. O abstencionista acha que deveriam ter acento nos debates e, no mínimo, já que não dá para mais, para começar, olhando a que não abdica dos seus princípios de ser contra o voto, defende que os votos em branco (esses sim que representam uma posição) e os nulos teriam de dar lugar a cadeiras vazias no parlamento.

O abstencionista não participa, porque acha isso um acto menor, de uma cambada de idealistas que julgam ter algum poder, quando na realidade… Mas o abstencionista tem ideias claras sobre o Estado e o seu funcionamento. Não gosta muito é de se incomodar, é assim como aqueles pais que enjeitam os filhos, os abandonam e maltratam, mas aparecem a reclamar a herança ou a queixar-se nas revistas se os filhos por acaso ficam ricos.

O abstencionista não quer saber se a abstenção resulta de cadernos eleitorais mal feitos, ainda com muitos mortos inscritos, se há muitos emigrantes, se a pessoa não foi votar porque estava doente, impedida ou porque tem que cuidar de alguém, para ele vale tudo o mesmo, o que é importante é serem muitos. 80% seria o ideal.

Essas coisas de República, da coisa pública: igualdades, liberdades, fraternidades dão uma imensa trabalheira, são uma grande chatice. Para quê? Claro que não somos todos iguais, que mania esta… Viva a abstenção, pois esta é uma das expressões da democracia, só para que conste, uma dúvida: se não houvesse eleições como se manifestaria o abstencionista? Perdão, que estupidez a minha, o abstencionista não se manifesta, abstém-se!

 

Fernando Tavares
Jornalista

twitter facebook Google plus imprimir

+ notícias: Legislativas

PaF elege três deputados e PS um na votação no estrangeiro

A coligação Portugal à Frente (PSD/CDS) conquistou hoje três dos quatro mandatos pelos círculos da Europa e fora da Europa nas eleições legislativas de quatro de outubro, enquanto o PS elegeu o restante.

Coligação PàF e PS partilham deputados na Europa

A coligação Portugal à Frente (PàF) e o PS partilham os dois deputados atribuídos pelo círculo da Europa, mas a lista conjunta PSD/CDS foi a mais votada, alcançando o melhor resultado desde 1991.

Passos diz que coligação PSD/CDS-PP procurará entendimentos com o PS no parlamento

O presidente dos sociais-democratas afirmou no domingo que a coligação PSD/CDS-PP, sem maioria absoluta, procurará entendimentos com o PS no parlamento para fazer reformas como a da Segurança Social e irá ao encontro de todas as forças europeístas.