O caso BES ameaça tornar-se um dos temas centrais das eleições legislativas de Outubro. Os lesados do BES perseguem agora em manifestações os governantes em campanha onde quer que eles vão.
O caso não é para menos. Um Governo que em quase todos os outros aspectos cumpriu razoavelmente aquilo que se esperava dele, cometeu no BES o maior erro de toda a legislatura e, provavelmente, um dos maiores das últimas décadas em democracia.
Não foi um erro por acção. Foi um erro por omissão - o de não ter nacionalizado o BES.
A falência de um grande banco nacional, como era o BES, é um assunto de Estado, do qual o Governo não se pode alhear. As consequências são devastadoras e muitas delas imprevisíveis, podendo arrastar a falência de todo o sistema financeiro do país.
A solução para um caso destes é clássica e funciona sempre. O Governo coloca-se por detrás do Banco em dificuldades e injecta-lhe dinheiro do Estado até o pânico junto dos clientes desaparecer. No final, a nacionalização é o desfecho mais provável.
No caso do BES, o Governo virou as costas ao assunto, como se ele não lhe dissesse respeito, e entregou-o nas mãos do Banco de Portugal, que não podia fazer muito mais do que aquilo que fez. Inicialmente, a impopularidade da situação, focalizou-se no Governador do Banco de Portugal, mas, nos últimos tempos, tem vindo a deslocar-se para onde deve - o Governo.
Perante a passividade do Governo, de um dia para o outro, desapareceu um dos maiores bancos do país, e o mais antigo de todos, e, em lugar dele, nasceu um Novo Banco, criado por decreto-lei e que, como tal, não podia senão ser um nado-morto, como agora se está a ver. Ninguém o quer.
Milhares e milhares de pessoas viram traída a confiança (que o Estado deveria ter garantido) na mais antiga instituição bancária do país e, de um momento para o outro, as poupanças de uma vida esfumaram-se; empresas em actividade com linhas de crédito concedidas pelo BES sufocaram de repente; outros bancos com aplicações em activos do grupo BES ficaram ainda mais fragilizados. Não é surpreendente que as acções do BCP valham agora em Bolsa menos de cinco cêntimos e as do Banif já nem meio cêntimo valham.
No manual de instruções que um dia se venha a elaborar acerca de "Como arruinar um país", a acção do Governo no caso BES constituirá um capítulo central.
Pedro Arroja