No passado dia 17 de setembro, assistimos a um novo debate político – desta vez radiofónico – colocando o Dr. António Costa e o Dr. Passos Coelho num novo frente a frente.
À semelhança de outros colegas, devo dizer que este debate foi porventura mais esclarecedor, embora tenha ficado muito aquém daquilo que se espera de um debate político. Dito de outra forma, continuo perplexa perante a ausência de uma “estratégia política” ao longo deste debate. Quando me refiro a “estratégia política”, refiro-me a três aspectos essenciais, a saber: (i) a uma organização estratégica dos argumentos a apresentar, de acordo com a sua relevância política na percepção do eleitorado; (ii) à identificação dos principais aspectos inovadores de cada proposta em oposição aos principais adversários políticos e (iii) a aposta numa retórica virada para o futuro. Ora, este debate foi precisamente a negação de tudo isto, que na verdade se resumiu à ausência de uma estratégia política. Senão vejamos: o debate abriu com o tema Europeu; prosseguiu com o tema dos refugiados, para, de uma forma desorganizada, saltar para o tema das pensões, para a questão da sustentabilidade económica do sistema de segurança social; argumentos estes que foram entrecortados por acusações mútuas que nos levaram irremediavelmente ao passado. Posto isto, ao longo de duas horas, os portugueses, isto é, aqueles que terão eventualmente sobrevivido à discussão da Europa e à problemática dos refugiados, tiveram apenas a oportunidade de relembrar aquilo que querem esquecer: a crise política, a miséria social e as medidas de austeridade. Mais, ao longo de duas horas, o eleitorado português não conseguiu reter duas ou três propostas verdadeiramente claras e direcionadas para o futuro. E eu pergunto-me: o que é feito da estratégia política? Haverá alguma estratégia por detrás destas prestações desarticuladas, confusas e sem um propósito claro? Para um partido de esquerda como o PS que fala em “alternativa de confiança” e para uma coligação de direita que fala em “futuro”, será este o discurso esperado? Mais, onde está a coerência ideológica entre o conteúdo programático dos respectivos programas eleitorais e o discurso político? Se assim é, então para que servem os (fastidiosos) programas eleitorais de 90 ou 150 páginas? Se os próprios interessados não são capazes de vender o seu produto político de forma simples e inteligente, quem será? Para terminar, gostaria de deixar bem claro que a política é um ofício sério, ofício este que assenta num corpo teórico bem identificado na literatura e que ensina, com propriedade, como comunicar com eficácia; como chegar ao eleitorado; como afectar o comportamento eleitoral dos indivíduos, ou seja, como elaborar uma estratégia política. Porém, quando a estratégia política consiste em não ter estratégia, a coisa não pode correr bem. Não pode mesmo.
Professora Sandrina Antunes
Diretora do Curso de Ciência Política
Universidade do Minho