Último chocalheiro dos Açores entre a alegria e tristeza com classificação da UNESCO

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Porto Canal com Lusa

Redação, 01 dez (Lusa) -- O último chocalheiro dos Açores, António Ferreira da Costa, de 80 anos, disse hoje à agência Lusa sentir um misto de "alegria e tristeza" com a classificação atribuída pela UNESCO ao fabrico de chocalhos.

"É uma alegria, porque é reconhecido, e torna-se triste, porque isto vai desaparecer no futuro, é certo", afirmou António Ferreira da Costa, vaticinando, ao telefone, a partir de Posto Santo, concelho de Angra de Heroísmo, na ilha Terceira, onde reside, o futuro de uma arte a que se dedicou desde que "saiu da tropa", em 1956, mas a tempo inteiro só depois de se reformar.

Numa das divisões da sua casa, a que chama museu, estão cerca de 700 chocalhos, uma coleção que tem despertado a curiosidade de muitas pessoas.

"Ainda hoje vieram dois rapazes da Praia [da Vitória] e perguntaram 'é o senhor que faz chocalhos?'. Ao verem disseram 'ai o que está aqui'", comentou, garantindo que "toda a gente que vai ver consola-se".

No acervo que dispõe no "museu", António Ferreira da Costa assegura que não falta variedade.

"Tenho os tamanhos que me pedem e com variedade, para cabras, para vacas", frisou o antigo agricultor, cujos filhos, "encarreirados", têm outras ocupações, mas ainda esperançado em que algum neto se interesse pela atividade que hoje a UNESCO distinguiu como Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.

Lamentando que esteja a "ficar velho" e que "não haja ninguém para aprender", António Ferreira da Costa insiste no desinteresse de uma geração mais nova: "Os rapazes de hoje não querem saber deste trabalho".

Por outro lado, nota que os criadores de gado já não colocam chocalhos nas vacas.

"Não tem ninguém que continue", repetiu, convicto de que os filhos vão, pelo menos, estimar o seu legado ao qual continua a dedicar-se, "sempre que há pachorra".

Ainda hoje, contou, fez mais três chocalhos, para juntar a uma coleção que inclui os símbolos de ganadarias.

Segundo uma nota de imprensa da Câmara de Angra do Heroísmo, António Ferreira da Costa recebeu por herança do pai "algumas cabeças de gado", mas "cedo concluiu pela necessidade de desenvolver outras atividades, nomeadamente a de ferrador".

Em 1987, depois de se reformar, António Ferreira da Costa "iniciou a sua atividade como chocalheiro", acabando por ganhar "grande notoriedade com a titularidade de único mestre desta arte com residência no arquipélago dos Açores", adianta o município.

O fabrico de chocalhos em Portugal, ofício e manifestação cultural que tem no Alentejo a sua maior expressão a nível nacional, foi hoje classificado pela UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura como Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.

Em Portugal, há sete zonas onde ainda "moram" chocalheiros, muitos deles com idade avançada. O roteiro passa por três concelhos do Alentejo - Estremoz, Reguengos de Monsaraz e Viana do Alentejo -, assim como por Bragança, Tomar, Cartaxo e Angra do Heroísmo, cuja câmara congratulou-se hoje com a classificação da UNESCO.

SR (RRL) // MAG

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