Final de Chegas de Bois de Montalegre atraiu mais de mil pessoas
Porto Canal / Agências
Montalegre, 08 ago (Lusa) -- A final do campeonato de Chegas de Bois de Montalegre, desporto-rei da região, atraiu hoje mais de mil pessoas ao "chegódromo" que, entre aplausos e gargalhadas, gritavam pelos touros finalistas com mais de uma tonelada.
Desde 09 de junho, as tardes de domingo são sinónimas de romaria nesta vila de Trás-os-Montes. No recinto próprio para a luta dos animais - "chegódromo" - os bois de raça barrosã são colocados frente a frente, entrelaçam os cornos, afastam-se e voltam ao confronto que termina quando um dos touros foge, assumindo a derrota.
A tradição é antiga, passa de geração em geração e atrai pessoas como se de um jogo de futebol se tratasse com primeira e segunda jornada, quartos-de-final, meias-finais e final.
Apesar do calor, miúdos e graúdos acorreram ao recinto e comentavam, em várias línguas, as "cornadas" dos animais.
Ma final, depois de dois minutos de confronto, foi conhecido o boi vencedor que, para muitos, foi uma surpresa.
"Se o outro touro não cai e foge, este não ganhava", ouvia-se entre os espetadores.
O proprietário do boi vencedor, José Martins, confessou estar à espera da vitória, apesar de ter estado toda a chega com o "coração nas mãos", porque o adversário era "muito forte".
Afinal, disse surpreendido, "foi uma chega fácil".
Não revelando a tática da vitória, José Martins avançou que, antes de entrar em campo, diz ao animal "é boi" e ele, habituado a estes palcos, sabe o que fazer.
O produtor referiu já ter chegado a outras finais, mas nunca ganhou, sendo este o primeiro prémio do seu currículo.
Com 44 anos, o vencedor sempre teve touros, herança que quer preservar e, prova disso, é o filho já o acompanhar.
"Toco e berro ao boi", explicou à Lusa o filho do criador, Pedro Martins de oito anos.
Destemido e de varra na mão, o rapaz entrou no "chegódromo" com o pai e, nervoso, foi gritando "vai".
Quando crescer, Pedro Martins não quer ser jogador de futebol, mas produtor de gado.
Os emigrantes não esqueceram as tradições e de gorros e t-shirts com as cores de Portugal não se inibiram de fazer comentários.
A viver na França, Mário Dias confessou que não perde uma chega porque é uma "tradição de Portugal e da aldeia".
De férias em Montalegre e de cão ao colo, Inês Rocha comentava que "de vez em quando" vem com o pai às chegas para ver os bois "escornarem-se".
"Sempre vim ver chegas porque é a altura de reaver pessoas e dar a conhecer a tradição aos garotos", afiançou à Lusa Jorge Martins, a residir em França.
A filha, apesar de falar pouco português, afirmou "adorar" as chegas.
Organizadas pela Associação "O Boi do Povo", as chegas têm por objetivo preservar uma tradição e a raça barrosã, em vias de extinção, bem como atrair pessoas a Montalegre.
"Juntamos mais de mil pessoas nas chegas. Isto parece mesmo um campeonato do mundo", rematou.
Este ano, acrescentou, houve uma diminuição no número de espetadores devido à chuva, frio e preço dos bilhetes que subiu de cinco para dez euros.
Independentemente do resultado da chega, cada animal recebeu 500 euros e o finalista arrecadou 750 euros.
O "chegódromo" tem, numa carrinha improvisada, cervejas, sumos, água e tremoços à venda e, para distrair os espetadores no intervalo, um ecrã com chegas de anos anteriores.
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