Principal consequência será na liberdade dos cidadãos
Porto Canal / Agências
Lisboa, 08 jan (Lusa) - O investigador e professor Paulo Mendes Pinto classificou hoje o ataque de quarta-feira ao jornal satírico francês Charlie Hebdo como um atentado contra a dimensão cultural do Ocidente, considerando que terá consequências na liberdade dos cidadãos.
"Este atentado foi feito contra um jornal[...] no coração de França, o grande país das liberdades. Não arriscaria fazer um paralelo direto, mas tal como o atentado às Torres Gémeas [em Nova Iorque] foi contra uma dimensão do ocidente enquanto economia global, este é um atentado contra o ocidente enquanto dimensão cultural, enquanto civilização", disse Paulo Mendes Pinto à agência Lusa.
O investigador, que dirige o Instituto Al-Muhaidib de Estudos Islâmicos e a área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona, entende, por isso, que terá, em primeiro lugar, consequências na noção ocidental de liberdade.
"A grande consequência vai ser no campo da liberdade porque de certeza que os governos europeus, num curto tempo, vão começar a equacionar formas de relativizar a própria liberdade dos cidadãos no equilíbrio com as questões da segurança", disse, admitindo que possam vir a ser impostas restrições.
"A liberdade enquanto princípio acima de todos os outros pode ser história neste momento", disse, adiantando que o atentado terá ainda consequências relevantes para as comunidades islâmicas na Europa.
Para Paulo Mendes Pinto, o ataque ao Charlie Hebdo foi "uma peça bastante vistosa para que quem quer acusar todo o Islão de ser terrorista o faça e para que o discurso populista encaixe e possamos ter o crescimento de forças xenófobas de extrema-direita e de movimentos populares" que a qualquer momento podem retaliar - como já aconteceu durante a noite de hoje em Paris - contra mesquitas e locais muçulmanos.
"Qualquer muçulmano passa a ser alvo de uma ira popular descontrolada", acrescentou o investigador, sublinhando a importância das declarações públicas dos líderes religiosos e de outros muçulmanos a favor "dos princípios de liberdade que a Europa defende".
Paulo Mendes Pinto lembrou que a comunidade muçulmana em Portugal "é pacífica" e está "perfeitamente integrada", mas considerou que, se o clima de tensão se tornar constante em França, com novos ataques e retaliações, "o populismo cimentado na desinformação pode ter consequências desagradáveis".
Doze pessoas, entre as quais cinco dos principais caricaturistas do Charlie Hebdo (Charb, Wolinski, Cabu, Tignous e Honoré) e o economista Bernard Maris, foram mortas na quarta-feira quando homens armados atacaram os escritórios do jornal, no centro de Paris.
Os autores gritaram "Allah Akbar" (Alá é Grande) e afirmaram pretender "vingar o profeta" Maomé.
As forças de segurança francesas lançaram uma intensa operação para encontrar dois suspeitos do ataque, identificados como sendo os irmãos Chérif e Said Kouachi, de 32 e 34 anos.
Chérif é conhecido dos serviços antiterroristas franceses, tendo sido condenado em 2008 a três anos de prisão, 18 meses dos quais a pena suspensa, pela participação numa rede de envio de combatentes para a Al-Qaida no Iraque.
Um terceiro suspeito do atentado ao Charlie Hebdo, de 18 anos, entregou-se às autoridades.
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