Presidente da APImprensa critica “máquinas de comunicação” das autarquias
Porto Canal/Agências
A presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (APImprensa) critica, em entrevista à Lusa, as “máquinas de comunicação das autarquias” melhores do que algumas equipas de jornais, que contribuem para uma comunicação não escrutinada.
Cláudia Maia refere que “uma das propostas que a associação tem feito ao Governo é a promoção da literacia mediática, através da compra de jornais em bibliotecas, espaços públicos, lojas do cidadão e escolas.”
Ainda assim, “para algumas autarquias interessa que não haja jornais, são municípios que têm máquinas de comunicação muito fortes, às vezes máquinas de comunicação muito melhores do que as equipas dos jornais”, afirma.
Cláudia Maia explica que estas autarquias "comunicam o que querem, sem filtros, sem escrutínio e, portanto, interessa às vezes que não haja a distribuição de jornais".
Quando foi apresentado, em outubro de 2024, o Plano de Ação para a Comunicação Social, referia haver quatro concelhos no país que não estavam a receber publicações periódicas: Alcoutim, Freixo de Espada à Cinta, Marvão e Vimioso.
A presidente da APImprensa explica que, após uma negociação no ano passado e um apoio do anterior governo para que houvesse distribuição de jornais nestes locais, dois deles (Vimioso e Marvão) não estavam interessados e ainda hoje não têm pontos de venda.
Para a Cláudia Maia, em causa está uma comunicação não escrutinada, pois as ferramentas de comunicação dos municípios têm orçamentos e recursos muito superiores aos dos jornais regionais, substituindo a função de imprensa local.
No documento Revisão de Incentivos do Estado da associação, divulgado em agosto, a APImprensa denuncia que as estratégias de comunicação das câmaras municipais não só não cumprem a obrigação legal de publicitar as deliberações e medidas na imprensa regional, como ocultam ou retêm informação para a utilizarem nas suas próprias publicações institucionais e difundir conteúdos não sujeitos a escrutínio jornalístico.
“Esta prática prejudica o direito dos cidadãos a receber informação plural e verificada e coloca em causa, em último grau, o direito à liberdade de imprensa dos cidadãos destas comunidades”, lê-se no documento.
Numa perspetiva para 2026, Cláudia Maia considera que o desafio para os media “se resume a uma palavra: sustentabilidade”.
A responsável remata que “sem sustentabilidade não há jornais, sem jornais não há democracia”.
