Prestes a cumprir o primeiro ano na presidência do FC Porto, André Villas-Boas concedeu uma grande entrevista ao jornal O JOGO e ao Jornal de Notícias, na qual fez um ponto de situação sobre o estado atual da Liga Portuguesa, falou sobre temas tão relevantes como a arbitragem ou os direitos televisivos e abordou a relação institucional com os clubes de Lisboa.

Sem esconder a “desilusão enorme” sentida depois de o Benfica e o Sporting terem permanecido em silêncio após a morte de Jorge Nuno Pinto da Costa, o sucessor garantiu que desde que chegou à presidência do clube “tem tentado reatar um clima de paz, com o intuito único de melhorar o ambiente do futebol português e de o fazer crescer” e que encara a posição assumida pelos rivais lisboetas como “uma profunda falta de respeito pela instituição, pela família, por Jorge Nuno Pinto da Costa e pelo desporto português”. “É uma ferida que fica aberta e que para mim tem repercussões imediatas e futuras diretas”, reforçou.

Durante o primeiro ano de mandato, André Villas-Boas marcou presença em duas cimeiras de presidentes e aproveitou para “sugerir a organização de grupos de intervenção de operação sobre problemas evidentes que o futebol português tem, desde logo relacionados com a tecnologia VAR”. “Tenho discutido intensamente a falta de posicionamento que têm tido os organismos, a FPF e os seus candidatos, os candidatos da Liga, candidatos a conselhos de arbitragem e disciplina, no combate à corrupção”, revelou com a certeza de que “estes processos ensombram diariamente a credibilidade das instituições desportivas” e devem “ser condenados de forma evidente e imediata”.

Preocupado com a “ausência de tomada de posição convicta e assertiva por parte das instituições”, o presidente recorda que “não cabe ao FC Porto apresentar uma proposta”, ainda que o clube esteja empenhado em garantir que a tecnologia VAR é “implementada a 100% em todos os estádios" e, nesse sentido, sugere que as “vistorias aos estádios sejam eficazes” e que “uma nova entidade para a arbitragem, para profissionalizar o setor, pode fazer a diferença”.

A poucos dias das eleições para a Liga Portugal, André Villas-Boas revela que “houve um estudo prévio dos quatro grandes sobre as candidaturas disponíveis” e que o clube reuniu mais tarde “com todos os candidatos”. “O FC Porto apoia a candidatura de José Mendes porque as equipas por si reunidas e o seu programa são muito superiores às equipas de Reinaldo Teixeira”, assumiu lamentando que “as ideias, programas e equipas não estejam a ser consideradas só porque anteriormente alguns clubes assumiram um compromisso de palavra” com o outro candidato. “Não me parece normal que os desígnios do futebol português estejam agora colocados por uma questão de palavra quando a diferença de competências, de experiência e de programa é evidente”, declarou.

No que diz respeito aos direitos televisivos, “um processo sensível porque não só os grandes não querem perder valor, como os outros clubes querem receber mais”, o presidente do FC Porto recorda que em Portugal se vive “um cenário bastante diferente de outras ligas, onde três clubes dominam 90% do mercado, o que afeta imediatamente a forma como se deve olhar para os direitos audiovisuais”.

Questionado sobre um possível alinhamento entre o Benfica e o Sporting que possa prejudicar o FC Porto nesta temática, André Villas-Boas garante que “o FC Porto é um clube poderoso, o clube com mais títulos internacionais do futebol português e que trabalha com um sentido de melhoria do produto do futebol português”. “Se os dois de Lisboa se alinharem num sentido de excluir o FC Porto, seguramente perderão muito, porque se há algo que nos alimenta é, precisamente, o seu alinhamento contra nós”, concluiu.