Museu da Chapelaria em São João da Madeira reabre com mostras exclusivas sobre Dior após adaptação a inglês e braille
Porto Canal/ Agências
O Museu da Chapelaria reabre ao público sábado e, após seis meses de obras para integrar novos conteúdos na mostra permanente e os interpretar em inglês e braille, estreia duas exposições sobre a marca francesa de alta-costura Dior.
Segundo a diretora desse equipamento cultural de São João da Madeira, o museu do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto propõe assim uma mostra sobre o tratamento que a casa francesa teve na imprensa feminina portuguesa a partir de 1947 e outra sobre o impacto dos chapéus da Maison Dior nos conceitos de estética e luxo após a II Guerra Mundial.
“A mostra relativa à imprensa portuguesa resulta de uma investigação nossa e a referente aos chapéus foi concebida com o Museu Christian Dior, de Granville, especificamente para a nossa Sala de Exposições Temporárias. Marca assim a estreia da Maison Dior em Portugal no contexto de uma exposição exclusiva, feita à medida”, declarou Tânia Reis à Lusa.
As duas mostras estarão disponíveis até 20 de abril no espaço cultural que, após uma intervenção financiada em 25.000 euros pela Câmara de São João da Madeira e em 50.000 pelo ProMuseus – Programa de Apoio Financeiro a Equipamentos da Rede Portuguesa de Museus, se apresenta agora “mais inclusivo e acessível”.
Tânia Reis dá exemplos: “O percurso passou a ter direções de orientação, com recurso a plantas de relevo legendadas em português, inglês e braille, e a piso podotátil. Os conteúdos interpretativos também ficaram com uma linguagem mais clara e acessível, e com códigos QR que permitem visualizar imagens da fábrica que funcionou no edifício do Museu até aos anos 1990”.
À sala permanente foram ainda adicionados conteúdos sobre a história da indústria chapeleira na região e no país, e memórias de antigos funcionários do setor – sendo que “o papel da mulher operária, praticamente inexistente na anterior museografia, está agora evidenciado ao longo de todo o percurso”.
A intervenção também acrescentou mais chapéus à exposição e implementou condições técnicas para que, “no futuro”, se possam adicionar audiodescrições aos diversos conteúdos do percurso, através de equipamento multimédia.
A empreitada incluiu igualmente a criação de um fraldário acessível, cujo caráter inovador a diretora do museu realça: “De acordo com a associação Acesso Cultura [que promove a acessibilidade física, intelectual e social à participação nesse domínio], seremos o primeiro equipamento cultural do país a estar equipado com um fraldário assim”.
Comparando a oferta atual com a disponível até julho de 2024, Tânia Reis reconhece: “Aquando das visitas livres, sem recurso a mediação, era frequente ouvirmos ‘Eu não estou a perceber nada’, mesmo por visitantes que têm a língua portuguesa como primeiro idioma. Sempre que recebíamos visitantes e turistas estrangeiros, a visita livre era quase impossível e nenhum dos conteúdos da exposição permanente era apresentado em inglês. Isto implicava que a equipa da casa recorrentemente parasse os seus trabalhos de investigação e conservação para acompanhar visitantes que se deslocavam propositadamente a São João da Madeira para visitar o Museu da Chapelaria e, quando aqui chegavam, não conseguiam compreender os seus conteúdos”.
A garantia da diretora do museu é que, mesmo numa visita sem guia, a experiência será agora totalmente diferente: “A dimensão patrimonial e humana da indústria da chapelaria está potenciada através da apresentação de fotografias de várias épocas de laboração da fábrica e a narrativa que antes o público só ficava a conhecer numa visita guiada está agora disponível de forma autónoma, com linguagem clara e acessível”.
Se antes os conteúdos temporários já se distinguiam como os únicos bilingues, às respetivas placas em português e inglês passam a acrescentar-se também folhas de sala em braille, como se verificará logo na exposição sobre o tratamento dado à Dior pela imprensa nacional.
Essa mostra parte de uma investigação a três revistas femininas de referência em meados do século XX – Eva, Voga e Modas & Bordados - Vida Feminina – e analisa o impacto que teve na elite portuguesa, a partir de 1947, o estilo “New Look” criado por Christian Dior (1905-1957).
A exposição vai assim abordar aspetos como o lançamento em 1954 de “O Pequeno Dicionário de Moda” – em que o costureiro francês revelava segredos do estilo e aconselhava “o que vestir, como andar com graça ou que tipo de chapéu usar em diferentes ocasiões” – e recordar eventos como a conferência que o mesmo ‘designer’ deu em 1955 na Sorbonne – onde, perante 4.000 pessoas, “foi o primeiro estilista a filosofar sobre a Estética da Moda” em 700 anos de história dessa universidade.
Já quanto à exposição “Chapéus Dior”, procurará demonstrar as razões pelas quais o costureiro considerava esse acessório “a quintessência da feminilidade”. Com 15 exemplares desenhados pelo estilista, a mostra propõe assim uma reflexão sobre a importância do chapéu não apenas como elemento essencial do estilo Dior e da alta-costura em geral, mas também como símbolo histórico e social de determinada época e geografia.