Ciclistas tomam conta do corredor do metrobus na Boavista enquanto não chegam autocarros

Ciclistas tomam conta do corredor do metrobus na Boavista enquanto não chegam autocarros
Foto: Porto Canal
| Porto
João Nogueira

O relógio marca as 10 horas de uma manhã já calma, depois da habitual hora de ponta marcada pelo forte trânsito no centro do Porto. Estamos na Avenida da Boavista, cortada ao meio recentemente por um corredor vermelho onde irá circular o metrobus. O impasse do arranque da operação continua a vigorar no corredor que é utilizado todos os dias por modos suaves: bicicletas, trotinetas e até patins. “Fizeram-nos uma ciclovia sem querer”, disse-nos um dos portuenses que diariamente faz uso da via para se deslocar para o trabalho. A ele juntam-se cerca de duas dezenas de bicicletas que, em apenas uma hora, passaram por ali.

 
 
 
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Enquanto a cidade aguarda a chegada dos veículos a hidrogénio do metrobus, o corredor central e segregado da Avenida da Boavista tornou-se uma alternativa improvisada para quem opta por meio de transporte mais sustentáveis, nomeadamente as bicicletas.

A situação atual é, para muitos, uma solução improvisada que, apesar de temporária, coloca em evidência um problema maior: a falta de ciclovias permanentes no Porto. "É uma vergonha que não se tenha aproveitado a obra para criar uma ciclovia”, declarou o portuense João Pedro Cardoso, que atravessa aquela via diariamente de bicicleta.

“A cidade precisava de mais infraestruturas para modos suaves de transporte, especialmente na Baixa, onde é muito perigoso andar de bicicleta", continuou. Segundo ele, é recorrente a utilização do tapete do metrobus por parte de ciclistas: "Já vi várias pessoas a usar, tanto a ir como a vir do trabalho, com bicicletas e trotinetes. Quando começar o metrobus terei que utilizar a faixa dos carros, para a minha infelicidade, e espero que eles arranjem uma alternativa até lá”.

O metrobus permanece atualmente em impasse porque a obra está concluída, as estações estão prontas, mas os autocarros a hidrogénio que deviam operar naquele corredor ainda não foram entregues à Metro do Porto, que fez a encomenda dos mesmos.

O estimado é que os primeiros dois dos 12 autocarros cheguem ainda no final deste mês, ou início de fevereiro.

Questionada pelo Porto Canal, a Metro do Porto optou não responder.

Já o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, referiu que “não há nada que impeça que a via seja partilhada”. “Vão autocarros, bicicletas e motociclos e vão automóveis. E isso ainda por cima tem uma grande vantagem,é que reduz a velocidade”, declarou o autarca à margem de uma conferência de imprensa realizada esta quinta-feira.

Miguel Almada, de 62 anos, também utiliza a via todos os dias para se deslocar de bicicleta. Ainda assim, como residente no Porto e conhecendo o trânsito caótico que marca a cidade, diz ter uma perspetiva diferente: "Acho pena que se tenha roubado tanto espaço aos automóveis. Eu sou condutor de automóveis também, e, nas horas de ponta, sinto dificuldades para sair da cidade. A bicicleta ajuda-me a contornar isso", diz Miguel, que, apesar de reconhecer a vantagem de ter mais espaço para pedalar, lamenta a redução de vias para os carros, reduzindo a fluidez do trânsito.

"Quando a via do metrobus for ocupada pelos autocarros, não vejo isso de forma negativa. O importante é que os ciclistas sejam respeitados na estrada e que sigam as normas de segurança, como usar luzes e capacetes", acrescentou.

Apesar de a via atualmente estar praticamente deserta, a ocupação pelos ciclistas não é vista por todos como uma vantagem.

Aliás, o brasileiro Rodrigo Lima defende que se trata mesmo de uma falha de planeamento urbano. "Na verdade, isso é um erro. A Avenida da Boavista é um dos lugares mais fáceis de implementar uma ciclovia, e não faz sentido gastar tanto dinheiro sem criar uma infraestrutura para a mobilidade ativa", afirmou

Para o brasileiro, a ciclovia é uma necessidade urgente, e a Avenida da Boavista é o lugar ideal para sua implementação, dada a largura da via e o facto de a obra já ter feito alterações no tráfego.

No meio de todo esse cenário, Igor Panamarofe, de 19 anos, é um exemplo de quem utiliza a via sem saber muito bem para o que ela foi originalmente projetada. "Eu vi que este espaço estava livre e comecei a usar. Até pensava que era uma ciclovia", disse o jovem, que desconhecia que aquela faixa era destinada ao metrobus. Para ele, a via oferece um percurso sem carros e mais seguro, embora tenha de ficar atento aos cruzamentos, por força de uma sinalização confusa e que deixa a desejar.

O episódio evidencia, no entanto, um problema levantado múltiplas vezes pela Câmara do Porto, e nomeadamente pelo Grupo de Trabalho da Assembleia Municipal: a falta de comunicação do estado atual das obras.

"Eu não estou a par das notícias. As pessoas aqui não estão a par do que está a acontecer. Não percebo por que razão ainda não abriram a via do metrobus", afirmou Miguel Almada.

Associação pediu uso do corredor

De recordar que a MUBi, Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, chegou a pedir o uso provisório da via do metrobus como ciclovia e instou a Câmara e a Metro do Porto a repensar o projeto "como um todo", com padrões europeus.

"Na sequência dos testes das obras do metrobus feitos pela STCP em outubro de 2024, a MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, vem requerer que a via exclusiva para o metrobus seja transformada em ciclovia nos dias de semana e em espaço de lazer para as crianças e jovens aos fins de semana, pelo menos provisoriamente, isto é, até que as viaturas do metrobus cheguem", pode ler-se no comunicado da associação divulgado à data.

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