Espaço T assinala 30 anos de vida no Porto com vontade de atrair investimento estrangeiro
Porto Canal/ Agências
Associação fundada há 30 anos no Porto e que utiliza a arte como instrumento de desenvolvimento pessoal, o Espaço T sobreviveu a duas ameaças de encerramento e pretende expandir-se para Lisboa e atrair financiamento estrangeiro.
Jorge Oliveira, fundador e desde sempre o presidente da instituição, desfiou para a Lusa as histórias de três décadas de intervenção, que começaram bem antes da criação da associação, em novembro de 1994.
“Sem que o soubesse, foi o inconformismo e a rebeldia que me caracterizaram na juventude que me conduziram a esta situação, pois eu queria ser ator, mas o meu pai não deixou e fui para enfermagem, trabalhando com toxicodependentes”, contou o dirigente da associação.
Concluído o curso de gestão de empresas, aos 27 anos, Jorge Oliveira sentiu que reunia “todos os argumentos [saúde, artes e gestão] para fundar uma associação de apoio a pessoas através da arte”.
“O Espaço T surgiu como uma luta contra o sistema que vê as pessoas como gavetas e que não podem ser mais do que aquilo que são”, explicou sobre a fundação da associação que teve a sua primeira sede na casa onde vivia, na Rua de Camões.
De “horizontes largos”, Jorge Oliveira quis “fundar a associação para chegar aos toxicodependentes, doentes oncológicos, cegos, seropositivos, doentes mentais, idosos, crianças, através de práticas artísticas”, disse.
Pouco tempo depois, o Espaço T mudou-se para uma sala no centro comercial Capitólio até que, “seis anos depois, a consciencialização pelos donos do espaço comercial de que estava todo ocupado pela associação, sem que pagassem nada, ditou uma ordem de despejo”, recordou entre sorrisos.
“Nessa altura já tínhamos muita atividade, pois em 1998 tornámo-nos uma instituição particular de solidariedade social com fins de saúde e estatuto de utilidade pública”, contextualizou o responsável que se viu então, em 2002, perante a primeira ameaça de encerramento da associação.
A solução, num tempo em que “era proibido despejar associações”, veio da “Câmara do Porto que cedeu as instalações da antiga Escola Primária da Sé depois da intervenção do então Governador Civil do Porto, Manuel Moreira”, local onde até hoje desenvolvem apoio social, disse.
Atualmente têm seis espaços físicos, cinco no Porto e um na Trofa, sendo que desenvolvem atividade ainda em bairros e centros de dia, trabalhando diretamente com 2.500 utentes apoiados por 30 funcionários a tempo inteiro e 100 colaboradores em ‘part-time’, assinalou.
A segunda ameaça coincidiu com a chegada da ‘troika’, apanhando a associação em crescimento fruto de “novos projetos e dinâmicas” entre eles o dos centros de qualificação, que tiveram de encerrar e que tiveram um “forte impacto nas receitas do Espaço T”, recordou o presidente da instituição.
Tal obrigou ao despedimento de 11 pessoas e ao acumular de dívidas, lembrando o dirigente que “tanto os bancos como a Segurança Social” o aconselharam a fechar as portas.
“Durante cinco anos pagámos os salários aos bocados, porque tínhamos de pagar a Segurança Social, e houve até três meses em que não pagámos salários, mas nenhum utente se apercebeu disso, pois conseguimos manter os nossos colaboradores empenhados”, contou.
Desse tempo, recorda, “aprenderam a trabalhar mais com menos recursos” vivendo hoje “uma situação equilibrada, fruto, também da criação do Fórum de Cuidadores, uma estrutura que reúne várias personalidades e empresários, escolhida para pensar o Espaço T”.
“Uma das apostas para o futuro é reduzir a dependência do financiamento do Estado para garantir a atividade da associação, procurando novas fontes de financiamento”, frisou o dirigente que sobre os sonhos, deixou metas ambiciosas.
Segundo Jorge Oliveira para além da “melhoria da sustentabilidade e do financiamento”, a direção quer “abrir uma filial em Lisboa e internacionalizar o Espaço T”.
“No estrangeiro há muito financiamento e organizações a pensar de forma muito abrangente e com mais impacto”, enfatizou.