Serralves acolhe maior exposição monográfica de Francisco Tropa
Porto Canal / Agências
O Museu de Serralves, no Porto, acolhe a partir desta quinta-feira “ⒶMO-TE”, a maior exposição monográfica do artista Francisco Tropa, numa viagem em torno de três projetos realizados em cada década do seu percurso.
“A exposição desenvolve-se em dois capítulos: o primeiro inaugura esta quinta-feira aqui em Serralves, o segundo no Museu Nacional do Mónaco - inaugura a 05 de dezembro – e esta colaboração distingue-se da colaboração habitual entre museus. Neste caso, os dois museus, em termos de espaço são tão diferentes que o Francisco decidiu que dar respostas concretas […], portanto faria dois radicalmente diferentes”, explicou o comissário da exposição, Ricardo Nicolau.
No museu o objetivo foi “escapar à tentação de mostrar muita coisa, pelo que, neste caso, apesar da dimensão da exposição, ela está concentrada em projetos específicos que de alguma forma tem componente retrospetiva”.
Patente até 11 de maio, a exposição organiza-se em torno de três projetos do artista realizados em cada década do seu percurso, entendidos como momentos fundamentais da sua prática.
Os “Protótipos” maioritariamente produzidos nos anos de 1990 e início dos anos 2000 - em exposição no Mezanino da Biblioteca de Serralves – são uma espécie de “museu da ciência, carregado de coisas para ver e ler”, remetendo o público também para uma ideia de arquivo, contou Francisco Tropa.
Nas Galerias do Museu de Serralves, por onde começou esta quinta-feira uma visita para a imprensa, a viagem começa com “O Enigma de RM”, o seu mais recente trabalho e “talvez”, assume o artista, o “mais enigmático” e no qual trabalhou cerca de cinco anos.
Descrita como uma exposição autónoma dentro de outra exposição, “O Enigma de RM” é composto por três estruturas principais: “Cimaises”, “Étoiles” e “Fountain”.
Em ambos os lados de cada oito painéis pode observar-se uma composição diferente de objetos e imagem, que exploram a ideia de justaposição.
Posicionadas por entre essas “Cimaises” estão três “Étoiles”, esculturas de bronze fundidas pintadas para se assemelharem a secções de uma parede de pedra e argamassa com uma luz brilhante que pisca através de uma fenda, numa referência a estruturas binárias, elemento comum nestes trabalhos de Francisco Tropa.
O elemento central, “Fountain”, é simultaneamente uma escultura e um instrumento de percussão que, em janeiro, será “ativada” pelo artista em concerto.
Todos os elementos nas esculturas têm associações duplas ou triplas, tendo sido escolhidos pela sua multiplicidade.
Ao visitante é dado um conjunto de pistas - algumas dadas pela visão, tão importante no trabalho de Tropa – que este reconhece e que “depois vai cozendo com o que ele conhece”.
Iniciado em 2005 e desenvolvido ao longo de vários anos, “A Assembleia de Euclides” incorpora escultura, performance, fotografia e filme, composta por duas grandes esculturas-cenário: “O Transe do Ciclista” e “A Marca do Seio”.
“Estes projetos podem ser observados imóveis, mas, de vez em quando, são ativadas [em simultâneo] por dois ‘performers’. ‘O Transe do Ciclista’ é digamos a parte masculina e ‘A Marca do Seio’ a parte feminina. Mais uma vez o projeto está organizado de forma binária. A grande referência para este projeto é ideia da criação do mundo, sobretudo vista na pintura medieval”, explicou, acrescentando que este trabalho está repleto de referências à cultura clássica, “mas modificadas, dirigidas, misturadas com referências mais recentes”.
Comissariada por Ricardo Nicolau, coordenada por Giovana Gabriel e montada em colaboração com o Museu Nacional do Mónaco, “ⒶMO-TE” é acompanhada por um programa paralelo de performances, conversas e ativações de algumas peças.
Autor de uma obra que combina escultura, desenho, performance, gravura, fotografia e filme e referências a figuras do mundo antigo e moderno das artes, ciência e literatura, Francisco Tropa construiu nos últimos 30 anos um universo em que se evidenciam uma série de reflexões alimentadas por diferentes tradições da escultura, da literatura e da mitologia.
Desde o início da sua carreira, no princípio da década de 1990, a escultura tem sido um elemento central no percurso artístico de Francisco Tropa, atraindo atenção significativa por parte de instituições e críticos.
Representou Portugal na Bienal de Veneza em 2011 e participou em eventos de renome internacional, como a Bienal de Rennes (2012), a Bienal de Istambul (2011), a Manifesta (2000), e as bienais de Melbourne e São Paulo (ambas em 1999).