José Leite é “o único do país a fazer sapatos gigantes”
Catarina Cunha
Há mais de 30 anos que José Leite dedica a sua vida a fazer sapatos de tamanho gigante, que são calçados pelos artistas de circo. Natural de Felgueiras, o artesão de 76 anos produz as ‘obras de arte’ à mão e sozinho. Nem as maleitas da idade o fazem parar de trabalhar com a sua paixão.
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É na sua oficina, sentado num pequeno banco de madeira e rodeado por materiais, que encontramos José Leite a pregar o par direito de um sapato de tamanho 55, de cor amarela. Depois de finalizado, o calçado “confortável” seguirá para um profissional de circo. Há 36 anos que esta é a rotina do artesão de Felgueiras, que se intitula o único do país que concebe calçado fora de medida.
A arte ao qual hoje em dia se dedica não lhe foi ensinada: “aprendi sozinho, ninguém me ensinou”, admite ao Porto Canal, sem tirar os olhos do seu ofício. Tudo começou, quando “um senhor me perguntou se fazia um par de sapatos gigantes, tipo de circo, e eu respondi que sim, a partir daí fui melhorando”, recorda.
Em jeito de curiosidade e com orgulho nas suas mãos calejadas, conta que o primeiro par de sapatos gigantes que fez “foi de tamanho 52 para um jovem de 18 anos de São Mamede Infesta” e o maior foi de tamanho 62 para o “homem mais alto do mundo”. Entretanto, perdeu a conta aos pedidos inusitados.
Apesar de viver longe de um grande centro urbano, o sapateiro não tem mãos a medir. Praticamente, todos os dias lhe chegam encomendas, via telefone, de várias partes do país e até do mundo. Já chegou a enviar sapatos para a França, Espanha, Roménia, Austrália, entre outros países. A par disso, anualmente marca presença em feiras nacionais de artesanato. Admite que, o passa a palavra ajudou-o a construir a sua carteira de clientes.
José Leite demora uma semana para fazer um par de sapatos. Foto: Alexandre Matos | Porto Canal
O valor de cada par de sapatos oscila “entre os 150 euros até aos 250 euros”, montante que José Leite justifica com o aumento do preço da matéria-prima. Por ser tudo concebido manualmente e tratar-se de um trabalho meticuloso, a produção e respectivo processo criativo demora cerca de uma semana. “Para fazer dois pares por semana tenho que trabalhar muito”, comenta o profissional de calçado em tom de brincadeira.
Embora as vendas sejam instáveis, o ‘Sr dos Sapatos de Palhaço’, como é carinhosamente tratado pela sua vizinhança, não trocava a sua profissão por outra: “Se aparecesse seria difícil de aceitar”. Relativamente ao futuro, o sapateiro sente tristeza só de pensar em deixar os seus sapatos gigantes para trás. Neste sentido, confessa também com amargura não ter aprendizes interessados que queiram seguir com o seu negócio. No tempo que lhe resta, basta-lhe continuar a rechear a sua vida entre a paixão que lhe acarreta alegria, diariamente.