Protesto dos bombeiros sapadores acaba com participação ao Ministério Público
Porto Canal / Agências
Rebentamento de vários petardos e ocupação da escadaria da Assembleia da República foram alguns dos momentos que marcaram a manifestação desta quarta-feira de centenas de bombeiros sapadores, um protesto que a PSP vai participar ao Ministério Público.
Os sapadores, que se apresentaram fardados, lutam por um aumento salarial para compensar a subida da inflação, idêntico ao que foi dado em 2023 pelo anterior Governo aos polícias, um subsídio de risco semelhante ao atribuído às forças de segurança e revisão do estatuto.
A concentração, promovida pelo Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS), começou cerca das 12h00, sob forte controlo policial, tendo os ânimos começado a exaltar-se pelas 12h15, quando, ao som de heavy metal e rock n’roll, rebentaram petardos e derrubaram as barreiras de proteção da escadaria do parlamento.
Os sapadores, que segundo o SNBS eram cerca de 1.000, cantaram o hino nacional e ocuparam a escadaria por completo, apesar da ordem policial para descerem.
Ao fundo da escadaria, incendiaram vários pneus e queimaram um fato de trabalho dos bombeiros, enquanto gritavam a palavra “vergonha”, responsabilizando os decisores políticos pela situação da classe.
As escadarias da AR ficaram cobertas de fumo negro, enquanto na rua, cortada ao trânsito, uma grua num camião erguia um caixão com um 'bombeiro' morto.
Cerca das 13h00, estavam sentados nas escadarias da Assembleia da República, enquanto o contingente da PSP formava um cordão à entrada do parlamento e recebia reforços da Unidade Especial de Polícia.
Durante o protesto, os manifestantes cumpriram ainda um minuto de silêncio, em homenagem aos bombeiros que morreram nos incêndios do mês passado no centro e norte do país.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do SNBS, Ricardo Cunha, afirmou que não estava prevista esta forma de protesto e responsabilizou o Governo por ter ido além do que estava autorizado.
A PSP anunciou posteriormente que vai participar ao Ministério Público a manifestação, considerando que foi violado um conjunto de regras, como a ocupação da escadaria e a realização de dois desfiles ilegais de bombeiros sapadores.
Vários deputados da oposição (IL, PCP, PAN, BE e o Chega) associaram-se à luta dos bombeiros sapadores, tendo saído do interior da Assembleia da República e descido a escadaria.
Dentro do parlamento, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, manifestou “respeito, solidariedade e gratidão” pelos bombeiros e criticou o anterior Governo do PS por ter acumulado desigualdades e injustiças.
Hugo Soares lamentou que “se tenham ultrapassado alguns limites” e “que haja partidos e dirigentes partidários que não tenham aprendido com o passado” e que “cavalguem a onda do populismo”, referindo-se diretamente ao líder do Chega, André Ventura, que acusou de ter manifestado “uma ignorância e um desconhecimento” sobre o tema.
Pelo PS, o deputado André Rijo saudou os bombeiros sapadores e considerou que estes protestos “não podem ser em vão”, lamentando que tenha havido “algumas fronteiras que foram ultrapassadas” na manifestação em frente ao parlamento.
Enquanto ainda decorria o protesto, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, mostrou-se confiante que as negociações que estão a decorrer com os bombeiros vão chegar “a um bom termo”, mas recordou que os sapadores “dependem das autarquias” e “não do Estado”.
“Os bombeiros sapadores que estão a manifestar-se em frente à Assembleia da República são bombeiros cujo patrão não é Estado, são bombeiros que dependem das autarquias”, disse a ministra.
Em resposta, a presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) afirmou que, apesar dos bombeiros sapadores serem funcionários das câmaras municipais, as autarquias não têm legitimidade para lhes alterar as condições de trabalho, cabendo essa mudança ao legislador.
A manifestação dos sapadores desmobilizou cerca das 15h00, tendo o sindicato desafiado o Governo a apresentar uma proposta negocial, após as declarações da ministra da Administração Interna.
Segundo a Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), há cerca de 3.000 bombeiros sapadores em Portugal que tem um ordenado base médio de 1.100 euros.