Megalomania, polémicas e milhares de seguidores. O percurso de Numeiro, “ícone de Barcelos”, até ao estrelato digital

Megalomania, polémicas e milhares de seguidores. O percurso de Numeiro, “ícone de Barcelos”, até ao estrelato digital
| Norte
Porto Canal

Tinha o sonho de ser milionário e viu no Youtube a chave para o sucesso. Começou a gravar vídeos aos 20 anos e rapidamente se tornou no “ídolo” de uma geração. João Barbosa, ou Numeiro, como é conhecido entre os internautas, nasceu em Barcelos, mas é já um fenómeno “por esse mundo fora”. As redes sociais e a vida de opulência que leva catapultaram-no para o estrelato do universo digital, arrecadando milhares de seguidores, num percurso sempre de mãos dadas com as polémicas de promoção de casas de apostas ilegais, queixas de manipulação e negócios “duvidosos” que valeram queixas crime.

 
 
 
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Numa viagem no tempo, Numeiro recorda o início do seu trajeto pelo mundo digital, que sempre o cativou desde tenra idade.

“Quando tinha 14 ou 15 anos, lembro-me perfeitamente de ir para o Youtube e pesquisar: “Como ser milionário?”. Nem sabia o que isso era, mas sabia que era alguém que tinha muito dinheiro”, frisa.

Movido por essa ambição, o jovem aventurou-se e à frente de uma câmara começou a somar seguidores em catadupa, tornando-se numa referência para as gerações mais novas.

De Barcelos para o mundo

O ponto de partida deu-se no Minho, mais concretamente em Barcelos, onde cresceu e de onde guarda as primeiras memórias, em casa da avó, na aldeia. Lembra-se de a ajudar no campo, “no Norte, especialmente nas aldeias, não tens outra alternativa”, confessa em conversa com o Porto Canal.

Apesar da persona extrovertida, desinibida e despreocupada sobre as opiniões que tem e que, por vezes, não reúnem consenso, João Barbosa afirma que, na sua infância, era uma criança tímida, com algumas dificuldades no campo da socialização, pelo que nada fazia prever que o “Joãozinho”, como é apelidado pelos conterrâneos, ganhasse notoriedade e mediatismo à custa de vídeos em frente a uma câmara. Com o desejo de ser milionário em mente, Numeiro pôs a vergonha de lado e acabou por encontrar no universo digital a receita para o sucesso.

“Não conhecia ninguém da área, nunca tinha pegado numa câmara na minha vida, nunca tinha editado um vídeo. Nunca foi um sonho, surgiu de repente, apareceu uma oportunidade e eu agarrei-a. Quando dei por ela, antes de pensar em ser youtuber, já o era”, recorda.

Inicialmente fazia vídeos de pranks, tentava identificar os assuntos mais polémicos e preparava partidas em torno desses temas. O vídeo pelo qual acabaria conhecido foi precisamente gravado junto de um taxista a quem perguntou como podia chamar um uber, em 2018, ano marcado pelas constantes quezílias entre os dois serviços.

“Foi o vídeo que me lançou completamente. Os taxistas e os ubers estão à porrada todos os dias. E se eu for ter com os taxistas a perguntar onde é que posso apanhar o uber”, recorda.

Foram assim dados os primeiros passos no Youtube, tendo rapidamente percebido que a chave para o êxito passava por “arranjar mais do mesmo, vídeos polémicos que puxassem as pessoas”. Fórmula que mantém até aos dias de hoje.

“Nesta vida, quem não é lembrado é esquecido”

A frase é quase um mantra para a realidade que caracteriza os influenciadores digitais e que enfatiza a importância de se fazer notar e deixar uma marca para ser lembrado. O famoso youtuber português, que conta com mais de 840 mil seguidores no Instagram, não tem dúvidas da sua importância e tem cumprido esta missão, conseguindo estar na ordem do dia, pelos melhores…. e piores motivos.

“Quantos casos tu vês de pessoas que aparecem na ribalta e toda a gente fala deles e passado dois anos ninguém se lembra…. Acima de tudo é preciso tu manteres-te na boca do povo”, vinca o jovem.

Corporizando este argumento, no final do ano passado, o nome do Numeiro voltou às trends, após o youtuber ter dito que não autorizava que uma namorada sua fosse a uma discoteca.

“Imagina que tens um namorado e ele vai para um local, onde ele se produz todo. Toda a gente lá quer dar em cima dele. Toda a gente tem interesse sexual nele. Estarias confortável em lá estar? Se me quiser divertir com música ligo a televisão e fico a dançar em casa”, defende convictamente João Barbosa, referindo que exterioriza aquilo que “toda a gente sabe mas tem medo de expressar”.

Este é apenas um cartão de visita das muitas opiniões controversas do influencer que extravasam das redes sociais para os ouvidos de milhares de jovens que o seguem e acreditam piamente nas suas palavras, inclusivamente sobre temáticas relacionadas com a comunidade LGBTQIA+, e que já muita tinta fizeram correr.

Polémicas à parte, por detrás do estrelato e do sucesso digital está uma forte base familiar, fulcral na opinião do jovem, que nunca perde o orgulho nas suas raízes barcelenses.

“Foi uma luz nas nossas vidas, cresceu comigo até aos nove anos, é um ser humano extraordinário”, realça a madrinha do youtuber.

Agora mais ausente decorrente da sua vida profissional, não é por isso que a família deixa de demonstrar todo o seu apoio a João Barbosa, que mesmo distante conta sempre com o ‘calor’ das suas gentes.

“Eu conheço o Joãozinho. Ele foi crescendo, foi crescendo, foi crescendo e hoje sem dúvida alguma que é um ícone da terra, também por esse mundo fora, por essa juventude fora”, frisa Jorge Falcão, célebre rosto de Barcelos e proprietário do Turismo Restaurante Lounge.

“Preocupa-me em demasia o que dizem de mal, ninguém gosta, como conheço o João não gosto porque ele não é isso que muita gente diz”, uma opinião que é por muitos ali partilhada.

Este foi um caminho sinuoso até ao sucesso que Numeiro recorda com nostalgia.

“Passei muitas noites no meu quarto, neste apartamento com a cabeça em cima da secretária quase com lágrimas nos olhos. Tenho grandes ambições e quero fazer grandes coisas com a minha vida, mas eu não sei o que vou fazer”, desabafa, confessando que atravessou momentos conturbados em que teve dúvidas do trajeto que estava a tomar.

“Quando achavas que tinhas muito potencial e do nada tens de ir para um trabalho fabril, começas a desacreditar em ti”.

Do YouTube para o ringue

O final do ano passado trouxe um novo desafio a Numeiro, conhecido pela veia empreendedora e megalómana. Seguindo as tendências internacionais, formatos americanos em particular, o jovem com raízes nortenhas propôs-se a combater contra um pugilista profissional, mais concretamente o búlgaro Kalin Simeonov, numa luta que teve como palco o Campo Pequeno.

O youtuber, que organizou todo o evento, acabou derrotado e as redes sociais “enlouqueceram”, com fãs a defender a coragem de João Barbosa por continuar a lutar enquanto outros espectadores criticavam a sua prestação.

O combate teve cinco assaltos e meio e foi transmitido online, com milhares de pessoas a assistir. No primeiro assalto, a luta provou-se renhida, um cenário que mudaria de figura no início do segundo assalto, já com Numeiro a ser atingido várias vezes na cara.

Olhando em retrospectiva, o youtuber reflete que “no boxe tu perderes implica levar golpes na cara ao ponto de poderes ficar com mazelas na vida, ninguém entra num ringue com a ideia de perder”.

“Se eu quisesse perder tinha desistido no segundo ou terceiro assalto”, acrescenta, num combate que esteve também ele envolto em polémica. Em 2023 a Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online apresentou uma queixa-crime contra o youtuber por ter publicitado o site de apostas ilegal "Vem Apostar", num evento no Campo Pequeno.

O youtuber esteve também envolvido num concurso publicitário, aprovado pelo Governo dos Açores, em que era suposto sortear um Ferrari 458 Itália entre as pessoas que comprassem um bilhete que iria dar acesso à transmissão online desse mesmo evento em Lisboa.

Em 2022, Numeiro, assim como Windoh e DaviGYT, foram acusados de participar num alegado esquema de compra e venda de criptomoedas, mais em concreto Bitcoin. Um ano antes o youtuber, na altura com 23 anos, foi acusado de fraude em apostas desportivas, através da sua consultora, que mais tarde veio a encerrar.

Depois do combate “senti um abraço de quase toda a população portuguesa, senti um calor de toda a gente, de pessoas que antes não gostavam de mim e que foram unânimes em dizer que respeitaram o que eu fiz e que mudaram a ideia que tinham de mim”, frisa o influencer.

“Faz parte do processo para nos tornarmos homens de respeito e tornarmo-nos um exemplo para as outras pessoas, o caminho mais fácil nunca é opção e é por isso que eu continuo a fazer estas coisas que alguns dizem ser doentias”.

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