VCI “nunca deveria ter sido construída”
Alexandre Matos
A Via de Cintura Interna é uma das vias rodoviárias da cidade que mais dores de cabeça provoca a milhares de portuenses (e não só) que a ela recorrem diariamente. Trânsito, acidentes e ruído constante são as maiores queixas, numa autoestrada cujas soluções demoram a chegar. Em entrevista ao Porto Canal, o antigo secretário de Estado Adjunto e das Infraestruturas, Frederico Francisco, afirmou que a VCI “nunca deveria ter sido construída”.
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“Nunca se devia ter feito uma autoestrada circular tão dentro da cidade do Porto”, afirmou o antigo governante. “A ser construída devia ser talvez onde está a Circunvalação, ou até mais fora da cidade”, considera Frederico Francisco.
Para o antigo secretário de Estado Adjunto e das Infraestruturas, o facto de a via estar muito “dentro da cidade do Porto” e de ter uma “elevada densidade de entradas e saídas” faz que com que não exista “engenharia de tráfego no mundo que permita solucionar o congestionamento da VCI”.
No entanto, e apesar desse problema não ter uma solução definitiva, existem, para Frederico Francisco, algumas medidas que podem mitigar a situação que se vive diariamente. “As mais fáceis de propor são portagens”, frisa.
E no tema dos pórticos, o antigo membro do Governo liderado por António Costa confessa que gostaria de ver uma mudança no paradigma da discussão pública.
“O debate sobre as portagens está sempre muito focado no financiamento das autoestradas, das infraestruturas em si. Eu acho que nós temos que fazer uma transição para começar a falar das portagens, ou da taxação das estradas, como um elemento de regulação e controlo de tráfego”, defende. “Pensar não em portagens mas sim numa taxa de congestionamento”
Taxa essa que podia ser, na opinião de Frederico Francisco, “dinâmica”. Isto é, podia variar ao longo do dia, conforme as horas de pontas e o congestionamento, mas também do dia da semana e do tipo de veículo.
Continua a ser necessário, na visão do antigo secretário Adjunto e de Estado das Infraestruturas, desincentivar a circulação de veículos pesados de mercadorias em horas de pontas, uma medida há muito defendida também pela autarquia portuense.
Para Frederico Francisco não faz sentido o “progressivo fim das portagens”, uma ideia que é contrária “aos investimentos que têm vindo a ser feitos da rede de transportes públicos”.
Em fevereiro deste ano, o antigo governante tinha defendido que o problema do trânsito na VCI só se resolve com recurso ao transporte público e desincentivo ao automóvel.
"Isto é uma coisa que está estudada internacionalmente, e há inúmeros exemplos a nível internacional, e é preciso atuar das duas formas em simultâneo: reforçar a oferta de transportes públicos e também reduzir a capacidade e reduzir e desincentivar o próprio tráfego rodoviário", disse na altura Frederico Francisco aos jornalistas.
Número de veículos a circular continua a crescer
Desde o período pós-pandémico que a circulação diária na Via de Cintura Interna tem atingido sucessivos aumento no número de carros.
No primeiro trimestre de 2024, após consulta por parte do Porto Canal do relatório de tráfego disponível no site do IMT, verificou-se um novo aumento, ainda que modesto, no número de viaturas em circulação.
Nos primeiros três meses de 2023, circularam, em média, 92.036 carros, com período homólogo deste ano a registar uma subida ligeira de 0,5%, com 92.573 viaturas a circularem na A20.
Em 2023, cerca de 130 mil veículos circularam, em média, por dia, quase mais 5 mil do que em 2022, segundo dados do IMT.
No ano passado, o tráfego da VCI no Porto praticamente igualou os números de 2019, ano anterior à pandemia de covid-19, altura em que circularam 131,2 mil veículos por dia.
Soluções adiadas pela mudança de Governo
Apesar de muitos estudos ao longo dos últimos anos, as soluções tardam em efetivar-se em medidas concretas.
Num grupo de trabalho criado em 2020 foram propostas 27 medidas, baseadas em três áreas temáticas: gestão de portagens, melhorias de infraestruturas e a gestão das mesmas.
O grupo de trabalho propôs um cenário, denominado G, que consistia na redução tarifária no último pórtico sul da A28, na introdução de um novo pórtico na A28, a sul da interseção com a A41, na eliminação dos dois pórticos existentes no tramo poente da A4 e na introdução de um novo pórtico entre a A4 (nascente) e a A3 (tramo sul).
Numa Assembleia Municipal, o movimento Aqui Há Porto!, que apoia Rui Moreira, apresentou ainda uma moção, que foi aprovada, em que instava o Governo a isentar, por um período experimental de um ano, as portagens na A41-CREP.
A moção instava ainda o secretário de Estado Adjunto e das Infraestruturas a aplicar taxas de portagens na VCI "a todo o tráfego de atravessamento", exceto "aquele que tem como origem e destino a cidade do Porto".
Em fevereiro de 2024, Rui Moreira mostrava-se confiante que estas medidas poderiam mesmo avançar. “Agora estou convencido que se vai fazer”, disse o presidente da Câmara do Porto durante uma reunião do executivo.
Mas a realidade acabou por ser outra. Também em fevereiro, o anterior Governo, já em gestão após a demissão de António Costa, e na figura do então secretário de Estado Adjunto e das Infraestruturas Frederico Francisco, remeteu a decisão sobre a possível reconfiguração da VCI para o seguinte executivo.