“Fazemos massa e arroz no micro-ondas”. Os testemunhos de quem vive numa residência da UTAD

“Fazemos massa e arroz no micro-ondas”. Os testemunhos de quem vive numa residência da UTAD
| Norte
Catarina Cunha

O ano-letivo pode já estar perto do fim, mas há problemas que persistem e que vão mesmo transitar para o seguinte. A falta de alojamento acessível é um dos principais tormentos de milhares de estudantes de todo o país. Em Vila Real, nem a degradação estrutural das duas residências universitárias da Universidade de Trás-os-Montes (UTAD) deixaram os quartos vazios.

 
 
 
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“As queixas são relativas às condições dos quartos e à falta de equipamentos para cozinharmos”, conta uma das alunas - que preferiu não revelar a sua identidade - sobre o estado de degradação da sua residência. Infiltrações de água e bolor são ‘inquilinos’ residentes, tais como comprovam as imagens às quais o Porto Canal teve acesso.

Os estudantes de Vila Real têm duas opções de habitação: a residência de Codessais e a de Além-Rio, a cerca de 20 minutos a pé da UTAD. A primeira está rodeada pelo parque Corgo, local que em dias solarengos reúne centenas de pessoas e tem capacidade para alojar mais de 200 universitários. Já a segunda está dividida em quatro blocos (A, B, C, D), situa-se junto ao shopping da cidade, a aproximadamente três quilómetros de distância do outro alojamento, e conta com 101 camas disponíveis. Fazendo as contas, as duas infraestruturas alojam 532 alunos.

Além de ser abrigo, Além-Rio é o único espaço onde é possível fazer refeições, de segunda-feira a sábado, uma vez que a cantina de Codessais fechou portas em 2019, permanecendo, até aos dias de hoje, abandonada, algo que impacta de forma muito negativa na comunidade universitária.

Perante este cenário, resta-lhes esperar “nas longas filas” do refeitório de Além-Rio e pagar 2.75 euros pela refeição, ou cozinhar num dos quatro micro-ondas existentes em ambas as residências da UTAD, visto que as cozinhas não estão equipadas com fogão, forno ou placa elétrica.

“Passamos muitos anos a comer com radiações. Fazemos massa, arroz no micro-ondas, não é normal”, lamenta outra aluna do 3º ano de licenciatura. Este hábito tornou-se numa rotina diária, sobretudo para os residentes em Codessais, que, assim, evitam percorrer dois quilómetros em noite cerrada, por caminhos que dizem ser “inseguros”, até à residência vizinha.

Face às imposições, há quem arrisque e arranje “soluções que não são permitidas”. Tudo em prol de uma refeição saudável. “Tenho uma panela elétrica para tentar cozinhar e comer alguma comida fresca durante a semana, pois mesmo com comida congelada, perde-se metade dos nutrientes e depois a nossa alimentação é muito má”, conta uma antiga membro da Comissão de Residentes.

Os residentes pagam em média cerca de 85 euros, por mês, pelas ‘quatro-paredes’ onde é proibida a utilização de equipamentos elétricos e eletrónicos como secadores, pranchas de cabelo ou aquecedores.

“Não podemos usar aquecedores e há sítios na residência em que o aquecimento funciona e outras não. É uma necessidade porque em Vila Real faz muito frio”, continua. Às custas desta regra há quem tenha gasto “do próprio dinheiro para comprar um aquecedor dos pequeninos” e ousar ser penalizado pela atitude que constitui uma infração.

A par destes problemas existem infiltrações de água, que se intensificam em dias de chuva intensa, o que suscita o aparecimento de bolor e humidade, pintando os tetos dos quartos de uma outra cor. A idade dos edifícios e respectivas canalizações resulta em água “que sai castanha”, o que muito condiciona as rotinas de higiene dos estudantes.

Porto Canal

Ao Porto Canal os três residentes explicam que as regras impostas pela Universidade vigoram há alguns anos, tendo começado depois de um episódio de negligência. “Antigamente existiam equipamentos, mas os alunos davam-lhes mau uso” e, devido a isso, a instituição de ensino “acha que não temos capacidade para os manter”, referem revoltados, salientando que a Comissão de Residentes chegou a apresentar ao Serviços de Ação Social da UTAD um plano para a compra dos eletrodomésticos. “Tínhamos os fundos, disseram-nos que sim e para esperar e isto já foi há dois anos e continua tudo igual”, recorda um deles.

Apesar do estado de degradação dos dois edifícios, não há outras opções de arrendamento “em conta” nesta zona do interior. Por isso mesmo, o preço continua a ser a única vantagem para quem vem morar nas residências.

“Apesar de ser no interior, Vila Real é um bocado cara, há muitos estudantes que pagam 240 euros por um quarto em condições terríveis”, justifica uma universitária.

Recorde-se que, em 2022, a Universidade de Trás-os-Montes anunciou o reforço do número de camas com a construção de uma nova residência no âmbito do Plano Nacional de Alojamento Estudantil para o Ensino Superior, que é financiado pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). Em janeiro, o vice-presidente da autarquia, Alexandre Favaios, anunciou ao jornal local “A Voz de Trás os Montes” que a futura estrutura “vai permitir aumentar em 220 camas” a oferta de alojamento estudantil da UTAD, num investimento global de 20 milhões de euros. No mesmo mês, foi aprovado o licenciamento de construção do novo espaço.

Perante este cenário, aos estudantes resta-lhes a esperança do fim do calvário e o início de um novo ciclo já no próximo ano-letivo. Desta vez, sem os ‘inquilinos’ indesejados.

O Porto Canal contactou a UTAD, que recusou prestar qualquer esclarecimento sobre este caso.

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