Vítor Bruno: "No FC Porto toda a gente tem de ser viciada em ganhar"
Porto Canal
Ao lado de André Villas-Boas, Vítor Bruno foi apresentado como treinador do FC Porto.
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A oficialização aconteceu na véspera e esta sexta-feira foi o dia em que Vítor Bruno foi apresentado como treinador do FC Porto. Ao lado do Presidente André Villas-Boas no camarote presidencial do Estádio do Dragão, o técnico que assinou até 2026 confessou estar “muito feliz e muito honrado pelo convite”, acrescentando estar consciente da responsabilidade que “está inerente a um cargo desta natureza”. “A partir daqui, vamos colocar mãos à obra, lutar, caminhar juntos, entrelaçados uns nos outros e a procurar o sucesso do FC Porto”, acrescentou, entre muitas outras coisas, Vítor Bruno.
O discurso de abertura
“Em primeiro lugar, um agradecimento muito sincero ao presidente. Quero agradecer a coragem que teve em traçar um caminho que penso que será de total sucesso. Posso garantir ao Presidente que a coragem que teve, juntamente com a administração e a restante estrutura, é a mesma que eu vou devolver com a minha equipa técnica e os jogadores, em todos os momentos, na defesa intransigente dos interesses do FC Porto. A partir daqui, vamos colocar mãos à obra, lutar, caminhar juntos, entrelaçados uns nos outros e a procurar o sucesso do FC Porto.”
O desconforto de estar de fato
“Numa abordagem muito honesta, primeiro é o desconforto de ter de estar de fato. Em relação ao guarda-roupa, tenho de fazer algum investimento porque vou ter de me apresentar de outra maneira, claramente. Fora de brincadeiras, estou muito feliz e muito honrado pelo convite. Tenho uma noção perfeita da responsabilidade que está inerente a um cargo desta natureza, mas, ao mesmo tempo, tenho uma vontade muito grande de me atirar ao terreno, de começar a trabalhar no Olival, de começar a operacionalizar ideias, de validar muito daquilo que eu e a minha equipa técnica perspetivamos para o FC Porto, sempre no sentido de criar laços e vínculos com toda a gente. Esse é o meu perfil. Não seremos os melhores e os mais talentosos em todos os momentos, mas naquilo que é o caráter, a ambição, a capacidade de trabalho, a exigência e a paixão pelo trabalho, seremos imbatíveis. Vamos encarnar aquilo que é o espírito do sócio e adepto do FC Porto. É uma missão difícil, tenho essa noção clara. Mas é uma missão que quero viver e que quero muito, muito ganhar.”
O circo mediático que se criou
“Quanto ao elefante, podemos olhar para ele como um elefante ou uma formiga, depende do olhar que tivermos. Não me sinto nada confortável em relação a esse assunto, passei uma semana muito difícil de grande sofrimento e grande angústia. Não quero alimentar este círculo mediático que se foi levantando. Fiz o que tinha a fazer no momento próprio, quando tinha de esclarecer. Remeto tudo o que tenho a dizer para o que foi lançado em comunicado. Parece que começaram a criar uma novela com capítulos a mais para o que é a verdade, com capítulos a mais para o que é o guião da verdade. É o meu sentimento genuíno, sincero, tenho a minha paz interior garantida, adormeço todos os dias sob o aplauso da minha consciência e é isso que me dá paz interior. Tudo o resto que possam querer especular é um não-assunto, tenho muito em que me focar, tenho de canalizar a minha energia para o futuro do FC Porto e é isso que quero fazer.”
O ataque ao mercado
“Representar o FC Porto é demasiado óbvio o que está subjacente. No FC Porto toda a gente tem de ser viciada em ganhar, seja comigo ou com outro treinador. Falamos em todas as competições. Não nos vamos encolher em nenhum momento. Sabemos que vai ser uma época difícil, em que vamos precisar de estar demasiado entranhados uns nos outros, mas isso é a vida de um clube e de um treinador. O plantel é algo que tem de ser visto, o tempo é precioso e estamos a desperdiçá-lo com questões que não me parecem ser as mais importantes. Na parte da tarde vamos já atacar esse tema. Confio nas pessoas que fazem parte da estrutura, que têm um capital que me pode aportar muito do que sinto que é necessário. Sabemos das dificuldades que estão em causa no FC Porto, mas teremos um olhar muito criterioso do que temos ao nosso dispor. Em relação ao plantel, obviamente que me parece importante, e é algo que defendo e já partilhei ao presidente, tem de haver um olhar para dentro. Para mim não tem de se falar em prata da casa, mas sim em ouro da casa. Muitas vezes temos tendência a subestimar quem está connosco. Sangra-me o coração perceber que determinados talentos não aproveitam o que têm, e nisso eu não vou fazê-los descansar. Vou andar em cima deles, não vamos dar o mínimo descanso porque sentimos que é um dos caminhos para trilhar.”
O conhecimento mútuo entre treinador e jogadores
“Para ser honesto, todo este desgaste foi acontecendo de forma natural. Nós vivemos tudo de forma muito intensa, em nenhum momento se levantou a questão do desgaste para fora. Conseguimos, em determinado momento circunscrever ao nosso espaço, era algo que era visível e foi partilhado entre mim e o Sérgio perto do final da época. Tenho a certeza absoluta que os jogadores me conhecem e eles têm a capacidade muito rápida e intuitiva perceber qual o comportamento, o tipo de valores subjacente à pessoa que os lidera e tenho a certeza que eles são capazes de fazer essa distinção e perceber de que forma sempre me comportei, com verdade e autenticidade, sempre a garantir o máximo sucesso do clube. Num papel diferente, não vou mudar aquilo que sou, sou fiel àquilo que sempre me ensinaram de berço, aos valores e desígnios que me foram transmitidos e dos quais não abdico em nenhum momento. Terei um papel diferente nas tomadas de decisão, mas tomá-las-ei sempre com total congruência no sentido de ser o mais justo possível. Em relação aos jogadores, está muito claro na cabeça deles o que represento e o que sou, e isso deixa-me completamente apaziguado.”
Francisco Conceição
“Conheço o Francisco desde muito pequeno, tenho uma estima muito grande por ele e graças à forma como trabalha foi construindo a sua carreira, que culminou nesta chamada à seleção nacional. Vai ser tratado como qualquer outro elemento do plantel, nenhum jogador pode estar acima dos interesses de um clube com a dimensão do FC Porto. Já que fala no Francisco, permita-me desejar-lhe a ele, ao Pepe e ao Diogo a maior sorte na seleção nacional e que possam só regressar no dia 15. Em relação a Eustáquio, Evanilson, Wendell e Pepê, com algum egoísmo da minha parte, desejo que regressem rapidamente. São demasiado importantes e têm de estar connosco.”
Empatia com os sócios e adeptos
“Isso é uma questão para os sócios e não para mim. Eu espero que sirva para ancorar determinadas abordagens. Tenho um respeito enorme pelos sócios e adeptos, confio muito no que podem dar e sinto que fomos muito à boleia deles para grandes conquistas. Precisamos de estar claramente entranhados porque vai ser um ano difícil e todos vão ser importantes. Vejo neles um papel decisivo. Muitas vezes dizemos que a grandeza de um clube é o palmarés, mas tenho uma visão ligeiramente diferente. Os sócios e adeptos acrescentam sempre algo mais à dimensão de um clube. Nunca podemos dissociar o adepto daquilo que é a grandeza do clube. Do que tenho visto, nunca ficaram aquém. É isso que espero deles em todos os momentos desta época.”
A composição da equipa técnica
“Não tenho totalmente definida ainda. Temos dois nomes, o Nuno piloto e o Óscar Pintado. Temos espaço para integrar mais elementos e esse é um dos dossiês que queremos atacar o mais rápido possível. Sabemos da urgência de tratar desse tipo de dossiês, até porque quero que a competência do cada um nas suas funções caminhe de mãos dadas com os valores de cada pessoa e essa é uma condição fundamental para integrarem uma equipa multidisciplinar. Quero que cada um saiba balizar o seu espectro de atuação, mas ao mesmo tempo me coloque desafios e me faça pensar. É nessa partilha que vamos crescer todos juntos. É um dossiê que vai ser fechado muito em breve. Vamos atacá-lo nas próximas horas e dias para ficar fechado o mais rápido possível.”
A composição do plantel
“A grande preocupação, e não quero entrar em conflito com o presidente, é o ruído da comunicação social. Tenho plena confiança, e não o digo de forma demagógica, que quer o presidente quer as pessoas da Direção vão caminhar no sentido de dar ao clube o que ele vai precisar. Conheço as pessoas, sei o que defendem, e se o portismo está cá entranhado, não vamos querer associar algo que não seja positivo ao clube. Sei que tenho à minha volta pessoas que amam o clube. Tenho garantia que vamos tentar garantir uma consistência do que já vem perfilado do ano anterior. Sei que vamos ter de fazer vendas e isso não é novidade, estou ciente disso. Sei o que está do lado de lá em termos de potencial, o que podemos alavancar também. Muita gente não tem um conhecimento tão profundo como eu. A mim dá-me total garantia para atacar a época desportiva. Estamos naquela fase do namoro inicial, em que é mais fácil. Vão haver momentos em que vamos divergir, mas é aí que vamos crescer e vamos estar alinhados com os interesses do clube, no sentido de defender sempre o FC Porto.”
A relação com Sérgio Conceição
“Dói-me falar de tudo isto. Obviamente que deixa marca. Sou muito grato a quem me ajuda, ao Sérgio Conceição de uma forma muito clara. Por todo o percurso que fizemos, pelos momentos difíceis que passámos e não só no FC Porto, mas também em Olhão, Braga, Coimbra, Nantes e Guimarães. Todos com uma página de sucesso, à exceção do Vitória, onde não correu tão bem. Se deixa marca? Deixa. Não guardo rancor a ninguém, mas em nenhum momento fugi dos meus valores. Espero ter contribuído em alguma parte para o sucesso do Sérgio Conceição, é isso que vive comigo.”
Pepe
“Sinto-me demasiado pequenino a falar do Pepe. É um símbolo do clube, uma referência para todos nós, com a qual me identifico muito. Encarna na perfeição os valores e desígnios do FC Porto. É uma conversa que terei com o presidente, a quem vou transmitir a minha sensação, mas também tenho de falar com o Pepe e tomar a melhor decisão. É um dossiê complexo e que obriga a perceber até que ponto devemos atuar, sem magoar ou melindrar o Pepe. Tenho uma estima muito grande por ele. Partilhou a determinado momento que queria sentir o corpo dele no Europeu para depois tomar uma decisão. Temos de perceber o que sente neste momento, tendo sempre a certeza de que é alguém que fará parte sempre da história do FC Porto.”
Os desafios que se seguem
“O principal desafio é pôr a equipa a ganhar. Isso de uma forma ou de outra vai ter de acontecer. Ou sim ou sim. Olhar para o ouro da casa não é uma opção de recurso, mas sim com os olhos que têm de ser olhados. Havendo valor, é preciso ter coragem de apostar, de assumir, de perceber que o talento não vai ganhar jogos por si só. Terão sempre de associar o talento deles à capacidade de trabalho para construírem uma carreira. Não lhes vou dar descanso. A partir do momento em que lhes detemos valor e capacidade para pertencerem ao plantel principal do FC Porto, não serão uma solução de recurso, mas sim a primeira. Terá de ser alicerçado em alguma coisa, deve ser uma mescla, tem de haver um equilíbrio, é preciso gente capaz com capital de experiência acumulado a um nível muito alto até para fazer essa integração e os receber bem. Sou daqueles que não hesita em apostar quando tiver de apostar. A partir do momento em que sentir que há qualidade do outro lado… há muita gente que diz que é preciso ter cuidado e não queimar etapas, olhar para eles com os olhos certos. Se estivermos à espera do momento certo, nunca avançamos. Tendo conhecimento do que se passa aqui, da forma como se trabalha e da capacidade que têm, acho que não devemos hesitar. Quanto aos alvos que vêm de fora, são jogadores para os quais temos de olhar de forma minuciosa e com total critério, nunca entrando em conflito com a que é a realidade do clube, sempre em uníssono no passo a dar. Um passo seguro e firme no sentido de levar o FC Porto ao sucesso.”