Desfile da Liberdade no Porto reúne milhares de pessoas
Porto Canal/Agências
Com cravos vermelhos, bombos, bandeiras de Portugal e muitos cartazes, o Desfile da Liberdade junta esta quinta-feira, no Porto, milhares de pessoas que aproveitam as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril para partilhar memórias e fazer apelos.
Ver esta publicação no Instagram
Sara (4 anos), Nuno (7), Tiago (8) e Vasco (10) – autores de um cartaz feito a marcador onde se lê “Viva o 25 de Abril = Liberdade” – atropelam-se para explicar à Lusa o porquê de terem escolhido a palavra “liberdade” para o centro da folha de papel A3.
“Porque antes o país era triste e agora é livre. Porque não se podia falar e porque os policias iam a casa das pessoas buscá-las às quatro da manhã ou mais tarde para as prenderem por pensarem de forma diferente”, referem, repetindo as explicações ouvidas em casa.
Chegaram ao Largo Soares dos Reis, no Porto, de onde partiu o Desfile da Liberdade organizado pela Comissão para as Comemorações Populares do 25 de Abril, muito cedo. Querem chegar à Avenida dos Aliados na coluna da frente onde um conjunto de antigos paraquedistas, ao ouvir a conversa, lhes aponta para um edifício.
“E sabem o que era ali? O quartel da PIDE, da polícia política que prendia e torturava pessoas. Nem imaginam quantas pessoas foram ali maltratadas”, diz-lhes Francisco Almeida (66 anos).
Foram 7.600, de acordo com Domingos Dias da União dos Resistentes Antifascistas que subiu ao palco do largo para cumprimentar “a moldura humana mais bonita do mundo, a que está de cravo e resiste”, disse.
Enquanto isso, o paraquedista sussurra: “[Há 50 anos] vi a alegria de um povo que estava amarrado e amordaçado. Vi rostos com sorrisos de orelha a orelha. Foi o dia mais feliz da minha vida. O mais feliz não, o mais importante, mas acho que o que se fez em Abril de 74 não está a ser levado a sério. Falta habitação e salários dignos”.
Ao lado, outros companheiros paraquedistas, Aurélio Soares e Francisco Gonçalves, ambos de 64 anos, que há meio século estavam na escola e foram mandados embora porque, disseram-lhes, “estava a acontecer uma grande revolução em Lisboa, uma coisa muito boa que mudaria Portugal”, acrescentam ao rol de lamentos: “Falta saúde, falta justiça”.
Há pessoas de todas as idades no Desfile da Liberdade do Porto. Um cortejo que, partindo do largo onde hoje o Museu Militar ocupa as instalações da antiga PIDE, passa pela Avenida Rodrigues de Freitas, Rua D. João IV, Rua de Santo Ildefonso, Rua Passos Manuel, Rua Sá da Bandeira, Praça D. João I, Rua de Rodrigues Sampaio para terminar na Avenida dos Aliados.
O som dos microfones da organização começou a soar às 14:15 com “Quis saber quem sou” de Paulo de Carvalho, musica ouvida ainda a 24 de abril de 1974, às 22:55, que foi exatamente a primeira frase de pendor revolucionário do 25 de Abril de há 50 anos. E o cortejo começou cerca de meia hora depois com “Grândola Vila Morena” a dar o mote.
A música “Sexta-feira” de Boss AC e os versos “É Sexta-feira / Suei a semana inteira / No bolso não trago um tostão / Alguém me arranje emprego / Bom bom bom bom / Já já já já” fazem Andreia Trevisan, que tinha 16 dias de vida quando se deu, há 50 anos, a Revolução dos Cravos dançar.
“Estou muito muito muito feliz. Isto não tem a ver com direita ou esquerda, tem a ver com liberdade” É o país que estás em causa”, diz, à Lusa ao lado da irmã e da filha e junto a um grupo de estudantes que empunha cravos e cartazes que mais do que memórias, transmitem apelos.
Rafaela Pinto (21 anos) escolheu a frase: “Discurso de ódio não é liberdade de expressão”. À Lusa explica que tem “medo” da confusão entre “opinião” e “discriminação”.
“É incrível podermos dizer que temos liberdade de expressão. Agradeço muto aos Capitães de Abril por isso. Mas discurso de ódio não é opinião. Temo pela falta de sensibilidade que cada vez mais se vê em relação às minorias”, descreve.
O Desfile da Liberdade do Porto deverá chegar entre as 16:00 e as 16:30 aos Aliados. Lá está previsto que suba ao palco o projeto musical Cara de Espelho, que reúne membros de bandas, como os Deolinda, Ornatos Violeta, Gaiteiros de Lisboa, A Naifa, Humanos e estima-se que as frases de ordem continuem a soar como o incontornável “25 de abril Sempre! Fascismo Nunca Mais!”.