Pressionaram moradores a sair, mas futuro do Bairro do Cruzinho no Porto continua por decidir

Pressionaram moradores a sair, mas futuro do Bairro do Cruzinho no Porto continua por decidir
Pedro Benjamim | Porto Canal
| Porto
Ana Francisca Gomes

Os moradores do Bairro do Cruzinho, na Rua do Campo Alegre, no Porto, foram pressionados a sair há mais de seis anos para no lugar das suas casas nascer uma torre para uma residência estudantil. Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades: em 2023 dá entrada na Câmara do Porto um Pedido de Informação Prévia (PIP) para a construção de um prédio com 189 fogos multifamiliares. O terreno pertence a uma empresa ligada à comercialização de vinho do Porto que, contactada pelo Porto Canal, não quis avançar com pormenores sobre este novo projeto.

 
 
 
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Perto da Praça da Galiza, alheio à transformação em seu redor, está o último bairro operário desta zona da cidade do Porto, erguido em 1895. Foi em outubro de 2017 que o proprietário das 47 casas do Cruzinho comunicou aos moradores a intenção de ali erguer um edifício de dez pisos com espaços comerciais, um ginásio e uma residência para estudantes. Um Pedido de Informação Prévia (PIP) que tinha dado entrada nos serviços de urbanismo da Câmara do Porto assim o confirmava. Os 13 inquilinos que foram resistindo em casas onde obras nunca passaram de uma promessa tiveram de sair.

Passaram mais de seis anos e nem moradores, nem prédio, nem início das demolições. Na ilha que não quis para si o estigma da denominação, as casas esvaziaram-se, emparedaram-se as portas, selou-se a passagem e a única novidade são as ervas daninhas que acompanharam a passagem do tempo.

Porto Canal

Contactada pelo Porto Canal, a autarquia liderada por Rui Moreira informou que se encontra a tramitar nos serviços de urbanismo, desde 2021, o licenciamento de obras de edificação para a construção de residências de estudantes, ao qual foi anexado um projeto de arquitetura a fevereiro de 2022. Mas em 2023 os planos parecem ter-se alterado, com o mesmo requerente a dar entrada de um PIP para a construção de um edifício de habitação multifamiliar de 189 fogos e comércio.

O terreno pertence à Fladgate Partnership - Land Holdings, S.A. - ou então The Fladgate Partnership - Vinhos, S.A. como se chamava até setembro de 2023 - dona de marcas de vinho do Porto como a Taylor’s, Fonseca ou Croft. Segundo documentos consultados pelo Porto Canal no Registo Predial do Porto, a empresa assinou um contrato de permuta com o anterior proprietário e os terrenos passaram a pertencer-lhe a 22 de setembro de 2017. Um mês depois, o Jornal de Notícias avançava que os moradores estavam a ser pressionados a deixar as suas casas.

O Porto Canal contactou a empresa presidida por Adrian Bridge, que não quis avançar com pormenores sobre o processo, alegando que o PIP de 2023 ainda aguarda aprovação. Segundo o registo predial, o anterior proprietário tentou reaver os terrenos anulando o contrato de permuta com a The Fladgate Partnership - Vinhos, S.A. O destino do espaço está pendente do resultado de um processo em tribunal.

Porto Canal

Crónica de uma morte anunciada

Os ‘dias contados’ do Bairro do Cruzinho não são uma sentença datada de 2017. Já em 2011 os moradores ficaram com um pé porta fora, quando receberam uma carta do então dono do edificado dando conta de que estava “aberta a possibilidade de alojamento, por acordo da Câmara do Porto e o proprietário, em casas a ceder pelo município em diversos locais da cidade do Porto, conforme reuniões havidas entre as partes", pode ler-se numa edição impressa do jornal público. Em causa estava a intenção do proprietário em construir no terreno e os impedimentos trazidos pelo Plano Diretor Municipal (PDM).

Está prevista uma reorganização da rede viária daquela zona, para onde o PDM prevê a abertura de uma nova rua, entre Júlio Dinis e Barbosa Bocage, incidindo numa pequena parte do terreno. A esta equação soma-se ainda uma intenção antiga da autarquia em alargar a Rua do Bom Sucesso, que ladeia parte do terreno.

A área ocupada pelo bairro condena o “Cruzinho” a um futuro em altura.

Porto Canal

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