“Volta Bolhão antigo”. Comerciantes recordam com saudade alma do velho mercado

“Volta Bolhão antigo”. Comerciantes recordam com saudade alma do velho mercado
Porto Canal
| Porto
Catarina Cunha e João Nogueira

Um ano e meio depois da reabertura do Mercado do Bolhão, há comerciantes que estão insatisfeitos com o atual estado e funcionamento da infraestrutura. Às queixas da falta de espaço e da inexistência de equipamentos de ar-condicionado junta-se o sentimento de perda de identidade promovida pela turistificação daquele que é (ou já foi) um dos edifícios mais emblemáticos da cidade.

A entrada da equipa do Porto Canal no Mercado do Bolhão é feita pela porta da frente, outrora pintada de verde escuro. O átrio principal está repleto de turistas de todas as nacionalidades e aqui “o mais difícil é encontrar alguém que fale português”, dizem os vendedores.

“Quero que os portuenses voltem ao Mercado do Bolhão. Os portuenses fugiram daqui por causa disto estar como está, virado para o turismo”, atira efusivamente Ermelinda Lopes, comerciante na zona dos congelados que confessa não “estar nada satisfeita” com a renovação do espaço.

 
 
 
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A vendedora sente-se “escondida” e relegada para um canto, longe dos olhares dos clientes. Esta é uma situação que muito afeta o negócio, conta-nos, já que há quem pense que a portuense fechou mesmo portas. “Vamos esperando sentados, entretanto temos despesas todos os dias e não se está a faturar para as despesas”, partilha, entre suspiros.

Zaida Silva faz suas as preocupações da ‘vizinha’. “As pessoas nem sabem onde estamos. A minha loja por ter uma entrada mais estreita pensam que é uma casa de banho”, afirma com indignação, apontando para a ombreira.

Além da falta de sinalética, os comerciantes da zona dos congelados queixam-se da inexistência de equipamentos de ar-condicionado, algo insustentável nos verões em que as temperaturas ultrapassam os 30 graus celsius.

Mais à frente, no corredor das salsicharias, um novo clamor de reclamações pode ser ouvido. Maria Ferreira, gerente da Salsicharia Leandro há mais de 40 anos, critica a falta de espaço da banca que lhe foi atribuída.

“Fizeram isto com muito pouco espaço, eu tinha um espaço grande, e agora tenho um espaço muito apertado, nós somos por vezes nove funcionários ao balcão e esbarramo-nos um nos outros”, comenta enquanto olha à volta para os parcos metros quadrados de que agora dispõe.

Perante esta realidade, os lesados sentem-se “muito abandonados”, mas também desapontados e desolados por considerarem que a alma portuense abandonou o mítico Mercado do Bolhão.

“Às vezes vou ali à porta e digo volta Bolhão antigo, aí que saudades. Antes vinha com muita alegria para o Bolhão, hoje venho trabalhar porque tenho que trabalhar até à reforma”, confessa emocionada Zaida Silva, comerciante naquele espaço há 60 anos.

As queixas dos comerciantes vieram a público esta segunda-feira, naquela que foi a mais recente reunião da Câmara do Porto, onde o Bloco de Esquerda apresentou uma proposta onde reiterou a necessidade de melhorias na infraestrutura.

Sobre o trabalho da GO Porto - entidade gestora do espaço - e funcionamento do Bolhão, Rui Moreira começou por reiterar que “o mercado é dos clientes e dos comerciantes” e realçou a “elevadíssima satisfação” dos comerciantes.

Presente na reunião, Cátia Meirinhos, vice-presidente do conselho de administração Go Porto, evidenciou que "todas as situações que foram reportadas de necessidades de melhoria das infraestruturas estão a ser trabalhadas", dando o exemplo da “implementação de sombreamento nas bancas laterais”, “a instalação de ar-condicionado nas áreas de congelados” e “a melhoria da sinalética e comunicação” no interior da própria estrutura.

Sobre a área dos congelados, o presidente da autarquia recorda que desde a renovação do Bolhão que é levantada a questão da “falta de visibilidade” e garante que “está a ser feito um esforço para resolver o assunto”.

O Porto Canal voltou a contactar a Câmara do Porto sobre o assunto que remeteu a resposta para a intervenção de Cátia Meirinhos, durante a reunião do Executivo Municipal pública da passada segunda-feira.

Vaga de assaltos

No sábado passado, três lojas do exterior do Mercado do Bolhão, viradas para a Rua de Alexandre Braga, foram alvo de tentativas de assaltos, com algumas a resultarem em efetivas invasões e roubos de estabelecimentos.

O anúncio foi feito pela Associação do Comércio Tradicional Bolha de Água - entidade que representa parte dos comerciantes - e que denuncia uma situação que tem vindo a repetir-se nos últimos tempos. A Tripeirinha,a Sapataria Cécil foram dois dos estabelecimentos assaltados. Já o restaurante Bolhão a Gosto sofreu uma tentativa de assalto.

Ao Porto Canal, Emanuel Martins, Gerente do ‘Bolhão a Gosto’, revelou que na sequência da tentativa de assalto a porta do seu estabelecimento ficou danificada. Este incidente levou o comerciante a reforçar de imediato as medidas de segurança do espaço, deixando no entanto queixas à fragilidade do sistema de segurança do Mercado.

“As portas no Mercado do Bolhão não transmitem segurança, são fáceis de derrubar”, uma vez que “as grades não descem até baixo”, salienta Emanuel Martins.

Os vigilantes contratados pelo Mercado do Bolhão, que se limitam a vigiar o interior do edifício, são também alvo de críticas.Além disso, o empresário critica o facto dos vigilantes contratados para o Mercado do Bolhão apenas vigiarem o seu interior, o que causa uma sensação de insegurança e de abandono durante o dia e noite. “Tudo era necessário para não se tornar apelativo para os ladrões”, acrescenta.

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