“Queremos fazer deste hospital um ambiente feliz”. Educadoras do São João dão a conhecer Ala Pediátrica

“Queremos fazer deste hospital um ambiente feliz”. Educadoras do São João dão a conhecer Ala Pediátrica
Foto: Porto Canal
| Porto
Pedro Benjamim

A Ala Pediátrica do Hospital São João recebeu o projeto ‘Olhar Descartável’ do Porto Canal. Através da entrega de máquinas fotográficas descartáveis às “gentes do Porto”, são recolhidas, guardadas e partilhadas as memórias de quem dá vida à cidade.

O contacto com o hospital surgia dias antes do Natal de 2023. A câmera descartável com filme para 27 fotografias era deixada na Ala Pediátrica do São João, para vir a ser recolhida volvidos 10 dias, já depois do jantar da consoada.

No dia da recolha sentámo-nos com as educadoras de infância do São João, no espaço onde recebem as crianças da Ala Pediátrica. Naquela sala, destinada à leitura, o amarelo é a cor dominante que torna o ambiente mais quente. Uma das paredes está coberta com jogos de tabuleiro, junto da janela foi montado um presépio e ao centro daquele espaço uma mesa e cadeiras para crianças, onde nos sentámos a conversar.

Lucília e Gabriela ficaram encarregues de mostrar aquilo que os seus olhares observam no dia-a-dia. O analógico traz incertezas, mas acima de tudo esperança que vá ficar tudo bem. “Nós não temos noção do que captamos”, desabafa Gabriela, educadora de infância no São João há 23 anos.

Porto Canal

“A minha primeira opção foram as várias pessoas e os vários elementos que andavam aqui na Ala Pediátrica, depois fui por duas vezes ao exterior fotografar a ala vista de fora”, explica ao Porto Canal a educadora, enquanto revela que esteve “dois ou três dias com ela [máquina descartável] no bolso e a colega ainda tirou mais dois ou três dias”. A colega chama-se Lucília, que “há 36 anos, quase 37” é também educadora de infância no São João.

A incerteza das imagens que vão sair daquela pequena máquina é partilhada. “Não sabemos o que está aí. Imaginamos. Eu acho que há uma foto mental e uma foto da máquina. Na foto mental nós queremos transmitir uma coisa, na da máquina não sei se está o objetivo alcançado”, receia Lucília.

Apesar da dúvida, uma coisa é certa. Gravado ficou na memória de Gabriela o recuar a um método mais arcaico de fazer fotografia. “Se não ficar nenhuma [fotografia], eu sei o que é que andei a fotografar”, contou ao Porto Canal. No entanto, a luz queimou o filme tempo suficiente para mostrar como é a vida dentro daquela ala Pediátrica, inaugurada em novembro de 2021.

“Apanhei vários profissionais, os seguranças na porta, os senhores da farmácia, sei que tenho uma enfermeira a preparar medicação”, recorda a educadora sobre os dias em que andou com a máquina.

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Educar para a infância em ambiente hospitalar

“Queremos fazer deste hospital um ambiente feliz, que levem recordações boas, momentos bons. Sabemos que vão ter as más, mas felizmente a maior parte deles apaga essa parte má e ficam-lhes as recordações positivas”. A frase é de Gabriela. É desta forma que explica o trabalho que fazem no Hospital de São João.

Lucília é sucinta na forma como caracteriza o seu trabalho: “minimizar o efeito da hospitalização”. Ambas fazem o acompanhamento das crianças que estão internadas, “dos 0 aos 18 anos” nos diversos serviços da unidade hospitalar. Os números, avançados ao Porto Canal pela assessoria do hospital, revelam que, desde que a ala foi inaugurada (novembro de 2021), já passaram 4000 crianças pelos internamentos.

A educadora de infância, há 36 anos no São João, vai mais longe. Diz que o grande trabalho é dar “o melhor bem estar possível a ela [criança] e ao familiar que a acompanha, fazendo diversas atividades de forma a que ela se sinta não num hospital, mas num infantário ou numa escola, em que esteja ocupada, onde a mãe ou o pai, que está a acompanhar, se sinta participante e acompanhante ativo nas brincadeiras e nas atividades que são proporcionadas à criança”.

O trabalho realizado num hospital ou numa creche ou jardim de infância, apesar de ter linhas orientadoras semelhantes, tem desafios distintos. “A diferença entre a educadora de um hospital e a educadora de uma escola é que nós aqui temos a família sempre, ou seja, a partir desse momento, a nossa ação não se limita só ao conteúdo pedagógico”, explica Gabriela. “Temos o conteúdo lúdico e através do brincar conquistar a criança a desligar do fator hospitalização, mas temos uma família que, por esta hospitalização está fragilizada. O nosso acompanhamento acaba por ser muito emocional, psicológico”, conta a educadora com mais de duas décadas de experiência.

Porto Canal

Memórias de infância

São várias as razões que levam uma criança ao hospital. Num primeiro momento, dentro da barriga da mãe, para a primeira grande conquista. Nascer. Nem todas as razões são de alegria, contudo o objetivo é fazer com que nas memórias fiquem gravados apenas os bons momentos.

“Na semana passada tínhamos aí uma jovem, que tinha estado cá em criança e perguntei-lhe: Lembras-te de alguma coisa? Ela só se lembrava da sala de brincar, dos palhaços que apareciam. Temos que pensar que há 16 anos não tínhamos tantas atividades como temos hoje em dia, mas ficaram as partes boas”, conta a educadora Gabriela.

“É isso que nós queremos, que fiquem os momentos bons. Os maus podem estar lá por uma cicatriz, por uma marca física, mas que fique na memória uma imagem do hospital de um lugar feliz, de gente feliz”, afirma a educadora com um semblante feliz.

“O nosso dia a dia é esse”, termina a educadora de infância, em conversa com o Porto Canal.

 
 
 
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