Modelo das Unidades Saúde Locais é estruturante e não devia avançar à pressa, diz Associação

Modelo das Unidades Saúde Locais é estruturante e não devia avançar à pressa, diz Associação
| Norte
Porto Canal / Agências

A Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiares (USF-AN) defende que o modelo das Unidades Locais de Saúde (ULS), sendo uma medida estruturante, não devia ser aplicado à pressa, sublinhando que não há dados que indiquem que tenha vantagem.

"Nós não devemos ter pressa para tomar medidas destas, com mudanças radicais. Isto devia ser discutido com calma e [deveria] haver um processo gradual, porque senão vamos perder todos", disse à Lusa João Rodrigues, da USF-AN.

Em declarações à Lusa um dia depois de se conhecer que a presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte apresentou a demissão, informando que não está disponível para dirigir a Unidade Local de Saúde que integra o Hospital de Santa Maria, João Rodrigues afirmou que o modelo não vai ter sucesso.

O Governo decidiu alargar a todo o território nacional o modelo das ULS, que são entidades que integram os hospitais e os centros de saúde debaixo de uma única gestão. O país ficará inteiramente coberto por 39 ULS.

Questionado pela Lusa a propósito da decisão da presidente do CHULN, Ana Paula Martins, que sempre se mostrou crítica do modelo das ULS, João Rodrigues admitiu que outros casos como este surgirão e que o modelo não terá bom resultado.

“Este modelo que nós temos, é um modelo centrado no hospital e por isso é que ele não tem dado os resultados que todos nós gostaríamos de ter. (…). Isto é replicar um modelo das unidades que já têm muitos anos e não tem demonstrado resultados”, disse o responsável.

João Rodrigues, que fez parte da Missão para os Cuidados de Saúde Primários (2005-2007), responsável por coordenar a nível nacional a reforma dos Cuidados de Saúde Primários e avançar com as Unidades de Saúde Familiar (USF), disse ainda que, tal como está desenhado, o modelo será “impossível de gerir”

“A saúde é muito complexa e tem várias áreas de circulação diferenciada dos doentes: a prestação de cuidados nos centros de saúde, os cuidados hospitalares, os cuidados continuados, a saúde pública e ainda a rede do serviço de emergência”, explicou, sublinhando que todas estas áreas terão um único órgão de gestão e que “quem vai perder é o cidadão”.

O responsável defendeu que, nesta altura, com eleições em março e uma incerteza quanto ao futuro Governo, não deveriam avançar “decisões estruturantes como esta”.

“Só se pode chamar teimosia sem razões, porque não há nenhum estudo científico, nem em Portugal nem fora de Portugal, porque eles foram pedidos e não existem”, disse.

Lembrou ainda que o próprio presidente do Conselho de Administração da ULS de Matosinhos (a primeira a ser criada no país) reconhece que, ao contrário do que se diz, o cidadão “não está no centro do sistema”.

Com unidades como estão desenhadas, questionou ainda o financiamento, lembrando que as populações, dependendo das áreas geográficas, têm características diferentes e necessidades de saúde diferentes.

Numa tomada de posição há cerca de um ano, a USF-AN já considerava que o modelo das ULS carecia “de sustentação científica” e parecia “trazer mais problemas do que soluções”.

Na mesma tomada de posição, a associação propunha a suspensão das ULS e que se avançasse com os sistemas locais de saúde, com avaliação dos dados de 2023 e 2024 e comparar com os resultados das ULS já no terreno.

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