“Já trabalhei com Federer”. Sr. Vieira, a emblemática figura do ténis no Porto há mais de cinco décadas

Fábio Lopes
É um dos mais conceituados e célebres nomes do ténis na cidade do Porto. Conhecido no universo desportivo por Sr. Vieira, o emblemático comerciante domina raquetes, cordas, grips, bolas, e tudo o que é relacionado com a modalidade com maior número de praticantes federados na Invicta, como ninguém. Depois de 37 anos na Rua da Boavista, mudou-se com o seu negócio, em 2021, para a Rua de Damião de Góis, em frente ao Clube de Ténis do Porto (CTP), instituição onde trabalhou no início da sua carreira, afigurando-se como um dos principais impulsionadores.
Os primeiros passos de uma grande paixão
“As primeiras pessoas que pensaram fazer um clube de ténis no Porto, que, neste momento, é o Clube de Ténis do Porto, foram umas quatro ou cinco pessoas muito amigas do meu pai. Eram pessoas que eu conhecia bem e depois, quando fiquei livre da tropa, chamaram-me para o clube”, começa por dizer o carismático vendedor, acrescentando que geriu o clube, nos primeiros anos, até este ser registado na Federação Nacional de Ténis, dando passos seguros na sua profissionalização.
Durante 11 anos acompanha o crescimento do CTP e vê crescer uma nova geração de jogadores que marcaram uma época do ténis da região Norte. Em 1970, o CTP contrata o australiano Richard Howes que o desafia a encordoar raquetes com a máquina de encordoar manual que trazia na sua bagagem, tornando-se um ícone da cidade portuense neste ofício.
“Tínhamos uma meia dúzia de anos quando a direção convidou um professor estrangeiro, que era o Richard Howes e foi ele que deu o sim total ao Clube de Ténis do Porto e foi aí que comecei com este trabalho das encordoações. Toda a gente que jogava ténis, nunca deixou de jogar ténis por não ter encordoações nas raquetes. Mas a dada altura os praticantes começaram a ter a necessidade de encordoar as raquetes com novas encordoações muito mais vezes”, reforçou Sr. Vieira.
O hobby que se tornou arte
Após deixar de exercer funções no CTP, levado pelo Dr. Cordeiro dos Santos, para o Colégio Lúmen, afirma-se como um dos principais encordoadores do Porto, alargando cada vez mais o número de jogadores que recorriam aos seus serviços e, também ele, aperfeiçoando uma arte que domina como poucos.
“O sistema de encordoar vem das raquetes que ainda eram de madeira, mas a maneira de encordoar é mais ou menos igual. É, obviamente, um pouco diferente porque as raquetes hoje também são muito diferentes desse tempo, mas o sistema é mais ou menos igual. Eu estive em Inglaterra uma semana a aprender a encordoar. As raquetes depois iam evoluindo, mas já era muito fácil apanhar os sistemas”, reforça António Vieira, sublinhando a importância de executar bem o seu trabalho, não influenciando a performance dos atletas.
“Temos de ter muito cuidado na encordoação, nas tensões, etc, para o jogador não jogar pior, para se sentir confortável. Sabe que a raquete é o prolongamento do bracinho”, defende.
Tornou-se assim ‘regra’ "ir ao Sr. Vieira" encordoar as raquetes. Dado o sucesso que foi granjeando, a sua atividade passou de part-time para full-time. Instalou-se num estabelecimento na rua da Boavista, mudando-se 37 anos, posteriormente, para a Rua Damião de Góis.
Durante este percurso de várias décadas encordoou raquetes dos melhores jogadores nacionais, tendo a oportunidade de trabalhar com os maiores nomes da modalidade, nomeadamente Roger Federer, tornando-se numa memória viva do ténis da região.
“Todos os dias procuro sempre alguma coisa de mais benefício no ténis. Temos aqui no Norte muitos jogadores que gostam da modalidade e que procuram todos os dias serem melhores jogadores, isso contribui para um incremento constante”, remata o Sr. Vieira.
Uma verdadeira instituição da Invicta com uma marca indelével na modalidade do Porto e da região Norte.
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