1755: Novo terramoto de Lisboa é certo, mas data imprevisível
Porto Canal
O sismo de magnitude 6,8, que atingiu Marrocos e foi sentido em Portugal nesta sexta-feira à noite, matou, pelo menos, 820 pessoas. Além dos mais de 800 mortos, registam-se, para já, 672 feridos. Dos quais, 51 estão em estado grave. Também o sul de Portugal foi abalado por um sismo a 1 de novembro de 1755, conhecido habitualmente por “terramoto de Lisboa.” Lisboa tremeu, mas o cenário apocalítico foi comum a várias regiões do sul do país e mesmo a regiões de Espanha e Marrocos. O forte abalo foi sucedido por um tsunami que arrasou a faixa costeira e deixou povoações litorais irreconhecíveis.
O sismo em Marrocos provocou um rasto de destruição e, até ao momento, estão registados mais de 630 mortos.
Ouvido pelo Porto Canal no início deste ano, Salvador Almeida, professor de Engenharia e especialista em operações de socorro e sismos, explicou que há estudos científicos que apontam que um terramoto se repete a cada 150, 160 ou 200 anos. “Já ultrapassámos essa margem, por isso temos de estar preparados para a eventualidade de se voltar a repetir a qualquer momento, mas é impossível prever quando”, defendeu o especialista.
Em Portugal existe desde 1958 uma regulamentação que obriga ao cálculo sísmico das construções. Em 1983 a lei foi atualizada e é agora mais rigorosa. Salvador Almeida defende que as regras de prevenção de sismos são globalmente cumpridas: “Enquanto engenheiro, não quero acreditar que algum engenheiro não cumprisse com o código deontológico e fizesse alguma construção que não respeitasse a lei, por isso em relação aos edifícios mais recentes, sejam eles públicos ou privados, todos eles estão preparados para um abalo sísmico. Em relação aos mais antigos, não se sabe em que estado estão e se estão ou não preparados.” Também a capacidade de reposta dos diferentes serviços de emergência face a um sismo de grande magnitude suscita preocupação.
Portugueses não estão preparados para este fenómeno
Questionado sobre se os portugueses estarão ou não preparados para uma ocorrência idêntica à que aconteceu em Marrocos esta sexta-feira ou na Turquia e na Síria em fevereiro deste ano, Salvador Almeida respondeu perentoriamente que não. “São precisas mais ações de prevenção e de consciencialização. Não basta pormos as mãos à cabeça quando as catástrofes acontecem, é preciso prepararmo-nos antes”, defendeu o docente universitário.
Noutras zonas sísmicas do globo, o cenário é radicalmente diferente. Na região andina, ao longo de toda a América do Sul, há práticas incutidas desde cedo nas crianças sobre como reagir perante um abalo. Também no Japão, os cidadãos são objeto de ações de divulgação e preparação para ocorrências extremas, dispondo de um kit individual de sobrevivência, sempre preparado para qualquer eventualidade.
Kit de emergência em caso de sismo, no Chile (Imagem: DR)
Reconstrução de Lisboa após sismo seria demorada e cara
A reconstrução de uma cidade portuguesa, como Lisboa, após um sismo com aquele que abalou o centro de Lisboa em 1755, poderia ser demorada e cara, dependendo de diferentes fatores: localização do epicentro, magnitude, réplicas e se há, ou não, um maremoto. A reconstrução de Lisboa após um novo sismo dificilmente seria feita sem recurso a ajuda externa, explica Salvador Almeida. Segundo o especialista ouvido pelo Porto Canal em fevereiro deste ano, a União Europeia “é para os bons e maus momentos” e num momento catastrófico, como um sismo, os europeus “teriam de ajudar a reconstruir a cidade, caso não tivéssemos essa possibilidade.”