Um ano de guerra na Ucrânia. Acesso a habitação e saúde são principais dificuldades para refugiados 

Um ano de guerra na Ucrânia. Acesso a habitação e saúde são principais dificuldades para refugiados 
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Porto Canal / Agências

A presidente do núcleo de Leiria da Associação dos Ucranianos em Portugal, Yuliya Hryhor'yeva, considera que o acesso à habitação e à saúde são as principais dificuldades que enfrentam os refugiados da Ucrânia em Portugal.

“A maior dificuldade que têm é a habitação”, afirmou Yuliya Hryhor'yeva à agência Lusa, apontando os preços, a escassez de alojamento e os poucos rendimentos dos refugiados.

A presidente do núcleo, luso-ucraniana de 44 anos, há quase 20 radicada em Portugal, destacou ainda o acesso à saúde.

“Embora os refugiados tenham número de utente [do Serviço Nacional de Saúde], a barreira linguística é um obstáculo grande quando as pessoas se dirigem aos centros de saúde ou a médicos”, declarou Yuliya Hryhor'yeva.

Assinalando que sem tradutor os refugiados não entendem os médicos e os médicos não entendem os refugiados, a dirigente referiu existir casos, fora das urgências, de clínicos que se recusam a atender estes utentes.

A dirigente, que reside em Leiria com o marido (o primeiro a chegar a Portugal) e os quatro filhos, e é cuidadora de um casal de idosos portugueses, adiantou que a associação recebeu também relatos de exploração laboral.

A este propósito, descreveu o caso de uma refugiada que ganhava um salário mensal de 400 euros e que quando questionou a entidade patronal lhe foi dito: “‘Eu não te contratei porque precisava de um empregado. Eu contratei porque o Estado fez proposta para te contratar, para te integrar. Mais do que isso não vais receber’”.

Outro caso reporta-se a uma portuguesa que oferecia alojamento em troca de trabalho de graça.

Yuliya Hryhor'yeva alertou ainda que há refugiados que aguardam há vários meses para que lhe sejam atribuídos números de contribuinte ou de utente, realçando que sem eles não podem ter ajudas, por exemplo, da Segurança Social.

A luso-ucraniana, que há sete anos não vai ao país de origem, recebendo, ao invés, a visita de familiares em Portugal antes da guerra, referiu não ter agora parentes nas zonas de combate.

“Eles estão bem fisicamente, mas psicologicamente não estão muito bem. Eu acho que lá ninguém pode estar bem”, salientou a presidente do núcleo de Leiria, que recorda hoje o choque e a “raiva de impotência” de nada conseguir fazer quando eclodiu o conflito.

“Na minha cabeça havia só uma frase: ‘O que eu posso fazer? O que é que eu posso fazer?’. Não conseguia comer, nem dormir. Só estava agarrada às notícias”, declarou, relatando a “muita ansiedade” que sentia, mas também a necessidade de “fazer alguma coisa”.

A dirigente explicou que então a associação reuniu-se com a Câmara de Leiria depois de esta entidade se ter disponibilizado para ajudar, e, em parceria com a autarquia, ajudou na receção de refugiados.

“O meu papel cá foi movimentar pessoas e incentivar outras para que ajudassem”, numa equipa onde estavam ucranianos e portugueses, salientou.

Segundo os dados fornecidos à Lusa, o núcleo de Leiria da Associação dos Ucranianos em Portugal (www.splika.pt) apoiou 100 famílias, sem concretizar o número de pessoas, sobretudo mulheres e crianças.

Hoje, o núcleo continua a ajudar algumas famílias refugiadas com alimentação, roupa ou calçado, na tradução de documentos e explicações sobre o funcionamento das instituições nacionais, ou para os ouvir.

“Muitos procuram-nos para falar, porque precisam de apoio psicológico, mas a barreira linguística impede que tenham”, acrescentou.

A ofensiva militar lançada em 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados das Nações Unidas (ONU), que classificam esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa – justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados, desde o início da guerra, 7.155 civis mortos e 11.662 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

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