Hugo Mendes no centro da polémica. Secretário de Estado foi informado do acordo de Alexandra Reis com TAP e não viu incompatibilidades
Porto Canal
O secretário de Estado das Infraestruturas é uma das vítimas, a par de Pedro Nuno Santos, da polémica em torno da agora ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, que recebeu uma indemnização de 500 mil euros da TAP. Hugo Santos Mendes apresentou o pedido de demissão no "seguimento das explicações dadas" pela companhia aérea, sendo que foi o próprio que recebeu a informação da TAP sobre o acordo com Alexandra Reis, não tendo visto incompatibilidades. Agora pediu a demissão e arrastou o ministro com ele.
Há já vários anos ao lado de Pedro Nuno Santos no Ministério das Infraestruturas, o percurso de ambos cruzou-se também na secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares, altura em que o agora ex-ministro era a ponte do Governo com os partidos que formavam a geringonça e no qual desempenhou um papel de destaque.
Agora demitem-se quase em simultâneo. Recorde-se que Hugo Mendes, secretário de Estado das Infraestruturas, foi a segunda vítima do caso Alexandra Reis, que se despediu do executivo na terça-feira, depois de se conhecer que teria recebido uma indemnização da TAP de cerca de 500 mil euros, por cessação antecipada do cargo de administradora executiva.
Em fevereiro passado, ao fim de dois dos quatro anos de mandato, a agora ex-secretária de Estado do Tesouro renunciou ao cargo e abandonou a TAP, tendo sido a escolhida de Pedro Nuno Santos para a presidência da Navegação Aérea de Portugal (NAV), cargo no qual iniciou funções em julho e cessou no início de dezembro deste ano, quando foi nomeada para o Governo como secretária de Estado do Tesouro.
A restante história desenrola-se somente em quatro dias e coloca o Governo em cheque, aumentando para dez as demissões em menos de nove meses.
O Correio da Manhã noticiou o pagamento de 500 mil euros a Alexandra Reis no sábado. Na sequência dos factos e do crescente clima de insatisfação e incerteza, o Governo pede explicações à TAP. Face aos esclarecimentos da transportadora, Fernando Medina despede Alexandra Reis. Peça a peça, o caso faz agora cair Hugo Santos Mendes e o seu ministro Pedro Nuno Santos.
Hugo Santos Mendes no centro da polémica
De realçar que o secretário de Estado das Infraestruturas apresentou o pedido de demissão no "seguimento das explicações dadas pela TAP", que determinaram o envio dos documentos para a CMVM e IFG (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) e da IGF (Inspeção-Geral de Finanças), sobre a saída de Alexandra Reis, de acordo com o comunicado do Ministério das Infraestruturas e da Habitação.
Mas qual o papel de Hugo Santos Mendes em toda a polémica? De acordo com o próprio comunicado do Ministério das Infraestruturas, foi ao secretário de Estado que a TAP comunicou que os advogados da empresa e de Alexandra Reis tinham chegado a acordo. Contudo, o Secretário de Estado das Infraestruturas, “dentro da respetiva delegação de competências, não viu incompatibilidades entre o mandato inicial dado ao Conselho de Administração da TAP e a solução encontrada”.
O caso foi, inclusivamente, acompanhado por escritórios de advogados e pelos serviços jurídicos da TAP, "não tendo sido remetida qualquer informação sobre a existência de dúvidas jurídicas em torno do acordo", adianta o Observador.
O Ministério das Infraestruturas sublinha que o ministro Pedro Nuno Santos só agora teve conhecimento dos termos acordados.
Em rota de colisão
O percurso de Hugo Santos Mendes pelo ministério das Infraestruturas ficou, no entanto, manchado por outras polémicas. Recorde-se que o despacho que determinava a solução para o aeroporto de Lisboa, que acabou por não avançar, era acompanhado da assinatura do agora ex-Secretário de Estado.
Ora no dia 29 de junho de 2022, Pedro Nuno Santos divulgou um despacho onde o novo plano aeroportuário passava pela construção do aeroporto complementar do Montijo e, a prazo, com o novo aeroporto em Alcochete em substituição da Portela. Uma solução que foi travada por António Costa, que revelou ter havido neste episódio do aeroporto uma falha grave do ministro.
Mulher entrou para a AMT tutelada pelo marido
Ana Cristina Chéu, mulher de Hugo Santos Mendes, foi contratada para consultora jurídica do conselho de administração da Autoridade de Mobilidade e Transportes (AMT), uma das entidades reguladoras do setor tutelado pelo marido. Apesar das acusações, nem a reguladora nem o Ministério das Infraestruturas e Habitação, viram qualquer incompatibilidade.
Hugo Santos Mendes, 46 anos, nasceu no Porto. Aos 30 anos foi assessor da ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, entre 2006 e 2009, passando os anos seguintes, no segundo governo de José Sócrates, a adjunto do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, José Almeida Ribeiro, entre 2009 e 2011, sendo que, na era de Passos Coelhos e do Governo PSD/CDS, passa para a Assembleia da República, para assessor do grupo parlamentar dos socialistas.
Quando o PS volta ao Governo, Hugo Mendes é escolhido para adjunto de Pedro Nuno Santos, recém eleito secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Em 2019, com a chegada de Pedro Nuno Santos à pasta das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes passa a ser seu chefe de gabinete.