Burkina Faso: CEDEAO volta a condenar golpe e anuncia cimeira extraordinária
Porto Canal com Lusa
Abidjan, 25 jan 2022 (Lusa) -- A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) voltou hoje a condenar "firmemente" "o golpe militar" no Burkina Faso e anunciou a realização de uma cimeira extraordinária para avaliar a situação.
No comunicado, o segundo da CEDEAO relativo à situação no Burkina Faso, que viu no domingo militares derrubarem o Presidente eleito, Roch Marc Kaboré, a organização rejeita "a renúncia" do chefe de Estado que alega ter sido "obtida sob ameaça".
"A situação no Burkina Faso é caracterizada por um golpe militar" cometido na segunda-feira "após a renúncia" de Kaboré "obtido sob ameaça, intimidação e pressão dos militares após dois dias de motim", lê-se no comunicado.
A CEDEAO lamenta que os apelos da comunidade internacional "à calma e ao respeito da [reposição da] legalidade constitucional" não tenham contribuído para que os militares golpistas recuassem e classifica o sucedido como "um passo atrás da democracia" no Burkina Faso.
O golpe militar ocorreu após várias manifestações contra o Governo de Kaboré, que foi criticado pela sua resposta ineficaz à violência extremista islâmica.
A junta fechou as fronteiras, impôs um recolher obrigatório, suspendeu a Constituição e dissolveu o Governo e o parlamento. Além disso, disse que iria devolver o Burkina Faso à ordem constitucional, mas não especificou quando.
Os militares asseguraram ainda que o Presidente derrubado está a salvo, mas não revelaram onde está detido.
Numa carta de demissão, assinada por Kaboré, que circulou publicamente, o Presidente escreve que desistiu do cargo no melhor interesse do país.
O poder está agora nas mãos do Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (MPSR) e do seu homem forte, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, comandante da 3.ª região militar, que cobre a zona oriental, uma das mais afetadas pelos ataques terroristas.
O novo líder é um escritor com livros publicados, de 40 anos, e foi recentemente promovido por Kaborée.
O Presidente Kaboré, reeleito em 2020 com a promessa de lutar contra os terroristas, tem vindo a ser cada vez mais contestado por uma população atormentada pela violência de vários grupos extremistas islâmicos e pela incapacidade das forças armadas do país responderem ao problema da insegurança.
Os ataques ligados à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico têm vindo a aumentar sucessivamente desde a chegada ao poder de Kaboré, reclamando já milhares de vidas e forçando a deslocação de um número estimado pelas Nações Unidas de 1,5 milhões de pessoas.
A comunidade internacional condenou a tomada do poder pelos militares. A CEDEAO exigiu que os soldados regressassem aos seus quartéis e instou ao diálogo com as autoridades.
A União Africana também manifestou preocupação relativamente ao golpe de Estado e o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, apelou aos líderes golpistas que depusessem as armas.
Hoje foi a vez do Presidente francês, Emmanuel Macron, se pronunciar, dizendo que apoia a CEDEAO na condenação do golpe e disse que a sua prioridade é ver que Kaboré está a salvo e manter a situação calma.
A Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que "deplora profundamente" a tomada do poder pelos militares e apelou para que estes libertem imediatamente Kaboré e outros altos responsáveis políticos.
EL (ATR) // VM
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