Defesa de ex-ministro da oposição detido na Tunísia denuncia "tentativa de assassínio"
Porto Canal com Lusa
Tunes, 18 jan 2022 (Lusa) -- O comité de defesa do vice-presidente do partido tunisino de inspiração islâmica Ennahdha, Nourredine Bhiri, detido por "suspeitas" de terrorismo e branqueamento de capitais, acusou hoje as autoridades de tentativa de assassínio deste ex-ministro.
O comité, liderado pela advogada Saída Akremi, mulher do detido que enfrenta problemas de saúde por se manter em greve de fome, salientou que passaram 19 dias desde a detenção e que, até agora, não foram apresentadas quaisquer provas que sustentem as acusações de que é alvo.
Numa conferência de imprensa em Tunes, Akremi responsabilizou o Presidente da Tunísia, Kais Saied, por, com os seus discursos, "provocar uma onda de diabolização orquestrada pelos seguidores" nas redes sociais.
Sobre a atuação das forças de segurança que efetuaram a sua prisão, Akremi assegurou que, se não tivesse combatido o sistema, Bhiri já teria sido assassinado.
Por seu lado, o advogado e também ex-deputado Samir Dilou, igualmente membro do comité, insistiu que a prisão de Bhiri é um "sequestro", uma vez que ainda não há motivos legais que justifiquem a medida.
Nesse sentido, adiantou ter apresentado ações na justiça tunisina, quer contra o chefe de Estado, quer contra o ministro do Interior Taoufik Charfeddine, e ainda denúncias em várias organizações internacionais.
Há uma semana, Saied, sem mencionar o nome de Bhiri, afirmou haver "provas desde 2013" que mostram que "algumas" personalidades políticas cometeram "atos de traição e de conspiração com países estrangeiros", crimes que poderiam ser punidos com a pena de morte.
Esses "atos de traição", justificou, não foram julgados em tribunal devido à ausência, na altura, de um sistema judiciário "independente".
Bhiri, vice-presidente do Ennahdha, principal força no Parlamento agora suspenso, foi preso a 31 de dezembro de 2021 por agentes da polícia à paisana, quando saía de casa na companhia da mulher, e foi hospitalizado dois dias depois, na sequência de uma greve de fome para protestar contra a sua detenção.
O seu estado de saúde tem vindo a piorar, uma vez que Bhiri também se recusa a ser medicado para os problemas de saúde de que padece, como diabetes e hipertensão.
Um ex-funcionário do Ministério do Interior, Fathi Beldi, 55, foi preso no mesmo dia por acusações semelhantes e transferido para um local desconhecido, onde ainda não teve acesso à sua defesa, segundo organizações de direitos humanos.
Desde então, os dois responsáveis estão detidos "sem acusações oficiais, sem passar pelo processo judicial habitual e por atos alegadamente cometidos há nove anos", denunciou a Human Rights Watch (HRW), que instou as autoridades a libertá-los "de imediato".
Após declarar o estado de exceção, a 25 de julho de 2021, que incluiu também a demissão do primeiro-ministro Hichem Mechichi, o Presidente tunisino suspendeu a quase totalidade da Constituição de 2014 e muniu-se de plenos poderes para "recuperar a paz social".
Saied e outros responsáveis políticos tunisinos alegam que as medidas constituem uma "retificação" à revolução de 2011, que pôs termo a duas décadas do regime ditatorial de Zin el-Abidine Ben Ali.
JSD // PDF
Lusa/Fim