Carlos Matos Gomes destaca instinto do capitão de Abril em trazer o povo para a revolução

| Política
Porto Canal com Lusa

Lisboa, 25 jul 2021 (Lusa) -- O ex-militar Carlos Matos Gomes destacou o instinto de Otelo Saraiva de Carvalho, que hoje morreu, de trazer o povo para a revolução do 25 de abril, que sem ele teria sido apenas um golpe de estado militar.

"O grande relevo [de Otelo Saraiva de Carvalho] é o de ter tido o instinto de trazer o povo para a revolução, porque senão o 25 Abril teria sido um mero golpe de Estado militar", disse à agência Lusa Carlos Matos Gomes.

Amigo de Otelo desde 1972, quando ambos cumpriram serviço militar na Guiné, o ex-militar e historiador da Guerra Colonial lembrou que foi o capitão de abril que hoje morreu que, logo no dia 26 de abril de 1974, foi "a favor de o povo vir para a rua, de o povo tomar voz e participar no processo político".

"Ele nunca impede, nem nunca impõe a Salgueiro Maia, nem a nenhum dos oficiais envolvidos, que afaste o povo dos locais das operações, com os riscos todos" que tal poderia implicar, acrescentou.

No entender do ex-militar, que com Otelo participou desde o início nas reuniões do Movimento dos Capitães, foi Otelo quem motivou "os portugueses a tomar o destino nas suas mãos", no âmbito de um processo político que, "em Portugal é revelador deste impulso essencial que é trazer o povo para dentro das mudanças sociais e políticas".

Uma postura que Otelo assumiu sempre, "mesmo como as suas contradições", afirmou, destacando-o como "uma figura única na nossa história" e um "líder popular que tem uma ideia e tenta concretizá-la, com erros, porventura com excessos", mas, sem deixar de ser "uma figura ímpar no processo político português e nos processos políticos que ocorrem e que ocorreram na Europa", concluiu.

Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril de 1974, morreu hoje de madrugada aos 84 anos, no hospital militar, disse à Lusa Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril.

Nascido em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.

No Movimento das Forças das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.

Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.

Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por vários atentados e mortes, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado anos depois.

DA (NS) // VM

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