"Geração de ouro" perdeu a sua grande oportunidade, em 2002
Porto Canal
A "geração de ouro" do futebol português perdeu em 2002 a sua grande oportunidade de brilhar num Mundial, ao cair ingloriamente na fase de grupos, perante adversários menos poderosos, e, para piorar, evolvida em atos de indisciplina.
Vinte e seis anos após Saltillo, Portugal voltou a não conseguir sequer chegar aos “oitavos” e saiu, novamente, com a imagem de uma equipa com mau “feitio”, com João Vieira Pinto a ser suspenso por seis meses, por alegado murro a um árbitro, depois de este o ter expulsado, no jogo com a Coreia do Sul.
Campeões mundiais de juniores de 1989 e 1991, os jogadores da apelidada “geração de ouro” (Figo, João Vieira Pinto, Rui Costa, Fernando Couto, Jorge Costa ou Paulo Sousa) não conseguiram, assim “brilhar” num Mundial, como anunciavam, depois de terem deslumbrado, como nunca, dois anos antes, no Euro2000.
Uma entrada sobranceira, face aos Estados Unidos (derrota por 2-3, com 0-3 aos 36 minutos), foi o "princípio do fim", mas muitas outras situações contribuíram para o fracasso, especialmente a ausência da melhor versão de Luís Figo, que se apresentou visivelmente limitado em termos físicos.
Depois do "desastre" inicial, Portugal ainda "ressuscitou" face à Polónia (4-0), graças a um “hat-trick” de Pauleta, mas o Mundial acabou no último jogo da primeira fase, face à anfitriã Coreia do Sul (0-1), num embate em que João Vieira Pinto cedo deixou a equipa com 10. Beto ainda a deixaria com nove.
Os jogadores terão sido os primeiros culpados, mas, de fora, as ajudas foram nulas, a começar por um estágio "tórrido" em Macau - para adaptação a um calor e humidade insuportáveis e inexistentes na Coreia do Sul - e acabar nas decisões do selecionador nacional, António Oliveira.
O técnico, despedido após a prova, abordou mal a estreia, talvez pensando que seria um "passeio", e, pior do que isso, não efetuou, no decorrer desse jogo, as alterações necessárias, deixando, de forma passiva, "afundar" a equipa, ele que tão brilhantemente a tinha conduzido na qualificação.
Depois de uma tranquila vitória sobre a Polónia (4-0), Oliveira também tomou uma decisão polémica no decorrer do último jogo, ao não comunicar aos jogadores que, decorridos cinco minutos, os polacos venciam os norte-americanos por 2-0, resultado que, a manter-se, como aconteceu (3-1), só obrigava Portugal a empatar.
Esse resultado parcial nunca chegou ao campo, onde tudo correu mal: João Vieira Pinto (27 minutos) e Beto (66) foram expulsos, tendo restado nove "gigantes", que quase conseguiram o "milagre", após o golo do anfitrião Ji Sung Park.
Com Vítor Baía em "grande" - três defesas "impossíveis", com a equipa lusa toda balanceada para o ataque -, faltou a sorte, num remate falhado de Nuno Gomes (85 minutos) e num “tiro” de Sérgio Conceição ao "ferro" (89).
A verdade é que Portugal cometeu demasiados erros e, "órfão" de Figo, nunca foi a equipa de uma qualificação brilhante, que terminou sem derrotas (sete vitórias e três empates), deixando pelo caminho a poderosa Holanda.
O líder Figo, autor de dois golos cirúrgicos, com a Holanda (2-2) e em Dublin (1-1), e uma série de fantásticas exibições, a aposta definitiva num ponta de lança (Pauleta marcou oito golos) e uma inquebrável força coletiva, após um Euro2000 de "sonho", valeram o terceiro Mundial.
Importante foi também o regresso de Nuno Gomes, que, após a suspensão, na sequência do jogo das "meias" do Euro2000, apareceu em grande na dupla ronda fora (quatro golos a Andorra e um ao Chipre) e voltou a "faturar", por duas vezes, no derradeiro encontro, sempre vindo do banco.
Mais do que as prestações individuais, Portugal foi "grande" coletivamente, sendo capaz de vulgarizar a Holanda (2-0 em Roterdão) e de reagir a situações de desvantagem (0-2 com a Holanda, nas Antas, e 0-1 em Dublin e Larnaca).